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Seu ‘Antônio Flor’, chaveiro mais antigo de Sena, conta que já foi chamado até pra assaltar um cofre: “Recusei”

Por EDINALDO GOMES, DO CONTILNET

Aos 81 anos de idade, o aposentado Antônio Pessoa do Nascimento, residente em Sena Madureira, é um grande exemplo de dedicação e amor à sua atividade profissional. Conhecido popularmente como “Antônio flor”, ele é considerado o chaveiro mais antigo de Sena Madureira e acumula, ainda, a fama de ser o mais requisitado da cidade.

Antônio flor nunca sentou no banco de uma faculdade. Pelo contrário, estudou somente até a 4ª série primária, mas sempre teve facilidade para assimilar as coisas, especialmente as do seu interesse. “Ainda jovem eu já ajudava meu pai que tinha uma oficina de consertar armas. Nessa oficina, tinha uma gaveta onde muita gente mexia, então, certo dia, achei um cadeado na Rua e coloquei na cabeça que iria fazer uma chave pra ele. Gastei três dias, mas consegui. Foi a partir daí que iniciei minha profissão de chaveiro”, relembrou.

Naquele época, ele desejava muito fazer um curso de chaveiro, mas esbarrava em muitas dificuldades já que nem televisão existia em Sena Madureira. Com o passar dos anos, seu Antônio flor realizou esse sonho, precisamente em 1991. Neste ano, ele fez o curso por correspondência a cargo do Instituto Monitor, de São Paulo. O Diploma é guardado até hoje em sua casa e é exibido como um troféu. “Na verdade, eu já sabia de muitas coisas que foram ministradas, mas o curso foi fundamental, pois aprendi a abrir cofres. Foi um aprimoramento pra mim”, relatou.

Em todos esses anos de profissão, o mais importante chaveiro do vale do Iaco já conseguiu tirar muita gente do “aperto”. “Uma situação que ficou marcada em minha mente foi quando consegui tirar uma idosa que tinha ficado presa dentro do banheiro. Ela fechou o trinco por dentro e ninguém conseguia destravar. Fui chamado e consegui abrir a porta. Porém, tem várias outras ocorrências – pessoas que travam o carro e a chave fica dentro, outras que perdem chaves de motocicletas, da casa, ou até mesmo carros e a gente consegue resolver. Procuro atender a todos até mesmo durante a noite”, frisou.

Seu “Antônio Flor”, chaveiro mais antigo de Sena

PRESENTEADO PELO FREI HEITOR COM UMA MÁQUINA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Quando iniciou suas atividades em Sena Madureira, seu Antônio flor produzia as chaves de maneira artesanal, sem o auxílio de nenhum equipamento de ponta. Essa realidade mudou somente quando o mesmo ganhou uma máquina de chaves do Frei Heitor Turrini que durante muitos anos atuou na igreja Nossa Senhora da Conceição. “Certo dia me encontrei com o Frei Heitor na igreja e ele me perguntou como eu fazia as chaves. Disse que era manual, então ele garantiu que iria trazer uma máquina pra mim de São Paulo. Pensei que tivesse falado brincando, mas realmente cumpriu com sua palavra e trouxe o equipamento. Até hoje a máquina funciona. Sou muito grato a ele”, comentou. Para atender a demanda, outra máquina foi comprada posteriormente pelo chaveiro.

“INFRATORES JÁ ME CHAMARAM PARA ABRIR UM COFRE. ELES IRIAM DIVIDIR O DINHEIRO COMIGO, MAS RECUSEI A PROPOSTA”

Dada a sua habilidade com as chaves, seu Antônio flor revelou à nossa reportagem que em anos anteriores foi procurado por infratores para abrir um cofre com a promessa de que o dinheiro seria dividido entre eles. “Realmente recebi essa proposta, mas recusei. Utilizo minha profissão para fazer o bem, para socorrer as pessoas em caso de necessidade, não para cometer crimes”, atestou.

Apesar da idade avançada (81 anos), o mesmo todos os dias se encontra trabalhando em seu estabelecimento, situado no Bairro do Bosque. “Vou exercer minha profissão de chaveiro até o dia em que Deus me chamar”, sintetizou.

Indagado se vem repassando os ensinamentos para alguém da família substituí-lo, Antônio Flor disse que estava treinando um sobrinho, entretanto, este optou por cursar medicina.
Antônio Pessoa do Nascimento não tem filhos. Ele era casado há 50 anos com dona Zilda Aquino do Nascimento que faleceu neste ano vítima da covid-19.

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