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Agora vai: Petecão passa a fazer dupla com Zamir Teixeira

Por TIÃO MAIA, PARA CONTILNET

“Zamir Teixeira articula e senador Petecão viabiliza aprovação”. Em letras garrafais, esta é a manchete do jornal digital “Impacto PR”, editado em Curitiba (PR), por um velho conhecido da política acreana: Zamir José Teixeira. Mistura de político e empresário, Teixeira, ou o “Cumpadre Zamir”, como ele se apresentava, apareceu no Acre após deixar um mandato de vereador por Campo Mourão, município essencialmente agrícola situado no centro-oeste do Paraná, em meados da década de 80, para tentar ser político no Acre e a história revela que ele quase conseguiu.

Numa época em que a miséria local parecia bem maior que a dos dias atuais, depois de distribuir sacolões de comida e roupas usadas às populações miseráveis, ele quase chega ao Senado da República, pelo então MDB. Para um paranaense que teria fugido de sua cidade dentro de um caixão fingindo-se de morto – para não pagar dívidas, diziam seus adversários, no Acre, Zamir José Teixeira revelou-se vivo o suficiente até para ambicionar o Governo do Estado ou o Senado da República. Ao ser eleito primeiro-suplente de senador nas eleições de Senador, ele bateu na trave de seu sonho de poder.

Em 1986, a legislação da época – na segunda eleição para governos e Senado após a redemocratização iniciada em 1982, permitia a inscrição de várias candidaturas ao Senado pelo mesmo partido. A legislação estabelecia que poderia haver até duas chapas, com cada uma tendo três candidatos, com o segundo e o terceiro mais votados sendo, automaticamente, o primeiro e o segundo suplentes do eleito, diferente do que é hoje, quando o candidato ao Senado, ao registrar sua candidatura, apresenta, pela ordem, seus dois suplentes.

Na época, com a eleição de Nabor Júnior, o terceiro mais votado foi o advogado Emílio Assmar, já falecido, que também concorreu pelo MDB. O segundo senador da outra chapa, que tinha Aluízio Bezerra, Ruy Lino e Natalino Brito, o eleito foi o primeiro.

Para Nabor Júnior, a eleição de Zamir Teixeira como primeiro suplente foi um inferno para o titular do mandato. É que, ao longo de oito anos de seu primeiro mandato, Nabor Júnior, volta e meia, se via sob cuidados do serviço reservado do Senado, avisando-o de que Zamir tramava sua morte para, enfim, assumir o mandato no Senado. Ele havia fundado uma fundação com o sugestivo nome de “Mamãe Kiola”, alusão ao nome da mãe do então presidente da República, José Sarney, de cuja família se jactava de ser amigo. Também se jactava de ter como comadre ninguém menos que Jacqueline Kennedy Onássis, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos, viúva do presidente John Kennedy, assassinado em 1963. Uma comadre em dose dupla, já que Madame Kennedy, como ele dizia, era madrinha de seus filhos gêmeos, Kenedy e Onássis, cujos nomes eram homenagens aos dois maridos da ex-primeira dama americana, já que ela contraíra segundas núpcias com o armador grego Aristóteles Onássis, em 1968, um dos homens mais ricos do mundo, na época.

Ao saber que seu amigo e compadre senador Nabor Júnior corria risco e vida, o então prefeito de Rio Branco, Adalberto Aragão, um sertanejo de Sobral (CE) e conhecido pelo estilo hoje conhecido como “sincerão” e que beirava a grosseria chula, chama o suplente de senador às falas numa mesa de carteado do Rio Branco Futebol Clube. Cercado de homens maus encarados e que depois entrariam para a lista dos matadores do chamado “Esquadrão da Morte” que horrorizou o Acre até os anos 2000, depois de uma reprimenda com direito a todos os palavrões que aprendera na vida sertaneja do interior cearense, Aragão diz a Zamir o seguinte recado, segundo me confidenciaram fontes que assistiram a cena:

– Olhe, seu Zamir: seja o senhor quem diabo for, sendo compadre até da mãe do cão, tenho a lhe dizer o seguinte: se acontecer alguma coisa com meu amigo Nabor, na sua casa não vai sobar nem pinto, se o senhor criar galinha. Preste atenção!

Pelo sim ou pelo não, Nabor Júnior cumpriu o mandato e até conseguiu um segudo, nas eleições de 1994, quando foi eleito ao lado da petista Marina Silva, no que parecia uma eleição improvável, adupla Ma-Na (de Marina e Nabor). A outra chapa, que deveria se chamar Na-Na (de Narciso Mendes e Nabor), ficou pelo caminho, com um triste terceiro lugar.

Mas, antes das eleições de 1994, lá estava Zamir Teixeira de novo no centro da ribalta da política brasileira, nas eleições de 1989, para a presidência da República. Na eleição que consagraria presidente o alagoano Fernando Collor de Melo, disputando o segundo turno com Luis Inácio Lula da Silva, com 25 candidatos na disputa, entre os quais pesos pesados como Ulysses Guimarães, Mário Covas, Robero Freire, Fernando Gabeira e outros, Zamir Teixeira chegou em 15° lugar, com 187.155 votos – ou seja, 0.27 do eleitorado nacional.

Ele fazia parte de um grupo que fiou conhecido como micro-candiatos, um grupo de pessoas sem a menor chance de eleição mas que, no entanto, estava no páreo. Entre eles outro acreano, Eneas Carneiro, nascido em Rio Branco mas que fez carreira profissional e política em São Paulo, que ficou conhecido pelo bordão “Meu Nome Enéas”, num programa eleitoral de rádio e TV de apenas 17 segundos. O outro não menos folclórico era o policial civil aposentado por São Paulo José Aparecido “Marronzinho”, que teria aparecido em campanha por Rio Braco e aqui dado alguns cheques sem fundos em bares da cidade. Mas, entre os folclóricos, Zamir Teixeira, com seu porte de lorde inglês – apesar do óculos fundo de garrafa, parecia o menos pior, na visão do eleitor da queles tempos.

Depois de tais peripécias, Zamir Teixeir sumiu do Acre. Voltara para São José dos Pinhais, na grande Curitiba, onde abrira um brechó para a venda de roupas usadas e tentaria alavancar a carreira artística dos irmãos Kenedy e Onássis, agora convertidos em dupla sertaneja. Ao que parece, nenhum dos dois negócios deu certo e ele voltara para Brasília, de onde, como lobista, tentou emplacar mais um de seus projetos faraônicos: uma estrada de ferro ligando o Acre e ao Peru.

Quando os acreanos pareciam conformados com a ausência deste aventureiro e seu anti-herói, cuja referência local são as duas estátuas de Cristo, miniaturas do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, em Rio Branco, na entrada do bairro Papôco, e em Sena Madureira, no bairro do Cristo Libertador, eis que ele reaparece em carne, osso e novas loucuras.

Seu jornal “Impacto PR” traz a informação da existência de parceria entre ele e o senador Sérgio Petecão (PSD-AC) em relação a projeto de lei que beneficiaria professores com isenção de Imposto de Renda. “Juntamente com o ex-senador constituinte Zamir José Teixeira, que propõe isentar de Imposto de Renda (IR) a remuneração de professores de todos os níveis”, diz trecho da reportagem sobre o projeto citando Petecão.

De acordo com a publicação, os parlamentares do PSD, partido de Petecão, estão esperando que a medida contribua para o cumprimento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) e para a valorização salarial desses profissionais da educação.

Para Zamir Teixeira este projeto tem tudo para solucionar o problema educacional brasileiro, através da intervenção pública dos senadores, e cabe ao poder público instrumentalizar mecanismos incentivadores de adesão ao magistério, aliviando os tributos dos mestres do Brasil e melhorando a remuneração da classe “Nossa ideia é beneficiar os professores ora em efetivo exercício e incentivar o maior número possível de pessoas a migrar para o magistério”, diz o ex-primeiro suplente de senador pelo Acre que nunca exerceu o mandato por um só dia mas que, ainda assim, apresenta-se como “senador constituinte” pelo Acre.

Procurado pela reportagem do ContilNet, o senador Sérgio Petecão não respondeu aos questionamentos sobre sua nova parceria política.

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