Ícone do site ContilNet Notícias

As finanças do céu: a milionária rede dos Legionários de Cristo em um paraíso fiscal

Por EL PAÍS

Missa pelos legionários em Roma no dia 25 de fevereiro de 2014. RICCARDO DE LUCA (AP)

Os Legionários de Cristo não estão acostumados a falar sobre dinheiro. Dentro desta congregação católica, uma das mais ricas do mundo, poucos são os que conhecem o tamanho de seu império econômico. Os Pandora Papers, o último vazamento a que o Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ) teve acesso, abre uma janela para as finanças do céu: os mais altos escalões da ordem religiosa criaram na última década uma opaca rede de fundos fiduciários e subsidiárias que operam em um paraíso fiscal sem deixar rastros de quem está por trás disso.

Sacerdotes e empresários próximos à instituição criaram entre 2010 e 2011 um intrincado esquema que em poucos anos acumulou mais de 295 milhões de dólares (1,6 bilhão de reais) em ativos com investimentos em setores como imobiliário, de tecnologia e petrolífero. A Legião admite ter criado parte da estrutura para “receber donativos”, mas negar ter controle sobre os fundos fiduciários usados para investir em cerca de trinta empresas. A milionária estrutura financeira foi criada durante a intervenção do Vaticano há uma década. Os escândalos de abuso sexual e as finanças opacas dos Legionários de Cristo vinham fermentando durante anos como um coquetel explosivo que finalmente saltou pelos ares. As manchetes dos jornais em todo o mundo se acumulavam às dezenas. Tiveram que limpar a casa e, em julho de 2010, o papa Bento XVI iniciou uma investigação. O escolhido para a missão foi o cardeal Velasio de Paolis, então responsável pelas finanças do Vaticano e homem de confiança do pontífice. Ele teve que sanear a congregação e pôr ordem em um enorme patrimônio financeiro. O processo durou dois anos e meio, e o relatório final prometia a renovação da instituição. Os Pandora Papers agora revelam que, enquanto se gabavam de ter a casa limpa, eles montaram um esquema para absorver dinheiro por meio de três fundos fiduciários na Nova Zelândia. Um destino regular para quem queria fugir dos impostos sobre riqueza.

Em 6 de julho de 2010, três dias antes da nomeação pública de De Paolis, quando o papa já havia notificado a Legião internamente sobre o nome do controlador, a congregação abriu um fundo fiduciário irrevogável (um tipo de estrutura que não pode ser modificada ou encerrada sem a permissão do beneficiário, neste caso, a Legião de Cristo). A entidade, chamada The Retirement and Medical Charitable Trust (fundo fiduciário médico e de aposentadoria, RMCT), estada formatada para “arrecadar doações e fazer investimentos” e, com esse dinheiro, “ajudar financeiramente aposentados, deficientes mentais ou feridos em algum acidente”, de acordo com a ata de criação. Por trás da fachada de beneficência, no entanto, havia uma estrutura composta por dois outros fundos fiduciários que investia milhões de dólares a cada ano em um portfólio exótico demais para uma congregação conhecida por sua doutrina conservadora.

Leia mais em El País, clicando AQUI.

 

Sair da versão mobile