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Jogadores negros foram protagonistas nos 5 títulos mundiais da seleção

Por NOTÍCIAS AO MINUTO

© Pelé 80 anos: vida longa ao rei do futebol

No mês de celebração da Consciência Negra, cuja data oficial é neste dia 20, o Brasil conquistou sua vaga para a Copa do Mundo de 2022, no Qatar.

Único a disputar todas as edições do torneio, o país buscará a sua sexta conquista na competição. Em suas cinco conquistas, sempre teve jogadores negros de destaque, derrubando uma tese criada em 1954, segundo a qual a miscigenação era responsável pela falta de controle psicológico da seleção diante de equipes europeias e, por consequência, pela carência de títulos mundiais até então.

Na Copa de 1958, na Suécia, o selecionado liderado por Pelé e Garrincha foi o primeiro a dissolver os argumentos racistas, que ganharam forma após a disputa da edição anterior do Mundial, quando o então chefe da delegação canarinho, João Lyra Filho (1906-1988), fez um relatório sobre o desempenho do Brasil.

No documento, o advogado e dirigente esportivo elenca uma série de argumentos para justificar mais um insucesso do país e traça paralelos entre a equipe e o povo brasileiro e expõe a questão da miscigenação como fator principal para a seleção não ser competitiva.

O cartola critica o que chama de valorização do improviso e do “feitiço da exibição”, características que ele credita a negros e mestiços, e que seriam incompatíveis com a obediência tática vista em times europeus.

Pois seriam justamente as habilidades desprezadas por João Lyra Filho que fariam não só Pelé e Garrincha, como Djalma Santos, Didi, Jairzinho, Romário, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros craques negros alguns dos protagonistas nas Copas de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002, que fazem o Brasil ser o país com mais títulos mundiais na história.

“Isso mostra a pluralidade do futebol, a diversidade, essa diferença que o futebol brasileiro tem em relação a outros futebóis que são jogados pelo mundo. Essa diferença se dá pela entrada do jogador negro, se dá porque o jogador negro traz para o futebol essa dificuldade de jogar num campinho de terra, com buracos, e traz esse gingado do samba, da capoeira, toda essa diversidade”, diz o diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho.

De acordo com Carvalho, porém, o sucesso protagonizado por jogadores negros fez a sociedade esquecer o passado racista do esporte desde sua chegada ao Brasil, sobretudo na história da equipe canarinho.

“A seleção sempre foi vista como um espaço democrático, de afirmação de jogadores negros, mas não se discute que a entrada de jogadores negros nesse espaço passou também pelo racismo”, afirma.

Em 1920, por exemplo, o Brasil foi à Argentina disputar um amistoso. Na chegada, o elenco foi recebido com uma charge racista, publicada no jornal Crítica. Na imagem, os brasileiros eram retratados como macacos, com o texto: “Já estão os macaquitos em terras argentinas. Esta tarde teremos que acender a luz às 4 da tarde para vê-los.”

O fato revoltou parte da delegação, e alguns jogadores se recusaram a jogar. Poucos meses após o fato, em 1921, os brasileiros voltariam à Argentina para disputar o Sul-Americano. Em vez de uma condenação ao racismo sofrido, o que se viu foi um dos episódios mais tristes da história da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Por uma recomendação do presidente da república na época, Epitácio Pessoa, que se reuniu com cartolas da entidade, apenas jogadores brancos foram convocados sob a justificativa de preservar a reputação do país no exterior.

Na época, a CBD negou a interferência do presidente. Epitácio Pessoa também nunca admitiu, mas é fato que o principal jogador brasileiro da época, Arthur Friedenreich, estava fora. “A gente pode não achar documentos, mas nosso maior jogador [Friedenreich] era mestiço e não foi convocado. Então aquilo aconteceu”, diz Carvalho.

Quase três décadas depois, na Copa de 1950, o Brasil foi derrotado em casa no jogo final pelo Uruguai, episódio que ficou conhecido como o Maracanazo. Na época, o goleiro Barbosa foi apontado como o grande vilão. Ele fora acusado de falhar na final, principalmente no segundo gol, marcado pelo uruguaio Ghiggia.

Além do goleiro, os defensores Bigode e Juvenal foram apontados na época como culpados. Coincidência ou não, os três jogadores mais lembrados pelo fracasso eram negros ou mestiços.

Somente após a vitória em 1958 e a seguinte em 1962 é que parte da imprensa brasileira reconheceu o impacto das narrativas disseminadas em 1950.

O jornalista Mário Filho (1908-1966), por exemplo, lançou uma nova edição do livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, lançado originalmente em 1947.

Na nova versão, ele reconhece que a derrota em 1950 “provocou um recrudescimento do racismo” no país a despeito da análise que fazia na versão anterior, ao apontar uma visão “otimista a respeito da integração racial”.

“Nós demoramos a revisitar esses episódios por essa falsa ideia de o futebol ser um espaço democrático”, afirma o diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

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