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Prematuridade: só o amor salva

Por ULISSES LIMA*

Em 2021, Benjamin veio ao mundo pesando 776 gramas, com 25 semanas de gestação e medindo um pouco mais que uma folha A4 — um bebê prematuro de extremo baixo peso. Quando isso acontece, o parto não acaba ali, ele continua por um longo período. No caso dele, já são 260 dias de internação hospitalar. O útero quentinho, escuro e molhado da mãe deu lugar a uma incubadora repleta de fios, aparelhos e luzes.

Em 1963, o terceiro filho do então presidente americano John F. Kennedy, Patrick, morreu após nascer prematuro e adquirir uma doença chamada de “síndrome do desconforto respiratório”. Após a tragédia, o governo americano passou a financiar estudos na área. O avanço nos cuidados neonatais, na década de 70, foi fundamental para que Benjamin sobrevivesse em 2021, no Acre.

O drama da prematuridade não é novo, e a geração passada, que tinha mais filhos que a de hoje, distingue bem o “tive 6 filhos” do “criei 4”. Novas são as possibilidades de suporte à vida através de aparelhos respiratórios, antibióticos e os surfactantes — fundamentais para prevenção e tratamento de problemas respiratórios.

Benjamin está há 260 dias em internação hospitalar/Foto: arquivo pessoal

Mas nada desses recursos, fruto de muita pesquisa científica e médica, seria suficiente sem o maior ingrediente dessa receita: o amor dos cuidadores. Neonatologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, roupeiros e serviços gerais. Todos, sem exceção, precisam fazer muito bem seu trabalho, para que a vida ganhe o jogo contra a morte.

Benjamin teve isso. Todos jogaram ao seu lado, sofreram junto com ele nas baixas e vibraram com ele nas conquistas. Rezaram, oraram, suplicaram — mas sempre fazendo muito em favor da sua sorte. Deu certo. Hoje ele pesa 7.500 gramas, está se desenvolvendo bem, e acaba de sair da dependência de oxigênio suplementar.

A propósito, 12% de todos os partos no Brasil são prematuros, e isso não é pouca coisa. 12% de nossas crianças necessitam de uma UTI ao nascer. UTI com respiradores, remédios e, principalmente, amor. Crianças que nascem prematuras necessitam de um longo acompanhamento neonatal — profissionais altamente qualificados que fazem toda a diferença no bom desenvolvimento e, consequentemente, na maior qualidade de vida desse novo ser. Elas também demandam mais exames específicos, além de terapias, de acordo com a necessidade individualizada.

Benjamin conta com a ajuda de neonatologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, roupeiros e serviços gerais e seu pai considera isso fundamental/Foto: arquivo pessoal

Em um país em que se tem aumentado, dia a dia, a insegurança alimentar básica, uma demanda como esta, tão alta, torna-se brutal para a maioria das famílias. Se pensasse minimamente no futuro, esse mesmo país deveria ter um olhar atento ao que acontece em uma maternidade. Nossos futuros governadores, deputados, professores, médicos, enfermeiros, podem estar nascendo nesse momento — prematuramente.

Tal qual John Kennedy, ninguém passa incólume pela prematuridade. Depois dessa experiência, passa-se a olhar a vida pela ótica de fazer o que estiver ao seu alcance, para que outros Benjamins — também — recebam seus milagres.

*Ulisses Lima | Jornalista | Pai do Benjamin

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