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Arte, resistência e política: Moças do Samba comemora 8 anos com lançamento do primeiro EP

Por NANY DAMASCENO, DO CONTILNET

Narjara Saab, Sandra Buh e Carolina Di Deus. O trio que criou o Moças do Samba, em 2013, agora dá mais um passo largo na carreira e lança, no próximo dia 18, o primeiro EP: ‘Feminina Voz do Samba’. Além de ser o primeiro registro do grupo, é também o primeiro de mulheres sambistas no Acre. Aliás, foram elas que abriram as portas para que as mulheres sejam inseridas e, principalmente, respeitas no meio sambista do estado.

O evento de lançamento ocorre a partir das 19h, na Usina de Arte João Donato. Ao se posicionar como o primeiro grupo feminino de samba no Acre, o Moças do Samba rompe uma grande barreira: a de ser protagonista em um ambiante predominantemente masculino como é o meio sambista.

Sem dar moleza para o machismo, elas seguem há 8 anos existindo e resistindo. Tendo como foco a pesquisa, o protagonismo feminino e nas causas afro, elas misturam o samba, a política e as artes nos palcos pelos quais já passaram.

Para Sandra Buh, que além de cantora é atriz, a gravação é uma conquista. Um novo passo para o Moças do Samba. “Quado começamos, a gente só queria aprender, estudar, conhecer o samba mesmo, então é maravilhoso. Olha onde a gente chegou? conseguimos gravar nosso primeiro EP!”, comemora.

Ao longo dos anos foram muitos os embates externos e internos, comentários com preconceitos velados que colocavam à prova seus talentos e capacidades, que por mais que elas tenham se mantido firmes, houve momentos de desânimo pelo meio do caminho. “Houve vários momentos em que uma quis desistir por conta da pressão desse meio que é muito exigente da mulher, tenos que ser boas desde o início, provar o tempo inteiro que somos boas”, confessa Narjara.

Mas ao mesmo tempo em que as críticas ameaçaram a carreira do trio, elas também impulsionaram chegar até este momento de celebração. “Mas foi bom, porque chegamos no momento certo, com a maturidade certa. Chegou a pandemia e começamos a conhecer as tecnologias, fazendo as lives, até que a Carol teve a ideia de a gente registrar. E acho que ela teve essa ideia no momento certo, em que nos sentíamos prontas”, diz Narjara, completando que tem muito orgulho de, ao lado de Sandra e Carol, serem as primeiras mulheres a gravarem um EP de samba no Acre.

Carol Di Deus descreve a gravação do EP Feminina voz do samba como o reflexo da força e resistência do grupo e a abertura de um novo caminho. “Acho que a gravação do EP materializa esse caminhar de 8 anos do grupo, algo que não imaginávamos acontecer e que traduz esses 8 anos de persistência e resistência em um meio (o samba) onde há predominância da figura masculina. Caminhamos até aqui, resistindo aos muitos obstáculos e sabemos que muito há de caminhar, mas esse EP é reflexo dessa resistência, da persistência, da nossa união e do amadurecimento do grupo… quando imaginávamos há 8 anos atrás que hoje estaríamos lançando um EP? O primeiro EP de um grupo protagonizado por mulheres no Samba do Acre e ainda com patrocínio do Banco da Amazônia, nossos corações estão transbordando de alegria!”.

Sandra Buh (à esquerda), Narjara (centro) e Carol de Deus (direita) são as ‘Moças do Samba’/Foto: divulgação

O ‘Feminina Voz do Samba’ traz 9 canções, a maioria composta por Narjara, outras são parceria de Antônio Carlos Nascimento , maestro do grupo, e da poeta paulista Nina Rocha. Para a cantora e compositora, chegar a esse momento da carreira 8 anos depois é a realização de um sonho que elas nem sabiam que cultivavam.

Narjara relembrou o início de lutas, internas e externas, onde só de subir no palco e conseguir se apresentar, era a grande vitória. “Chegamos onde não pensávamos. Foram muito preconceito, muita piadinha, muito desestímulos, que tenho certeza que foi pelo fato de sermos mulheres e hoje quando vemos teatros lotados e pessoas voltando porque não conseguem entrar, ainda é surreal”, confessa Saab.

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