O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) virou uma espécie de negociador eleitoral do pai, o presidente Jair Bolsonaro, nas costuras de alianças para a eleição de 2022. Nesse papel, Flávio participou das discussões mais detalhadas e reservadas com o Partido Liberal (PL) e agora vai avançar com outros partidos. Um dos que está na mira de Flávio é o PROS. O senador também quer destravar a relação com o União Brasil, junção do DEM com o PSL.
Na diplomacia, a função precursora desempenhada por Flávio é conhecida pelo jargão de “sherpa”. O termo deriva dos guias que conduzem alpinistas em escaladas nas montanhas no Nepal e que abrem os caminhos e carregam a carga de expedições.
Flávio se aproximou de Eurípedes Júnior, o presidente nacional do PROS. Num telefonema, convidou o cacique do PROS para a cerimônia de filiação de Bolsonaro ao PL, mas ele disse que estava fora de Brasília e não chegaria a tempo.
O partido é uma das legendas que costuma se comportar como parte do Centrão no Congresso, mas se aliou a candidaturas do PT nas últimas duas eleições presidenciais. Em 2014, apoiou a então presidente Dilma Rousseff e, em 2018, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
“O PROS é um partido que está votando tudo com a gente”, disse Flávio.
Flávio também quer rediscutir as chances de aliança com o União Brasil. Próceres da legenda, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, rejeitam em público apoiar Bolsonaro e discutem uma candidatura própria ou alternativa na terceira via, mas a maioria dos parlamentares admite apoiar Bolsonaro, como mostrou o Estadão.
“Agora é a política, vamos sentar para conversar. A gente tem candidatos em todos os Estados, mas essa aliança vai fazer com que a gente discuta um por um para ver, onde puder caminhar juntos vamos estar. O Neto sempre teve essa boa vontade do presidente, mas nunca foi recíproca, explícita essa boa vontade de caminhar juntos”, afirmou o senador.
A cúpula do Centrão estava à mesa na cerimônia de filiação do presidente ao PL, com os caciques do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), e do Progressistas, ministro Ciro Nogueira (Casa Civil). A presença é um esboço do que seria o núcleo duro da aliança rumo a 2022, mas há pendências a serem resolvidas, como a disputa pelo cargo de vice.
Pessoas com acesso às conversas dizem que Flávio encaminha discussões como montagem de palanques e de chapas regionais, para candidaturas a deputado, senador e governador. Também cuida de interesses como o controle de diretórios. É o presidente Bolsonaro, porém, quem bate o martelo.
Flávio fez conversas prévias com Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL. Ele levou projeções de cálculos votos, para verificar as chances de reeleição de deputados que ingressarão no PL e dos que já estão na sigla, por exemplo.
O senador disse ao Estadão que ainda não há acordo sobre o rateio do fundo eleitoral entre parlamentares do PL e os que ingressarão na legenda pelas mãos de Bolsonaro. A chefe do cofre, pela lei, é da direção nacional, controlada por Costa Neto.
A legenda deve ter cerca de R$ 120 milhões do fundão à disposição. A tendência, segundo Flávio, é que o comando do PL privilegie os que demonstrarem mais chances de se eleger. “Não tem dinheiro para todo mundo”, disse o senador.
Também parte de Flávio a linha mestra dos discursos para a base bolsonarista. Ele foi o responsável pelo tom mais agressivo contra pré-candidatos rivais, como Sérgio Moro (Podemos) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Flávio chamou Moro de “traidor” e Lula de “ladrão” e “ex-presidiário”, quando estava no palco ao lado de Valdemar Costa Neto, que foi condenado e preso no mensalão quando era base do governo petista. Ao Estadão, porém, Flávio já havia antecipado que considera o passado do mandachuva do PL somente uma “cicatriz”.