O ator e diretor de teatro Francisco Ferreira do Nascimento, nascido no seringal Campo Esperança, zona rural de Rio Branco, morreu, aos 55 anos, nesta sexta-feira (10), depois de uma longa luta contra um câncer de medula. Seu corpo está sendo preparado para sepultamento neste sábado (11).
Paulo Nascimento, nome artístico que adotou, era um acreano com a típica história de homens nascidos na floresta, criado até a adolescência em seringais e colônias até migrar para a periferia da Capital, em busca de melhoria de vida. Filho de Raimundo Ferreira do Nascimento e de Maria Rita do Nascimento, ele migrou coma família para a cidade em 1976, vindo morar no Bairro XV, no Segundo Distrito da Capital. Na época, tinha apenas o 4° ano primário e realizou o sonho de continuar os estudos com muita dificuldades, tendo que trabalhar muito para conseguir a sobrevivência juntamente com a sua mãe e irmãos. Trabalhou inicialmente no calçamento de ruas, atividade na qual sofreu um acidente e quebrou uma perna, obrigado a ficar internado durante alguns meses no Hospital de Base. Foi tratado pelo médico ortopedista Wilson Queiroz, também já falecido. Ficou sete meses com a perna engessada e viria mais provações.
Sem trabalho, conseguiu se estabelecer com uma pequena venda de bribotes num pedaço de calçado do mercado municipal do Bairro XV, uma cortesia do antigo administrador do local. Trabalhava duro, todos os dias, das 17horas até às 23h, vendendo todo o todo tipo de comida no oficio de cozinheiro que aprendeu com uma mestra da área, dona Maria Pretinha, a qual trabalhava como cozinheira fazia muito tempo.
Mas ele sabia que o Bairro XV e o ofício de cozinheiro, por mais nobre que fosse, eram pequenos para ele. Matriculou-se então num curso de recepcionista de hotel e, ao final do estágio, já começou a trabalhar no Hotel Inácio. A condição de empregado do setor hoteleiro o permitiu voltar à estudara, fazendo o supletivo 1° grau no Sesc (Serviço Social do Comércio). Ali travou contato com a comunidade artística local e matriculou-se num curso de teatro com o pessoal da Federação de Teatro do Acre (Fetacre). O filho de seringueiro que virou ajudante de pedreiro e cozinheiro iria subir aos palcos, mas a vida continuava a lhe pregar peças e o perigo da morte o espreitava.
Na virada do ano de 2006 para 2007, sofreu um assalto na região da Gameleira. Ferido, ficou à beira da morte. Na época, trabalhava pelo interior, em vários municípios, ministrando oficina de teatro, mas, doente e acamado, passou muitas dificuldades mas conseguiu sobreviver com a ajuda dos muitos amigos que soube cultivar ao longo do tempo.
Mas a morte e o perigo continuavam o espreitando: em 2014, a casa em que morava e onde também funciona a sede da companhia de Artes Camalearte, que ele dirigia, de uma hora para outra, misteriosamente, pegou fogo. Tudo o que tinha, virou cinzas.
A partir daí, de novo, precisou da ajuda dos amigos para sobreviver, e teve que morar de favor. Passou a ser revendedor da na Natura e O Boticário, para sobreviver. Mas a morte e o perigo não o perdiam de vista: foi quando foi diagnosticado com câncer e hepatites. A dor, sua velha conhecida, estava de volta.
Nesta tarde de sexta-feira, a morte, enfim, vencera um homem cuja principal característica era a alegria de viver, apesar de tanto sofrimento. Que vá em paz, Paulo! .