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Reforma do estádio, grupo bilionário e venda de ações: veja história de clubes salvos por torcedores

Por GE

Torcida do Union Berlin faz a festa na alemanha — Foto: REUTERS/Hannibal Hanschke

Em tempos de clubes sendo comprados por grandes ídolos, como o Cruzeiro, ou por investidores bilionários, caso do Newcastle, o ge separa histórias de times que foram adquiridos por seus próprios torcedores. Ou que foram salvos de falência pelos seus fãs em ações de puro amor. Casos de Union Berlin, na Alemanha, Crystal Palace, na Inglaterra, e Oviedo, na Espanha.

Os torcedores do clube alemão organizaram eventos na sede da equipe: doações de sangue para arrecadar dinheiro, uma festa natalina para apoiar os jogadores contra o rebaixamento e até fizeram trabalho voluntário para reformar seu estádio. O time inglês enfrentou dificuldades financeiras por acúmulo de dívidas até que um grupo de torcedores bilionários comprou o clube e reestruturou até levá-lo a tão sonhada Premier League. O espanhol vendeu ações em uma campanha que movimentou mais de 30 mil pessoas ao redor do mundo – inclusive torcedores rivais. Conheça um pouco mais de suas histórias…

Union Berlin – Alemanha

O Union Berlin existe desde 1966 com o nome atual, mas surgiu do SC Olympia 06 Oberschöneweide, fundado em 1906, que chegou a jogar na primeira divisão alemã. A equipe é conhecida pela história de resistência ao modelo político autoritário da época, a RDA (República Democrática Alemã), além de ser rival do Dínamo de Berlin, ligado ao regime nazista. A torcida tem papel crucial na ascensão do time que chegou à Bundesliga em 2019 e disputa a Uefa Conference League neste ano.

– A verdade é que a cidade é dividida em duas comunidades. A do Hertha Berlim e a do Union. É uma rivalidade saudável e na época tinha o muro também que separou as famílias. O Union fica no lado mais da classe trabalhadora. Um clube que os torcedores ajudaram a construir – comentou Sílvio, atacante que jogou no clube em 2011.

Crystal Palace – Inglaterra

A equipe passava por dificuldades financeiras há oito anos. A empresa que adquiriu o clube estava quebrada e o banco dono da equipe entrou em processo falimentar. Steve Parish, bilionário e torcedor do Palace, escreveu um apelo em um blog para salvar o time. Posteriormente, criou um consórcio, buscando outros torcedores para comprar o Crystal Palace. Ele, Stephen Browett, Martin Long e Jeremy Hosking compraram o clube e tentaram adquirir o estádio em uma reunião com o banco. Mais de três mil fãs do Crystal Palace protestaram do lado de fora do Lloyds Bank para que a venda do estádio se concretizasse. Assim, o grupo de investidores conseguiu adquirir o clube e dividir as ações entre os quatro. Parish assumiu a presidência na época e segue no comando atualmente.

– O Parish é bem jovem, visionário de futebol e torcedor do Palace e era um cara bem presente no clube. Falava bastante com os jogadores. Pelo menos uma vez na semana ele estava no CT com a gente, o que é incomum lá na Inglaterra. Ele reestruturou a equipe com o grupo de torcedores, deu uma nova cara e quando eu cheguei lá vimos as mudanças de estrutura pra chegar à Premier League. Ele realmente falou com os jogadores sem o técnico Ian Holloway saber e gostava de passar pra gente o que ele pensava do projeto. Tinha uma relação ótima, inclusive depois do acesso ele pagou uma viagem pra mim e pros meus pais para comemorarmos lá no Sul da Espanha – comentou André Moritz que jogou pelo clube em 2012.

A comunidade do sul de Londres apoiou os investidores e a equipe formada na reestruturação e na tentativa de retornar à Premier League.

– A torcida do Crystal Palace é das mais fanáticas. Todos os jogos em casa lotava. É uma cultura diferente, tivemos os 14 jogos invictos e depois vivemos altos e baixos e a torcida eram completamente fanáticos e otimistas que daria certo no fim. Na Inglaterra não tem a concentração de ir pra hotel, chegar de ônibus e tudo mais. Lá cada um chega no estádio com seu carro e no Palace estacionávamos no meio da torcida. E caminhávamos por um túnel no meio dos torcedores. O que mais me marcou lá é que sempre tinha mais torcedores esperando por nós na saída nos jogos que perdíamos ou empatávamos, e não era pra cobrar. Era para apoiar mesmo. Sempre incentivando e jogando a gente pra cima. A torcida teve parcela muito grande na ascensão. Sempre indo no CT. Toda terça mandavam camisetas e bolas e era mais de 30 minutos só de autógrafos nos itens enviados pelos torcedores. Mais de 200 ou 300 camisas, sem dúvida. A torcida abraçou o clube de uma forma que não vi em nenhum outro no mundo – afirmou André Moritz.

Festa da torcida do Crystal Palace em Wembley — Foto: Divulgação/Crystal Palace

Parish e o seu consórcio ascenderam com o Palace à primeira divisão, após duas temporadas no comando das “Águias”. A equipe subiu nos playoffs da temporada de 2012 e segue na Premier League até os dias atuais.

– Pra mim o futuro do futebol é clube-empresa e fazer o que eles fizeram no Palace é raro demais. O grupo de torcedores comprar e investir, dedicar tempo e a vontade de fazer dar certo, muito difícil de acontecer novamente. O exemplo do Palace é algo a ser seguido, mas aquele espírito de gestão e o investidor que era o Parish é difícil de achar. Ele vive pra isso e bota o coração no Palace. Eles reestruturaram e botaram a cara em tudo – completou o meia.

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