Dois apartamentos de David Bowie em Nova York se tornaram icônicos. Bem, tudo vira icônico num raio (literalmente) de poucos metros dentro do planeta Bowie. Não ia ser diferente em seu habitat. Um dos imóveis, com 1.500 metros quadrados, localizado no Soho, foi vendido em julho do ano passado por quase US$ 17 milhões (cerca de R$ 102 milhões na cotação de 2022). O outro fica na região central de Manhattan. Lá ele morou por dez anos , entre 1992 e 2002, com a mulher, Iman. Mais “modesto”, tem 174 metros e vista para o Central Park. Foi comprado em 2017 por chineses que desembolsaram US$ 6,5 milhões (R$ 39 milhões). De bônus, levaram o piano de cauda que o músico tocava na sala de estar.
Quase dez anos depois o apartamento de três quartos entrou no mercado de aluguéis. O piano saiu de cena, assim como o quarto do pânico que Bowie montou no banheiro da suíte . Foi nesse ponto da história que o um casal de brasileiros — que mora no Rio, trabalha com cinema e prefere não se identificar — se apaixonou pelo imóvel e o escolheu como pouso em temporadas novaiorquinas.
O pouco de Bowie que lá restou foi mantido no projeto de decoração encomendado à cenógrafa Gigi Barreto, da CasaVidaCenário, e ao escritório de arquitetura idipi. Os novos moradores queriam se sentir em casa quando lá estivessem. A palavra de ordem, então, virou brasilidade. Resultado: existe um imóvel em Nova York que junta a pintura marmorizada escolhida por Bowie para algumas paredes e um painel de couro criado por Mestre Expedito Seleiro, artista cearense. Tem o camarim banhado a ouro idealizado pelo pop star e obras de jovens artistas plásticos como o carioca João Incert e o pernambucano Derlon.
— Exótico ou não, tudo o que tinha a mão dele nós preservamos — conta Gigi. — Eu poderia ter escolhido trabalhos de artistas brasileiros de renome internacional, mas preferi pessoas que estão despontando. Acho que Bowie ficaria feliz com a ideia de dar visibilidade a novos talentos.
OBJETOS DE DAVID BOWIE VÃO A LEILÃO
Outro desafio foi criado: juntar referências do Brasil e e homenagear o antigo morador. Tanto na escolha de móveis e objetos quanto na criação de um tributo, digamos, físico a ele. Um exemplo: entre os garimpos foi selecionado um sofá de veludo vermelho que a cenógrafa achou a cara de Bowie, assim como as cadeiras da mesa de refeições para dez pessoas
Mas existe no meio de tudo isso um cantinho que é mais Bowie que todos os outros. É ali, numa espécie de foyer do apartamento, entre duas colunas, com a tal pintura marmorizada ao fundo, que foi pendurada uma foto do cantor feita por Brian Aris. De terno verde, com uma porta rosa ao fundo, o artista parece transportado para a Mangueira. E a ideia era essa mesmo. Curiosidades sobre David Bowie que você não sabe
— Vi essa foto numa exposição em homenagem ao estilista Thierry Mugler e na hora lembrei do Cartola — diz Gigi.
Outros olhares mais locais estão em fotos dispostas pela casa. Uma delas, assinada por Bruno Veiga, transporta para lá as pedras portuguesas das calçadas do Rio. Outra, de Marc Ferrez, abre os braços sobre a Baía de Guanabara. Músicos elegem canções favoritas de Bowie
Em entrevista para a MTV Brasil em 1997, Bowie disse que era um “abutre da cultura” e costumava explorar a arte de cada país que visitava. Ele esteve no Brasil duas vezes. Numa delas, declarou ser fã do traço de Oscar Niemeyer. “Eu acho que é quase uma procissão ir a Brasília ver obras de Oscar Niemeyer”.