Imersa no mundo da sétima arte como diretora, o retorno da atriz Bárbara Paz às novelas não poderia ser em um papel melhor e mais contundente com a sua arte. Depois de quatro anos afastada, Bárbara retorna na pele da vilanesca Úrsula, uma personagem que promete incendiar o horário das 18h com toda a sua ambiguidade moral em “Além da Ilusão”.
Ambiciosa e manipuladora, Úrsula é uma cozinheira de origem humilde que não mede esforços para conseguir o que quer: um lugar no mundo e o amor de Eugênio (Marcello Novaes), um investidor que a acolheu quando mais precisou depois de ter perdido os pais ainda jovem.
“Ela é uma mulher tentando sobreviver, tentando ser alguém na vida, mesmo que, pra isso, ela tenha que passar por cima de muita coisa e muita gente. Ela vai fazer de tudo para alcançar o que deseja na vida, que é ser alguém, ter um sobrenome, uma família, uma estabilidade financeira”, conta Bárbara que não enxerga a personagem exatamente como uma vilã — apesar dos estereótipos que a compõem.
Sempre intrigada pela complexidade humana, Paz não acredita no maniqueísmo e, para ela, Úrsula é igual a todos nós: humana.
“Vilão é uma palavra tão forte, né? Acredito que ela não é só uma pessoa malvada, que vai fazer coisas ruins. Não. Acho que de vilania todo ser humano está cheio, depende do ponto de vista. Então ela é mais uma”, reflete.
Em meio às falcatruas, o público vai aos poucos conhecendo outras facetas da Úrsula, dentre elas a de mãe solteira do Joaquim (Danilo Mesquita) em tempos nos quais as convenções sociais restringiam a liberdade de ser das mulheres.
“Úrsula tem uma história de vida forte. Uma mulher dos anos 40, que passou por essa guerra, que passou por várias coisas num momento da vida em que a mulher não tinha voz, uma pessoa que se cria sozinha, que é mãe solteira tem muitos obstáculos”, afirma.
Escrita por Alessandra Poggi com direção artística de Luiz Henrique Rios e direção de Luís Felipe Sá, ‘’Além da Ilusão’’, que acompanha a saga por justiça do ilusionista Davi Jardim (Rafael Vitti), retrata o Brasil dos anos 30 e 40, período no qual o país vivia uma ebulição industrial, além de outras importantes mudanças econômicas e políticas.
Para as mulheres, foi um momento de conquista como o direito ao voto e da eleição da primeira mulher ao cargo de deputada federal, ainda que certos estigmas fossem mantidos, dentre eles a “mulher do lar”.
”Se divorciar, ser mãe solteira, era incabível, um afronte, era mulher non grata. Em uma época que ao mesmo tempo nós, mulheres, sofremos, mas é também um período muito bonito, começando a libertação, dos anos 20, 30 e 40, com movimentos muito importantes para o feminino”, declara.
Enquanto mãe, Úrsula é possessiva e projeta no filho as idealizações que tinha para a própria vida. Cúmplices nesse jogo, a cozinheira cria o filho com base nas suas percepções ardilosas e irá incentivar que o jovem case por interesse com Isadora Patajó (Larissa Manoela), cuja família já nos primeiros capítulos herda toda a herança do avô, dono de terras na região.
“Ela usa bastante o filho para ensinar o que não deveria e para suprir o que ela não teve em vida. Está gerando uma pessoa bastante ambiciosa, assim como ela, talvez até pior. Os dois têm uma relação de cumplicidade muito forte, de um endeusamento que esse filho tem por essa mãe, de uma confiança, uma entrega. Eles viram o jogo mesmo”, conta.
Com altas expectativas para a estreia, Bárbara Paz acredita que todo esse jogo de relações e intenções vai agradar os noveleiros de plantão e, apesar da leveza lúdica da trama, é uma novela que promete trazer reflexões sobre a condição humana.
“É uma história de amor e dor, um grande folhetim como deve ser. Fala dos dois lados de uma mesma história, do que o destino reserva para cada um, e como um pode enganar o outro. Nada é uma coisa só, nada é o que parece, sempre tem o outro lado da moeda. Esses dois lados que todo ser humano tem”, declara.
O retorno da atriz às telinhas, no entanto, não é definitivo. A vontade de dirigir outros projetos tem sido mais proeminente e Bárbara planeja continuar investindo os recursos do seu trabalho nas suas próximas ideias, entre elas o longa-metragem Silêncio, que desenvolveu com a roteirista Antonia Pellegrino, e um sobre a sua vida.
O último trabalho da atriz como diretora foi o curta-metragem ‘’Ato”, que integrou a programação de importantes festivais nacionais e internacionais, como o Festival do Rio e de Veneza.
Protagonizado por Alessandra Maestrini, o curta-metragem nasceu logo no início do isolamento quando diversos artistas começaram a migrar para o universo digital como uma alternativa ao cenário de estagnação pelo qual o mundo era acossado.
“Tudo começou pelo fato de estarmos isolados, com todo mundo querendo trabalhar, então só seguimos o passo que mandava o destino”, conta a atriz que assumiu a direção à convite da Rubim Produções – à frente de mais dois projetos audiovisuais, um game e uma peça virtual, durante este período.
No papel de Ava, uma profissional do afeto, Maestrini tem a missão de confortar Dante (Eduardo Moreira), um homem solitário que sofre com a morte da mulher e que clama por companhia para completar a sua passagem por um mundo suspenso da realidade.
Enquanto novos projetos atrás da câmera não acontecem, Bárbara Paz se prepara para lançar o filme “A Porta ao Lado”, longa protagonizado por ela e Letícia Colin e dirigido por Julia Rezende.
Com previsão de chegar às salas brasileiras no primeiro semestre de 2022, a obra acompanha os questionamentos e desejos que acontecem quando um casal tradicional e um que tem o relacionamento aberto se encontram.