Relegada nos últimos oito anos como uma pasta sem importância, ao ponto de a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), responsável pelo setor no Estado, não ter sequer uma sede própria, a área cultural mereceu lugar de destaque no atual governo. Pelo menos esta é a opinião do presidente da FEM, Manuel Pedro Correia, o “Correinha”, que anunciou, já para os próximos dias, ações de recuperação de espaços como a sede da Tentamem, da Biblioteca da Florestam, da Casa dos Povos da Flores e obras físicas também no interior do Estado.
Mas, de acordo com o dirigente, a preocupação do Governo, segundo as instruções do governador Gladson Cameli, é procurar meios de aproximar os artistas do interior da Capital e vice-versa. E para quem acha que o setor continua esquecido, “Correinha” revela que nos dois últimos anos, o governo investiu para de R$ 16 milhões em projetos culturais, embora a atual gestão, que está completando três anos, tenha tido pouco mais de um ano para efetivamente trabalhar, por causa da pandemia do coronanavirus.
A seguir, os principais trechos de uma entrevista exclusiva do principalmente dirigente do setor cultural do Estado ao ContilNet:
ContilNet – O que está sendo feito de fato pelo atual Governo nesta área da cultura?
Manuel Pedro Correia – “Correinha” – De fato, estamos entrando no terceiro ano de gestão, mas é bom fazermos um recorte neste tempo. Na verdade, tivemos só um ano e meio de efetiva administração. O outro um ano e meio foi de lokdown, de trabalho de home oficie, tudo por causa da pandemia do coronavirus, com muitas distâncias e muitos bloqueios, muita falta de equipe e de toda estrutura de Governo em se empenhar em projetos e ações de Governo, para a efetiva participação de músicos, dos artistas em nossos equipamentos culturais.
ContilNet – Por que isso não ocorreu?
“Correinha” – Porque vivemos uma pandemia, com funcionamento apenas internamente. Externamente, por causa disso, só funcionava a secretária de saúde, os hospitais e postos de saúde, além de pouca estrutura. O resto ficou tudo paralisado. Por isso, nos foi usurpado um ano e meio de trabalho. Por isso, a gente conta com um ano de efetiva gestão. Agora, quando, vamos dizer assim, estamos retomando a vida, é que nós estamos fazendo nosso realinhamento de trabalho. Mas, concretamente, podemos apresentar a recuperação da concha acústica “Jorge Nazaré”, no Parque da Maternidade. Aquela estrutura está toda reformada há mais de seis meses e por que nós não a entregamos à comunidade ainda? Porque ali é um espaço público e, em sendo espaço público, nesta pandemia, temos que todo a uma atenção especial, porque vai haver presença de pessoas e não daria para entregarmos enquanto houver a real abertura de todos os espaços, com o fim da pandemia. Mas, independente disso, já vamos, se Deus quiser, agora neste começo do ano, dar a ordem de serviço de recuperação do prédio da Tentamem, que foi uma luta solitária da nossa Fundação, mas já conseguimos resolver todas as divergências, e estamos em dinheiro em conta e vamos executas as obras.
ContilNet – Quando o senhor fala em dinheiro em conta, nós estamos falando de quanto?
“Correinha” – De quase 1 milhão de reais, para revitalizar todo o espaço. Mas também conseguimos revitalizar a sede do Cine Recreio, com sua sede e o espaço para o cinema, todo o espaço está em reforma. A gente iria entregar agora no final do ano passado, mas foi um período de muita chuva e de tal forma, agora em janeiro, nós vamos voltar com tudo reformado, incluindo espaço para cinema, para teatro e nossa própria sede. Também estão em reformas a Usina de Artes “João Donato”, assim como a Casa dos Povos da Floresta, também no Parque da Maternidade, estão em reformas e, para este ano, teremos uma grande novidade, que é a reforma do teatro “Plácido de Castro”, o chamado Teatrão.
Para aquele espaço, temos uma emenda de autoria da senadora Mailza Gomes (PP), no valor de R$ 5 milhões, assim como já fizemos no interior, em Cruzeiro do Sul, onde reformamos o teatro dos Nauas, o “Coirdélia Lima”. Temos também a reforma do “Teatro José de Alencar” e do memorial “José Augusto de Araújo”, também em Cruzeiro do Sul. As coisas em Cruzeiro do Sul estão bem mais encaminhadas. Mas aqui em Rio Branco, com os R$ 5 milhões disponibilizados pela senadora Mailza Gomes, nós vamos reformar ampliar o Teatrão e a Biblioteca da Floresta com mais R$ 4 milhões que ela conseguiu para a Cultura.
Tem muita coisa para ser entregue e que nós trabalhamos quase que silenciosamente, porque nós recebemos esses equipamentos que estou citando praticamente abandonados. A começar, a sede da Fundação nem existia. Isso aqui é um depósito, uma espécie de lixão. A sede estava lá na Usina de Artes, ocupando todos os espaços da Usina e ninguém iria para lá. Nós temos imagens mostrando que não existia uma sede para a Fundação Elias Mansour. Então, nosso principal trabalho foi reformar e retomar todos os equipamentos que estavam destruídos. Esta é a verdade. O governador Gladson Cameli tem volume de obras para mostrar e entregar à população.
ContilNet – Entendo, mas estamos falando de obras físicas. Na área da Cultura, as obras têm um caráter mais humano. O senhor acha que este Governo tem este perfil para a área cultural e preocupações com essas obras de caráter humano?
“Correinha” – Total, completamente. Se você pegar – e eu não gosto de falar olhando muito pelo retrovisor – os últimos oito anos do governo passado, verás que nada foi aplicado na Cultura. E estamos falando dos espaços físicos, dos equipamentos. Mas vamos falar também dos investimentos, do fomento direto ao artista. Ano passado, em 2020, através da Fundação Elias Mansour, nós injetamos R$ 12 milhões no setor cultural; este ano, em 2021, mais R$ 4 milhões e 900 mil. É dinheiro chegando diretamente no artista.
ContilNet – Como isso é possível? É através de editais?
“Correinha” – Sim, de editais. Editais específicos, com segmentos específicos, pelos quais tivemos recursos para a música, para o audiovisual, para arte e patrimônio e tivemos um último edital para os povos originários, para financiar os festivais indígenas – fomos pioneiros, inclusive, nisso. Como os recursos eram de R$ 4,9 milhões, nós restringimos um projeto por proponente. Mas, independente da Lei Aldir Blanc, o governo do Estado fez também editais com recursos próprios. Nós lançamos um edital, logo no começo da gestão do governador Gladson Cameli; fizemos outro edital emergencial também, o mais edital democrático, já que fizemos por sorteio – e não foi nem por avaliação do projeto, foi por sorteio através das rádios Difusora Acreana e Aldeia, com a presença de todos os segmentos que estavam concorrendo e aí foi feito o sorteio.
A verdade é esta: este Governo nunca deixou de lançar dinheiro para a Cultural. Agora mesmo eu ia lançar um edital de pequenos apoio. Ora, por pequenos apoio entenda a situação daquele artista, que está precisando, por exemplo, de mil reais para pagar um som, uma iluminação, uma impressão, um café da manhã.
Íamos lançar um edital em torno de até R$ 10 mil, mas não houve a compreensão dos segmentos porque seus integrantes queriam dinheiro para fazer fomento, para projetos total e parcial, e o que nos estávamos querendo era apoiar projetos já estruturados, aqueles que já estavam em andamento e em que a pessoa precisa apenas de um aporte para incrementar as ações. Não foi compreendido assim e aí nós revogamos esse edital, mas nunca deixamos de atender o setor cultural e de atender os artistas e estamos conscientes de que estamos fazendo a gestão mais democrática. Nosso lema sempre foi: 50% dos recursos destinados aos municípios e os outros 50%, para a Capital. Não há recursos só para a Capital e agimos assim que a gente quer enxergar também e alcançar o interior do Estado, com a ideia de oportunizar, democratizar e incluir o máximo. Só assim poderemos ter alcance em relação àqueles que fazem cultura e que não são enxergados ainda, que são invisíveis aos olhos de muitos, que não têm como sair na foto.
O governador Gladson Cameli tem dito que a gente precisa apoiar e aproximar o interior da Capital, fazer com que haja mais proximidades, mais intercâmbio e, por fim, fazer com que o artista lá de Jordão, Santa Rosa, Porto Walter por exemplo, comece a se enxergar e ser valorizado como artista em sua região, pelo trabalho cultural que ele faz, como também que ele possa criar asas e possa ir em outros recantos levar sua arte e sua cultura.
ContilNet – Após essa reestruturação físicas nos espaços, há alguma agenda de espetáculos, de shows, de coisas do gênero? Ou isso depende mais do artista do que do fomento estadual?
“Correinha” – A verdade é que, mesmo agora, está tendo muitas atividades artísticas e culturais. Muitas apresentações, shows, teatro, dança – tudo isso está tendo, e em todo o Estado, inclusive com o Jamaxi Cultural, que é um outro projeto. Na Usina de Arte, quem for lá vai perceber que não há mais vaga na agenda porque há muitos shows musicais e apresentações pré-agendas. Ali, às vezes a gente tem, no mesmo espaço duas ou três apresentações de grupos diferentes. Enquanto está acontecendo um show no Teatro, no pátio está havendo outro espetáculo e até mesmo nos municípios.
A efervescência cultural no Acre está muito grande. Esta assim: os artistas receberam em 20020 e em 2021 um volume de recursos significativo, em projetos de R$ 100 mil, de R$ 200 mil, inclusive nós vamos criar – e queremos lançar em fevereiro – o Portal da Transparência da Cultura, mostrando todos os proponentes, quem fez arte, quem fez cultura, quanto receberam, quantos estão recebendo.
A gente precisa criar também esse portal de transparência do setor cultural.