O que se sabe sobre assassinato da mãe do cantor gospel Delino Marçal

Goiânia – A trágica morte da pastora Odete Rosalina Machado da Costa, de 79 anos, assassinada após ter a própria igreja invadida na capital de Goiás, na madrugada de sexta-feira (14/1), chocou os goianos.

Ela é mãe do cantor gospel Delino Marçal, de 35 anos, ganhador do Grammy Latino Melhor Álbum de Música Cristã em Língua Portuguesa em 2019. Ela vai ser enterrada na manhã deste sábado (15/1) no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia.

Veja tudo o que se sabe sobre o ataque de fúria do qual a religiosa foi vítima.

Madrugada de oração

Odete e um membro da igreja, um borracheiro de 44 anos, começaram uma reunião de oração às 5h. O pequeno templo estava trancado e só os dois estavam ali dentro. Cerca de 10 minutos depois, eles foram surpreendidos por gritos.

Um homem totalmente pelado e aparentemente transtornado gritava do lado de fora pelo nome de “José”. Esse homem era Matheus Macaúbas, de 22 anos, um jovem com provável transtorno mental e dependente químico.

O borracheiro respondeu que não tinha nenhum José ali. No entanto, o jovem decidiu invadir a igreja. Ele deu um murro no portão, pulou o muro, quebrou uma grade e a porta de vidro. Já dentro do templo, ele ameaçou de morte a pastora e o membro da igreja, enquanto segurava uma haste de ferro na mão, que retirou de uma porta quebrada.

Um policial militar que chegou ao local mais tarde descreveu Matheus como um jovem com uma “força bastante descomunal”.

Cadeira de escudo

Diante do homem sem roupa, transtornado e violento, a pastora e o membro da igreja começaram a orar em voz alta para afastá-lo.

Em resposta, Matheus teria falado: “Sai pra lá crente do Satanás”, segundo um depoimento. Ao mesmo tempo, o invasor tentou golpear o borracheiro. A barra de ferro passou de raspão no rosto dele.

Começou, então, uma correria. O jovem pelado tentava acertar as vítimas com golpes e o fiel da igreja tentava se defender usando como escudo as cadeiras de plástico do templo. Os golpes quebraram todas as cadeiras.

Frágil senhora

Odete e o borracheiro conseguiram deixar o templo. No entanto, Matheus acabou alcançando a pastora, que foi assassinada com pelo menos três golpes na cabeça, de acordo com o delegado André Veloso, da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH).

O borracheiro conseguiu fugir e chamou familiares de Odete que moravam próximo da igreja. Só que já era tarde. Quando o socorro chegou, ela já estava caída na calçada em frente ao templo, com a cabeça machucada e muito sangue. A pastora ainda respirava e tentou falar algo, mas morreu ali mesmo, no colo de uma das filhas.

Em conversa com a PM, o borracheiro disse que precisou correr para pedir ajuda e salvar sua vida, pois não tinha condições de lutar contra o invasor, que tinha maior porte físico.

Odete era uma senhora frágil e não conseguia se defender diante daquela violência, segundo relato em um depoimento.

Quem é Matheus?

O suspeito de matar Odete morava a cerca de 7 km da igreja da pastora. Há dois meses, a família descobriu que ele estava usando crack e ele teve um aparente surto.

Matheus saiu correndo de sua residência apenas de cueca e foi encontrado por volta de 20 km de distância. Depois disso, ele chegou a ficar um mês internado em uma clínica psiquiátrica.

A situação parecia ter se normalizado, até que o jovem de 22 anos passou o dia fora de casa na quinta-feira (13/1). Parentes acreditam que ele estava se drogando. Ele voltou tarde para casa e dormiu, mas acordou novamente na madrugada de sexta, às 2h, tendo um novo surto.

Último surto

Esse seria o segundo surto do rapaz, segundo familiares. Matheus morava com a esposa e a enteada. Enquanto estava fora de si, ele teria tentado matar as duas, mas as facas da casa estavam escondidas.

Um tio da esposa do jovem conseguiu intervir na briga e retirou Matheus da casa, que saiu dali transtornado, vestindo apenas uma bermuda. Algumas horas depois ele mataria a pastora. Familiares e conhecidos da pastora nunca tinham visto ou ouvido falar dele antes do crime.

Prisão

O jovem pelado deu trabalho para os policiais no momento da prisão. Depois de matar a pastora, ele ainda caminhou cerca de 1 km sem roupa e jogou pedras em ônibus que passavam, até ser abordado pela PM próximo de um terreno baldio.

Ele chegou a cuspir nos policiais militares que deram a voz de prisão. O jovem disse que ia passar Covid-19 para eles. Ao ser algemado, chutou os agentes. Também foi necessário prender suas pernas com ataduras, pois o suspeito dava pernadas, pulos e pinotes.

Investigação

O delegado André Veloso vai pedir um laudo psiquiátrico de Matheus, que deve ser anexado ao inquérito na DIH. O objetivo é saber se o crime foi cometido em um contexto de consumo de drogas ou de surto psicótico (ou os dois).

Policiais civis passaram o dia tentando desvendar qual foi o percurso que o jovem fez entre 2h e 5h, o momento do crime. Moradores e comerciantes foram procurados para disponibilizar imagens de câmeras de monitoramento da região.

Matheus não quis passar seus dados pessoais, não respondeu a nenhuma pergunta do interrogatório e até se negou a vestir roupas, quando chegou para fazer exame no IML. O jovem vai responder por homicídio qualificado por motivo fútil, além de lesão corporal e desacato contra os militares.

O Metrópoles não conseguiu localizar o contato da defesa do suspeito.

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