A diarista Rosyneide Rodrigues de Araújo, de 45 anos, perdeu os dois filhos de forma violenta em um intervalo de apenas 51 dias. A filha de 19 anos foi assassinada a tiros pelo ex-namorado em 15 de novembro de 2021 e o filho de 21 anos foi morto em uma ação policial em 5 de janeiro de 2022.
“Eu fiquei maluca da cabeça. Já tinham matado minha filha e agora perdi meu filho. Só tinha os dois. Estou sozinha no mundo, dependendo dos outros para ajudar. Estava lutando para comprar uma casa com ele. Ele que me ajudava”, relatou a diarista ao Metrópoles.
A estudante Giovanna Rodrigues de Araújo, de 19 anos, foi assassinada na noite de 15/11 pelo próprio ex-companheiro, próximo da casa da mãe, no setor Independência Mansões, em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital de Goiás.
Já o ajudante de pedreiro Filipe Rodrigues de Araújo, de 21 anos, foi morto durante uma ação da Polícia Militar na mesma cidade, no último dia 5 de janeiro.
Sozinha no mundo
Com a morte dos dois filhos, Rosyneide ficou desamparada financeiramente. Ela não consegue trabalhar como antes e já não tem a ajuda dos filhos. Hoje conta com a ajuda da igreja evangélica que frequenta.
Rosyneide se mudou de Alagoas para Goiás quando era bem mais nova. Ela chegou a ser casada e teve os dois filhos no novo estado. Por causa disso, não tem outros familiares na região. “Não estou bem, mas Deus está comigo 24 horas. Eu estou pedindo e Ele está dando força para o meu coração”.
Feminicídio
No dia do feminicídio, Giovanna tinha acabado de chegar de uma festa na fazenda Jabuticabal, conhecido ponto turístico de Goiás, quando foi morta pelo ex-namorado. O autor é o pintor Ryan Lucas, de 18 anos, com quem a jovem teve um relacionamento de três anos.
Ryan também esteve nesta festa e teria ficado com ciúmes por causa de um biquíni que a vítima usou para entrar na piscina. O casal estava separado há poucas semanas. A violência do pintor era conhecida e brigas eram comuns, segundo testemunhas.
Cinco tiros
Pouco antes de matar Giovanna, Ryan atirou duas vezes no chão durante uma discussão em frente a casa da mãe da jovem. Em seguida, ele deixou o local e marcou um novo encontro próximo dessa residência, onde deu pelo menos cinco tiros de revólver em Giovanna, que caiu morta no asfalto. Ela vestia um biquíni rosa por baixo da roupa.
“Eu cheguei a escutar os tiros”, lembrou Rosyneide. “Rosy, sua filha está estirada no chão!”, gritou um vizinho na rua. A mãe viu o corpo da jovem e acompanhou pessoalmente a perícia da polícia.
Ryan foi localizado e foi preso durante a madrugada em Quirinópolis, cidade a cerca de 300 quilômetros do local do crime, para onde tinha fugido carregando R$ 1,1 mil em dinheiro vivo, além da arma usada no assassinato. Ele confessou o homicídio e declarou que estava arrependido. Testemunhas dizem que Ryan seria traficante de drogas.
Outra morte
Não bastasse a perda brutal da filha, Rosyneide passou por outra tragédia apenas 51 dias depois de perder Giovanna.
O agora único filho dela, e irmão de Giovanna, o jovem Filipe Rodrigues de Araújo, de 21 anos, foi morto a tiros durante uma ação da Polícia Militar, também Aparecida de Goiânia.
Segundo os policiais, Filipe e um comparsa teriam tentado assaltar uma idosa no bairro Independência Mansões. A idosa não teria nada de valor e a dupla teria fugido. Ela denunciou a tentativa de roubo e começou então uma perseguição, com a presença de muitas viaturas e até um helicóptero.
Filipe teria tentado fugir para uma mata no bairro Jardim Tiradentes, mas acabou sendo morto. Segundo os policiais, ele teria atirado contra os militares.
Divergência
A mãe rebate a versão da polícia. “Ele não estava armado e não estava assaltando”, disse para a reportagem. Rosyneide afirmou que o filho usava maconha e tinha sido ameaçado de morte por policiais por causa disso.
Desamparada e totalmente sozinha em Goiás após a morte de seus dois únicos filhos, a mulher ainda não sabe o que será do futuro. Apesar do desejo de justiça, ela não sabe sequer se terá forças para seguir em terras goianas após dois golpes seguidos tão duros em sua vida.
“Nem sei se vou continuar aqui, não tenho mais família aqui”, conclui a diarista.
O Metrópoles pediu um posicionamento sobre o caso para a PM, a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública de Goiás, mas não teve resposta até a publicação desta matéria.