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Escola no AC nega matrícula a criança autista: “Chorei como uma mãe que perde um filho”

Por NANY DAMASCENO, DO CONTILNET

Jamila e seu filho, o pequeno Luiz. Foto: Reprodução/Redes Sociais.

A empresária acreana e influenciadora digital Jamila Roysal, denunciou em seu Instagram o preconceito sofrido em uma escola particular em Rio Branco ao tentar matricular o seu filho com Transtorno do Espectro Autista.

Jamila contou que no dia 9 deste mês ela foi até a instituição de ensino que não citou o nome, para matricular o filho Luiz, ao chegar no local se informou sobre a existência de vagas e lhe foi informado que havia três disponíveis, mas quando descobriram o transtorno da criança, alegaram um erro no sistema afirmando que não havia nenhuma vaga. “Eu ainda estou com nó na garganta desde de o último episódio e um dos mais agressivos que tivemos”, disse Jamila.

“Sentei, e a primeira coisa que uma mãe de criança especial faz é perguntar se tem vagas assim que chega para matricular seus filhos, seja na escola, futebol ou qualquer outra atividade, porque sabe que na maioria das vezes logo após saber que seu filho tem necessidades especiais as vagas somem na velocidade da luz. Assim eu fiz: perguntei se tinha vaga, por três vezes seguidas, foi me dito que sim, e conferido no sistema da escola, após eu saber de tudo sobre a escola, valores, metodologia, eu disse que queria fazer a matrícula do Luiz”, contou.

Segundo a influenciadora, estava tudo certo até que ela foi reconhecida. “Eu baixei a máscara para enxugar o suor do rosto e a recepcionista me reconheceu e perguntou se meu bebê era especial e eu disse que sim, logo ela disse que tinha que falar com a coordenadora, após eu esperar cerca de 15 à 20 minutos, ela volta e fala que não tem vaga, que estava equivocada, e eu indaguei: mas eu confirmei três vezes com você e você disse que sim, que tinham três vagas, ela disse que estava enganada, e que o sistema estava desatualizado. Eu chorei igual uma mãe quando perde um filho, após me ver naquela situação; após a notícia, ela pede que eu converse com a coordenação para buscar vagas, pois ela não poderia fazer nada. Detalhe: eu tinha que ir me humilhar por uma vaga que que já existia 15 minutos atrás”, escreveu em seu perfil no Instagram.

A empresária diz que, para uma mãe, o diagnóstico já é muito difícil, mas o preconceito no dia a dia é o absolutamente duro. “Quem nos vê na rua nem imagina o quão difícil foi e ainda é até hoje nossa jornada com diagnóstico de autismo. E eu nem falo só do diagnóstico que é duro de receber, e de superar, se é que uma mãe supera de verdade ou só decidir lutar! Sabe o que é o mais difícil? O preconceito, “as pessoas””, afirmou.

“Eu saí com meu coração partido, porque logo cedo havia feito planos com ele, contei que estava indo matricular ele na escola, passei na frente um dia antes e disse; amor você vai estudar aqui. Você que tá lendo isso, não faz ideia do quanto de dor um ato de pura ignorância e preconceito desse proporciona a uma mãe, o quanto de trauma isso provoca”, desabafou.

Durante toda esta terça-feira (22), Jamila recebeu o apoio de outras influenciadoras que pedem a ação do Ministério Público do Estado. A empresária disse ainda que recebeu questionamentos da veracidade de sua dor: “Pessoas me dizendo que eu queria biscoito [termo usado na internet para quem quer chamar a atenção], por não dizer o nome da escola, me perguntaram porquê eu não tinha acionado o MP. Recebi mensagem de um pai aqui que passou pelo mesmo que eu e na mesma escola, com dois filhos, um autista e outro não, ele só conseguiu vaga para o segundo. Não tem como não sofrer”, afirmou dizendo que foi orientada a não citar o nome da escola.

“Eu já passo por isso em outros lugares, tentei matricular ele no futebol e o dono da escola disse que não tinha estrutura”, disse em vídeo publicado na noite desta terça.

Ao fim, Jamila, ainda abalada com tudo que aconteceu agradeceu todo o carinho e apoio que ela e Luiz receberam e disse que vai denunciar o caso no Ministério Público: “Não é só por mim e pelo meu filho pois eu nunca fui uma pessoa que briga pela causa, e me arrependo, é por todas as crianças e mães que estão sofrendo, para que tenham menos portas batidas na cara. A escola que era para ser o primeiro passo para a inclusão é quem nos diz que não está preparada para receber nossos filhos e algumas, quando aceita, tentam cansar o pai até retirar o filho da escola”, declarou.

O que diz a Lei

A Lei nº 12.764, que institui a “Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista”. Sancionada em dezembro de 2012 pela então presidente Dilma Rousseff, a medida faz com que os autistas passem a ser considerados oficialmente pessoas com deficiência, tendo direito a todas as políticas de inclusão do país – entre elas, as de Educação.

O texto estabelece que o autista tem direito de estudar em escolas regulares, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Profissionalizante, e, se preciso, pode solicitar um acompanhante especializado. Ficam definidas, também, sanções aos gestores que negarem a matrícula a estudantes com deficiência. A punição será de três a 20 salários mínimos e, em caso de reincidência, levará à perda do cargo. Negar a matrícula já é considerado crime. (Com informações do site Nova Escola)

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