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Mãe diz que filho ficou gago e que não quer comer após ser chamado de ‘macaco nojento’

Por G1 SANTOS

Mãe diz que Davi, de apenas 8 anos, não sorri nem brinca mais depois do ocorrido — Foto: Arquivo Pessoal

Uma criança de 8 anos foi vítima de discriminação racial, injúria e ameaça dentro do conjunto habitacional onde mora, em Praia Grande, no litoral de São Paulo. A mãe do pequeno Davi relatou ao g1, neste domingo (20), que seu filho ficou “destruído e traumatizado” com o episódio, que foi levado para a Justiça e registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na capital paulista.

O caso aconteceu no último domingo (13), e o boletim foi elaborado na sexta-feira (18). Priscila Romão, mãe da criança vítima de preconceito, contou ao g1 o que aconteceu e revelou que teme quanto o futuro e desenvolvimento do filho, que mudou completamente após o episódio.

Priscila conta que morava em São Paulo, mas se mudou para Praia Grande após sua filha de 17 anos, que era bem próxima ao Davi, ser assassinada. A mãe explica que seu filho pequeno sempre foi comunicativo, gostava de brincar, e nunca “deu trabalho” a ela.

Mãe conta que Davi era um menino feliz, que adorava brincar, mas que mudou após o episódio — Foto: Arquivo Pessoal

Ela conta que, no dia do episódio, Davi desceu para a área comum do conjunto habitacional onde mora, para brincar com outras crianças. No entanto, ao se aproximar do grupo, o pequeno foi vítima de preconceito racial por outras crianças e adolescentes que lá estavam.

Conforme aponta o boletim de ocorrência, um adolescente de 12 anos teria afirmado que o Davi não poderia estar ali devido à sua “cor de pele preta”. O mesmo adolescente teria dito que chegaria até as vias de fato, caso a criança permanecesse ali.

O registro ainda aponta que uma menina de 10 anos ofendeu a vítima o chamando de “macaco, negro, horroroso e nojento”. E que um menino também de 10 anos disse para o Davi que ele aquele condomínio não é lugar para ele morar, “por causa da cor da sua pele preta”.

“Depois do episódio, o Davi se isolou numa parte escondida do condomínio, onde não tem iluminação nenhuma, e ficou sentado com a cabeça baixa e aos prantos”, relata a mãe.

Patrícia conta que, após o ocorrido, apenas o irmão da menina que xingou Davi se mostrou arrependido. Segundo relata, a mãe da ofensora desceu para a área comum e perguntou o que o Davi teria feito para a filha dela.

“Com muita arrogância, a mãe falou para a menina pedir desculpa. A criança, também arrogante, pediu e foi embora”, descreve. A mãe da vítima comenta que o síndico do condomínio teria dito que uma multa seria aplicada aos responsáveis dos jovens que ofenderam o pequeno Davi.

“Não consigo aceitar como que ainda existem pessoas na face da terra que conseguem cometer tamanha maldade com uma criança”, relata.

Após ser vítima de preconceito racial, Davi mudou seu comportamento, aponta a mãe — Foto: Arquivo Pessoal

Impacto para a vida

A mãe de Davi conta que seu filho apresentou mudanças nítidas logo após o episódio. “Ele não está bem, não quer comer, não quer brincar e chora o tempo todo. Ele sempre falou tudo certinho, mas ficou totalmente gago”, revela.

Priscila compartilha que teme quanto ao futuro e desenvolvimento do filho, porque, mesmo uma semana após caso, ele continua com comportamento “de estado de choque” e introvertido.

“Naquela noite ele foi dormir comigo, e três vezes ele falou ‘macaco não, macaco não’ enquanto dormia. Isso quebrou meu coração”, desabafa.

Psicológico abalado

O psicólogo Robson Douglas contou ao g1 que o episódio de preconceito racial sofrido pelo pequeno Davi pode afetar sua saúde. O profissional comenta que o ato de proibir uma criança de brincar já algo muito forte que pode desenvolver traumas. “Agora, com a questão racial, é como se a criança já soubesse que o destino para ele é uma coisa muito sombria”, explica.

Robson conta que esse episódio pode desencadear um atraso na evolução das habilidades sociais de Davi. “Se ele não receber um tratamento adequado, ele pode, sim, chegar apenas a um lugar submisso, de subemprego, só servindo às pessoas. Ou seja, isso pode tirar a capacidade dele de sonhar, de interagir”, revela.

Secretaria de Segurança Pública

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse, em nota, que a Polícia Civil apura o ato infracional de injúria, discriminação e ameaça sofrida pela criança de 8 anos. O caso foi registrado no Decradi e encaminhado ao ao 3º Distrito Policial (DP) de Praia Grande, responsável pela área, para continuidade das investigações.

g1 entrou em contato com a administração do conjunto habitacional onde o episódio aconteceu, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Mãe relata que comportamento de filho mudou completamente após episódio de preconceito racial — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco/Imagem Ilustativa

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