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‘O PSDB Não é mais uma referência nacional’, afirma Aloysio Nunes

Por ESTADÃO CONTEÚDO

© Ueslei Marcelino/REUTERS

Tucano histórico, o atual diretor da SP Negócios, Aloysio Nunes Ferreira, foi um dos líderes tradicionais do PSDB procurados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em aceno ao centro neste ano eleitoral. Em entrevista ao Estadão, Aloysio defendeu como prioridade impedir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

O ex-chanceler disse ver potencial na candidatura do governador João Doria ao Planalto, mas destacou que, se o tucano “não decolar”, não há opção viável na “terceira via”. Ao analisar a crise interna do partido – uma ala contrária à candidatura própria à Presidência tem pressionado a pré-campanha de Doria -, Aloysio afirmou que o PSDB “não é mais uma referência nacional”.

O ex-presidente Lula teve uma série de encontros com líderes históricos do PSDB – o sr. foi um deles. Qual é o simbolismo desses encontros?

Durante o impeachment (de Dilma Rousseff), o antipetismo acabou se transformando em uma segunda natureza do PSDB. Isso nos fez andar em muito má companhia. Agora, diante do desastre que foi a eleição do Bolsonaro e do seu governo, vem a ideia de que é preciso retomar um diálogo com forças de esquerda, como o PT. Talvez o PT tenha sido anti-PSDB, mas nós, do PSDB, antes desse processo de radicalização, sempre tivemos a compreensão da importância do PT como expressão do movimento popular. Houve convergência em coisas importantes.

O antipetismo foi uma “muleta” para o PSDB? Esse sentimento ajudou a eleger os únicos governadores do partido em 2018…

O PSDB não é mais referência nacional como foi. Na época em que o PSDB teve posições fortes na eleição nacional, com Fernando Henrique, (José) Serra e (Geraldo) Alckmin, o partido era uma referência que se opunha ao PT no campo eleitoral. O PSDB trazia consigo um eleitorado mais liberal e progressista, e também de direita conservador, mas do campo democrático.

João Doria representou a ascensão desse “extremismo” dentro do PSDB?

A eleição do Doria surfou nessa onda “Bolsodoria”. A campanha do Doria entrou na mesma corrente que votava no Bolsonaro e forçou um pouco a mão ao apresentar o Márcio França (do PSB) como comunista. O Márcio França é tão comunista quanto eu sou hare krishna. Mas ele (Doria) se redimiu depois com uma oposição consistente e corajosa ao Bolsonaro.

Doria deve levar sua candidatura até o fim, independentemente das perspectivas eleitorais?

Se você não tem uma candidatura forte, ou uma corrente política com um mínimo de coesão, cada um vai buscar sua sobrevivência. A vida partidária está caótica, em razão de vários fatores, como o Fundo Partidário gigantesco, as emendas de bancadas e a perda da agenda presidencial diante do Congresso. Hoje, quem não tem uma candidatura forte de partida, casos de Bolsonaro e de Lula, nem é apoiado em um partido minimamente coeso, vê as pessoas tentadas a buscar a própria sobrevivência. É salve-se quem puder.

Quando o sr. e outros quadros históricos do PSDB se encontram com Lula e estabelecem um diálogo público não passam um sinal de que a pré-candidatura de Doria é vista no partido como pouco viável?

Em 2018 não houve, da parte do Fernando Haddad, nem um gesto semelhante ao que o Lula está fazendo hoje. O impeachment estava recente e haviam muitos ressentimentos. O Lula estava preso. O PSDB estava desbaratado por conta da Lava Jato. O (Michel) Temer estava acuado pelo lavajatismo. O Ciro era o mesmo. Não houve, na época, uma consciência clara do perigo do Bolsonaro. Essa movimentação do Lula hoje é legítima. É da natureza dele. O extremista dessa campanha é o Bolsonaro, e é ele que temos que derrotar.

Acredita na viabilidade da candidatura do governador de São Paulo?

O Doria vai crescer nas pesquisas. Ele faz um bom governo. Curiosamente, muita gente que detesta o Doria por razões quase antropológicas reconhece o governo dele, que teve bons resultados em todos os índices, inclusive nesse que é decisivo para o desgaste do Bolsonaro, que é a vacina.

A direção do PSDB deve se posicionar sobre esse movimento de dissidência contra a candidatura de Doria?

Não adianta tomar medidas administrativas contra isso. Há um descontentamento com o Doria devido aos atritos que ele criou e ao seu voluntarismo na luta interna do PSDB, como essa obsessão de expulsar o Aécio (Neves). Mas o Doria tem feito gestos para aproximar as pessoas.

O PSDB pode não atingir a cláusula de barreira?

Não. O PSDB tem condições de ultrapassar com folga.

Então por que buscar uma federação partidária com o Cidadania?

Essa união interessa ao Doria, porque é o primeiro gesto para escapar daquilo que pesa mais negativamente sobre a candidatura dele hoje do que as pesquisas de intenção de voto: o isolamento político.

A terceira via na disputa ao Planalto tem viabilidade?

Muito difícil. A única hipótese de a terceira via vingar é tirando votos do Bolsonaro. O voto do Lula está muito consolidado. Acho difícil alguém desistir. Doria e Ciro não desistem. O (Sérgio) Moro talvez.

Mas como enxerga a pré-candidatura de Sérgio Moro? É uma alternativa a Bolsonaro?

Não. Moro é o bolsonarismo do B. Que credencial tem para ser presidente? É um juiz de primeira instância, com sentenças contestadas e que se valeu do seu cargo para galgar posições políticas. É uma coisa fake, mas é abrigo para o bolsonarismo desiludido.

Como avalia a provável aliança Lula-Alckmin?

É um movimento correto do ponto de vista político, tanto da parte do Alckmin quanto do Lula. O Lula sabe que precisa caminhar para o centro.

Como vê a possibilidade de Eduardo Leite se filiar ao PSD e disputar o Planalto?

Com certo constrangimento. Se disputou as prévias, deveria se sentir moralmente obrigado a acatar o resultado. É um quadro que tem futuro, mas esse caminho o desqualifica.

O sr. atuou como motorista de Carlos Marighella. Como avalia o filme sobre ele?

Eu dirigi o automóvel algumas vezes, mas ele não tinha um motorista só, era itinerante. Não vi o filme porque essas coisas me fazem mal. Vi polêmicas sobre negritude, mas esse não era um tema do Marighella. O que importava era a luta de classe, não racial. Essa opção política da qual eu participei foi trágica e não tinha a menor perspectiva de ter sucesso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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