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Fígado humano pode ‘mudar de sexo’, mostra estudo

Por O GLOBO

Fígado masculino passa por processo de 'feminilização' em resposta a lesões. Foto: FreePik

O fígado humano masculino pode “mudar de sexo” como parte de um processo para se proteger de possíveis lesões, descobriu um novo estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália.

O objetivo do trabalho, inicialmente, era entender como a disrupção do sono pode provocar doenças metabólicas e problemas de saúde no órgão, como obesidade e diabetes. No entanto, durante os estudos, os pesquisadores observaram que lesões hepáticas mais avançadas nos homens foram associadas a um processo de mudança do fígado para características ligadas à sua versão em mulheres.

O experimento, inicialmente feito com camundongos, foi depois replicado para seres humanos e, em ambos os casos, o mesmo processo foi observado. Nele, os cientistas partiram de uma relação já estabelecida entre o relógio biológico e o desenvolvimento de problemas no fígado para estudar a resposta do órgão.

Com os animais, os pesquisadores eliminaram um gene responsável pelo funcionamento do relógio biológico e alimentaram os roedores com uma dieta rica em gorduras, na expectativa de que lesões no fígado seriam observadas rapidamente.

Porém, o fígado dos camundongos machos recorreu ao hormônio feminino estrogênio, que, segundo os autores do estudo, teria um efeito protetor para o órgão. Quanto maior a lesão, maior foi o processo de “feminilização” provocado pelo hormônio, disseram os pesquisadores.

Isso acontece porque o fígado é um órgão sexualmente dimórfico, ou seja, apresenta características diferentes entre homens e mulheres. Estudos mostram que mais de mil genes são responsáveis por essas variações. Na prática, elas tornam o fígado feminino, por exemplo, mais sensível à ação de medicamentos e do álcool.

Um estudo de pesquisadores da Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, descobriu que essas diferenças tornam as mulheres mais suscetíveis a lesões hepáticas induzidas por remédios e à insuficiência hepática aguda. No trabalho, foi observado que mais de 70% dos pacientes internados com lesão no fígado devido a reações medicamentosas não intencionais eram mulheres, e os responsáveis pelo estudo atribuíram a prevalência às diferenças genéticas entre o órgão feminino e masculino.

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