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Fonoaudiólogo dava doces e não autorizava pais em sessões com crianças vítimas de abuso sexual, diz polícia

Por G1

Wilson Rabelo foi ouvido pela polícia. — Foto: Reprodução

Conforme informado pela polícia e confirmado pela família das vítimas, o fonoaudiólogo Wilson Nonato Rabelo Sobrinho, suspeito de abuso sexual, usava doces e abordagens lúdicas para “ganhar a confiança” dos pacientes para abusá-los sexualmente. Em depoimento, familiares mencionaram que o suspeito não permitia que os responsáveis acompanhassem as sessões. Os atendimentos eram feitos a sós com as crianças.

“O pai de uma criança fez contato e disse que o fonoaudiólogo tampava os olhos das crianças, dava doce e usava a maneira lúdica para conseguir o que queria, ou seja, o abuso sexual”, relata a delegada titular do caso, Fernanda Mendes.

Em apenas um dia, o número de crianças suspeitas de terem sido abusadas sexualmente por Wilson saltou de 14 para 16. A delegacia já confirmou quatro casos.

Atuando há pouco mais de um ano em Campo Grande, o fonoaudiólogo pode ter atendido pelo menos 200 crianças. Todas as crianças serão chamadas para prestar depoimento, acompanhadas dos pais ou responsáveis, conforme informado pela delegada que acompanha o caso, Fernanda Mendes.

Wilson foi preso em flagrante no dia 9 de março.

Relato de abusos

A mãe de uma das vítimas, um menino, de 5 anos, que tem deficiência auditiva, conversou com o g1 e contou sobre o caso com o filho.

“Agora, a única força que eu tô tendo é de buscar ajuda pro meu filho, sabe, porque a cabecinha dele tá toda deturpada, ele não sabe mais, tá bagunçada. Carinho pra ele, ele não sabe o que é o carinho certo, sabe, tá tudo bagunçado”, mencionou.

Há quatro meses, uma outra vítima, um menino, de 8 anos, começava os atendimentos de fonoaudiologia com o suspeito. Na primeira consulta, a mãe, de 38 anos, acompanhou a sessão, mas logo foi repreendida pelo fonoaudiólogo, que avisou que o segundo atendimento seria apenas entre ele e o paciente.

A empresária começou a reparar comportamento atípico no filho há um mês. Segundo a mãe da vítima, o garoto teria perguntado ao irmão mais velho se “era normal o tio [fonoaudiólogo] passar a mão no pipi” dele.

Chorando muito, o menino relatou os abusos à mãe. De pronto, a empresária mencionou que tentou abordar a situação com o filho mostrando que a culpa não era dele. Relatando à mãe, o menino disse que o fonoaudiólogo trancava a porta do consultório, colocava música, pedia para a criança subir na maca e iniciava os abusos.

“O fonoaudiólogo pedia para passar a mão no pipi dele. O abusador abaixava o short do meu filho, passava a mão e pedia para que o meu ele fizesse a mesma coisa com o fono, mas a criança disse que não sabia o que estava fazendo”, contou.

O que diz a clínica

Wilson prestava serviço para uma clínica particular, em Campo Grande. De acordo com o advogado da proprietária da empresária, a cliente está à disposição da justiça e também “chocada e surpresa” com tudo que está acontecendo. Em entrevista, Tiago Pitthan comentou sobre as medidas tomadas pela equipe do local após as denúncias de abuso sexual de vulnerável e sobre o fato de as crianças ficarem sozinhas com o fonoaudiólogo durante as consultas.

“Uma coisa que é importante é que a presença dos pais e das mães durante o atendimento nunca foi proibida pela clínica. Pelo contrário, muitas vezes o profissional pedia para os pais ou mães participarem, porque tinham que aprender manobras ou técnicas para praticar em casa”, disse Tiago.

O advogado também confirmou a informação de que, após o ocorrido, 16 câmeras foram instaladas no local. Segundo Tiago, até mesmo as salas de atendimento estão sendo monitoradas.

Entenda o caso

No dia 9 de março, após uma vítima contar para mãe que havia sido abusada sexualmente, a responsável combinou com o filho de que levaria ele para consulta.

A empresária disse ao menino: ” ‘assim que o fono pegar em você, sai correndo e chama a mãe’, foi aí que eu acionei a polícia e denuncie o caso. O meu filho destrancou a porta e saiu correndo e gritando”.

À mãe, o garoto mencionou que nunca tinha feito nenhuma sessão de fonoaudiologia e o suspeito pedia apenas para a criança “relaxar”. “O fono trancava a porta e falava que era tratamento. Ele nunca fez aula, só escutava música e mandava o meu filho fazer desenho na mão dele para ‘ele relaxar'”, relata a mãe da vítima de 8 anos.

Como denunciar

A Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA) fica localizada na rua Dr. Arlíndo de Andrade, 145 – Amambai. O telefone da delegacia é (67) 3323-2500.

Conselhos tutelares

No site Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho, estão disponíveis os endereços e contatos dos conselhos tutelares que operam em Mato Grosso do Sul e recebem denúncias. Clique aqui.

Disque 100

O Disque 100 atende 24 horas, todos os dias, incluindo fins de semana e feriados, em todo o Brasil. Pela internet, as denúncias podem ser feitas pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil ou pelo WhatsApp, no número (61) 99656-5008. A Secretaria de Direitos Humanos recebe denúncias anônimas e encaminha o assunto aos órgãos competentes no município de origem da criança ou adolescente.

Ministério Público

Todo estado brasileiro conta com um Centro de Apoio Operacional (CAO), que pode ser acionado para a defesa e garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Os números de contato são: 127 e 0800-647-1127, como ligação gratuita em todo estado ou (67) 3318-2032.

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