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Jovem ensina língua indígena em rede social e compartilha curiosidades: ‘nossa cultura não pode acabar’

Por G1

Tauan ao lado de imagem em que traduz partes do rosto. — Foto: Reprodução/RedesSociais

“Vovohexoa xokó pitivoko akó simapu vevokea ne vitukeovo, ngahá’a enjokea akó’oyea vevaka ra vitukeovo”. Da língua terena para o português: “A aproximação com a cidade não fez a gente perder os nossos costumes, quero mostrar que a gente está presente no mundo atual”.

As palavras são do estudante indígena, Tauan Corrêa Gonçalves, 23 anos. Morador de Aquidauana (MS), a 141 km de Campo Grande, há quase dois anos usa as redes sociais para compartilhar o seu idioma natal e curiosidades sobre a cultura indígena, em uma página chamada Vemó’u (nossa língua, em terena).

“Eu vivi na terra indígena Limão Verde [próximo a Aquidauana] até os meus 11 anos, depois disso, saí pra estudar em um internato na região de Miranda”, conta Tauan.

“A gente não vive só em uma comunidade indígena terena, aqui tem várias comunidades terenas espalhadas pela região, em diferentes cidades”, conta Tauan.

De acordo com a Secretaria de Estado de Cidadania e Cultura de Mato Grosso do Sul, o povo terena está presente nas cidades sul-mato- grossenses de Aquidauana, Anastácio, Antônio João, Dois Irmãos do Buriti, Douradina, Dourados, Miranda, Nioaque, Rochedo e Sidrolândia.

Partes do rosto na língua terena. — Foto: Reprodução/RedesSociais

Partes do rosto na língua terena. — Foto: Reprodução/RedesSociais

Com o intuito de manter a cultura terena viva, Tauan decidiu criar uma conta em uma rede social, onde traduz frases da língua terena para o português e compartilha curiosidades. Ele conta que já estudou em ambientes com indígenas e não indígenas e percebeu que alguns purutuye (não indígena, em terena) tinham uma visão diferente da realidade vivida por ele.

“Sempre quando tocam no assunto dos indígenas, os purutuyehiko (purutuye, no plural) falam como se os indígenas vivessem no passado ou fossem algo histórico, que já passou. Por isso, eu tento mostrar o contrário, estamos presentes no mundo atual e carregando a nossa ancestralidade, trazendo com a gente a nossa cultura, a nossa língua, os nossos costumes, o nosso jeito de viver”, ressalta Tauan.

 

Números de 1 a 10 na língua indígena terena. — Foto: Reprodução/RedesSociais

Ele também comenta que o contato com a população não indígena provocou uma mudança no comportamento de algumas famílias terenas. “Acarretou em diversas consequências e uma delas foi a questão da língua, da nossa língua materna, do nosso idioma, porque muitas pessoas passaram a falar mais a língua portuguesa, do que a própria língua terena”, afirma.

Segundo observado por ele, a mudança é uma reação à forma como os indígenas são vistos em meios não indígenas. “Eu já conversei com muitos pais que me falaram que optaram por passar primeiro a língua portuguesa, como sendo a língua principal, porque tinham receio de que os filhos sofrerem preconceito nas escolas ou em qualquer meio não indígena”, diz.

Tauan ressalta que o público da Vemó’u é composto tanto por indígenas, quanto por não indígenas. “Uma coisa muito interessante é que muitas pessoas mesmo pertencendo à nossa cultura não tinham acesso a esses conhecimentos, porque vem se perdendo ao longo do tempo”.

Tauan também compartilha frases motivacionais. — Foto: Reprodução/RedesSociais

As publicações são uma forma de expandir o conhecimento sobre a língua terena e também fomentar dúvidas nos seguidores. “Muitos dos jovens que seguem a página do Vemó’u têm a curiosidade de aprender mais sobre a nossa cultura e sempre me chamando no direct para tirar suas dúvidas”, comenta Tauan.

Com isso, a página ganhou também outra importância para Tauan. Com os questionamentos dos seguidores, ele encontrou uma forma de ampliar seus conhecimentos sobre a própria cultura.

“Quando eu não sei, eu sempre procuro o meu avô ou outros anciões de outras comunidades para tirar as dúvidas. Isso é muito bacana, porque eu acabo adquirindo mais conhecimento sobre a nossa cultura por meio de dúvidas que eu nem pensaria em ter”, comenta sorrindo. 

Tauan ensina como negar o ‘rolê’ no final do mês. — Foto: Reprodução/RedesSociais

As dúvidas mantêm a página ativa. “Hoje em dia eu posto de acordo com as curiosidades que as pessoas têm”, fala Tauan. Atualmente, ele cursa agronomia na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). “Sempre estou em contato com a minha comunidade, mesmo morando na cidade”, conta.

E se depender de Tauan, a cultura terena vai continuar sendo passada de geração para geração.

“Os mais velhos sempre falam que é importante a gente manter a nossa língua e os nossos costumes. A nossa cultura não pode acabar”, pontua.
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