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Mamãe falei o que não devia: a guerra na Ucrânia e um olhar sexista

Por EZIO GAMA

Funcionários e voluntários de emergência ucranianos carregam uma mulher grávida ferida da maternidade em Mariupol, na Ucrânia Foto: EVGENIY MALOLETKA / Agência O Globo

Enquanto milhares de ucranianos e até brasileiros estão desesperados para deixar a zona de conflito na Ucrânia, existem aqueles que foram para perto da guerra para “cobrir” os fatos inloco, com interesses no mínimo suspeito.

O que se vê ali são vidas arruinadas, sonhos despedaçados, futuro incerto em meio a escombros. Vidas, famílias e pessoas de várias idades em desespero e dor, sem chão e sem segurança, tentando escapar da tragédia.

Podemos ver essa guerra sob diversos prismas. Há o olhar do ponto de vista da Rússia de Vladimir Putin, que é aquele que teme uma aproximação das forças da OTAN cada vez mais no Leste europeu flertando com países da ex-União Soviética (como a Ucrânia). Sendo que o temor de um exército posicionado perto de sua fronteira acaba sendo uma ameaça à sua existência. Em termos geopolíticos a Rússia também olha para a Ucrânia com uma cobiça de teor geopolítico (assim como muitos líderes do mundo podem olhar para a amazônia com interesses exploratórios, em sua biodiversidade), o que não é novidade.

Há também o do lado dos Estados Unidos/OTAN, que é o de manter seu programa do pós-Guerra Fria de impedir o avanço da Rússia e uma possível reunificação dos países do antigo bloco soviético, o que representaria uma ameaça ao Ocidente e à conquista imperial americana.

Outro olhar – não menos fundamental para entender o conflito – é o da própria Ucrânia, que viu parte de seu território (o da Crimeia) sendo anexado à Rússia e agora parte de seu território (como Dombas), e o próprio país como um todo, sendo invadido e ameaçado de perder sua soberania e passar a fazer parte do “império” russo.

Sempre ouvimos que a história é contada pela visão dos vencedores. Podemos ter vários olhares sobre a guerra e diversas perspectivas são abordadas e debatidas. Porém, nunca vimos uma observação de uma autoridade política com um olhar para as vítimas dos ataques como possíveis objetos de desejo e de consumo sexual como nesse episódio. Esse olhar particular soou tão destoante de uma imagem de um representante do povo, que apenas demonstra o que está camuflado em seu interior. Essa “cobertura” de guerra por parte do “mamãe falei” é tão descontextualizada, perniciosa, maldosa, cruel e desumana que deixou muitos estupefatos com tamanho cinismo.

Lembrando uma frase do mestre Jesus, que disse: “…se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti…”. Essa hipérbole dita por ele, sugere que a responsabilidade social com o próximo deve ser tão levada a sério que a quebra desse princípio seria bastante grave. Metaforicamente, ao ponto de ser melhor perder o membro responsável pelo ato, do que cometer o erro de ferir a dignidade do próximo. Ou seja, para o deputado Arthur do Val, seria melhor perder o mandato do que permanecer de forma indigna numa posição de representante do povo e influenciador das massas que o seguem.

Sua defesa afirma que o deputado reconhece a gravidade das falas, mas que devem ser consideradas, em último caso, apenas crime de opinião. Várias representações foram feitas contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. É um assunto que ainda está rendendo muitos embates.

Ele mirou para o alvo errado, mas sabe que o erro foi grave e já se desculpou. Não ao ponto de “arrancar seu olho” (que seria renunciar seu mandato), mas corre mesmo o risco de ser “arrancado” (cassado) por força de lei. Intrigante ou não, essa é apenas uma das consequências de um olhar desviado, malicioso e sexista sobre a guerra na Ucrânia.

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