ContilNet Notícias

Pimenta no Reino especial: 100 anos do partido mais longevo do Brasil, o PCdoB

Por THIAGO CABRAL, DO CONTILNET

Foto: Juan Diaz

O PCdoB é, para mim, o maior partido do Brasil. Explico: mesmo que “pequeno”, se comparado em número de filiados e estrutura partidária a outra siglas, inclusive da esquerda, é um gigante no quesito coerência. Desde sua fundação, lá na década de 20, nunca abandou a luta popular.

Cem anos de história não são 100 dias. Para um partido que passou a maior parte de sua longa caminhada, ou na ilegalidade ou sendo perseguido ideologicamente, é uma vitória em tanto comemorar um centenário. É uma organização que se tornou especialista em sobreviver. Aos que confundem comunismo com autoritarismo, convido-os a conhecer o PCdoB, partido mais democrático que conheço.

Para um momento especial, uma coluna especial. Apesar do dia do aniversário do partido ser celebrado apenas em 25 de março, uma sessão solene foi realizada na Assembleia Legislativa do Acre nesta quinta-feira (17) em comemoração ao centenário dos comunistas. À coluna, a presidente nacional do partido e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, mandou um recado para os militantes do estado: “Contamos com os camaradas acreanos para derrotar o atraso e trazer de volta a esperança”, disse.

Do início

Fundado em 25 de março de 1922, o Partido Comunista do Brasil é a organização partidária mais antiga do país em plena atividade. Na época, sob a sigla PCB, foi admitido na Internacional Comunista como o representando brasileiro na organização. Em 1960, durante o V Congresso do partido, houve um racha que gerou uma divisão dos comunistas. Uma parte dos militantes ficou com a sigla e outra parte com o nome da legenda. Dessa forma surgiram o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e o PCdoB (Partido Comunista do Brasil), ambos centenários, pois nasceram no mesmo dia, quando ainda eram um único organismo.

Araguaia

Passadas as primeiras décadas de vivência do partido e a divisão interna, um dos momentos mais marcantes na história militante do PCdoB é sem sombra de dúvidas a guerrilha do Araguaia. Inspirada em experiências internacionais de guerrilha, o partido reuniu cerca de 80 combatentes entre os anos 60 e 70, início da ditadura militar no país, para dar início a tão sonhada revolução socialista. Ocorrida na região do Araguaia, na Amazônia brasileira, e situada entre os estados do Tocantins, Pará e Maranhão, o sonho socialista se transformou em um verdadeiro massacre. Uma sangrenta batalha foi travada entre os guerrilheiros e as forças militares de uma ditadura militar em seu auge repressivo. O resultado foi a morte da maioria deles e apenas cerca de 20 sobreviventes, entre eles José Genuíno, que anos depois ajudou a fundar o PT. Há inclusive um belíssimo filme, “Araguaya – A Conspiração do Silêncio”, de 2004, que conta a história desse fato ainda desconhecido por muitos brasileiros.

Lideranças

O PCdoB vai muito além de José Dirceu e foi berço de lideranças da mais alta envergadura da política nacional. João Amazonas é talvez a mais importante de todas elas. Fundador do “novo” PCdoB, Amazonas foi muito mais do que um líder, foi um teórico político que deu ao PCdoB sua cara. Uma trajetória de vida que se confunde com a do partido. Mais conhecido que João Amazonas, da época em que o partido ainda era um só, somente Luís Carlos Prestes, o cavaleiro da esperança. Ao contrário de Amazonas, Prestes manteve-se no PCB após a cisão.

Sessão

Com tanta história pra ser contada e com tantos serviços prestados ao povo, nada mais justo do que uma solenidade em homenagem aos 100 anos do partido. E foi o que ocorreu hoje, aqui no Acre. A Aleac foi palco de uma sessão solene que reuniu parlamentares, militantes, e até adversários políticos, em um encontro repleto de homenagens e emoção. A sessão conseguiu a proeza de colocar lado a lado quatro pré-candidatos ao Governo do Estado: o senador Sérgio Peteção (PSD), o professor Nilson Euclides (Psol), o deputado estadual Jenilson Leite (PSB) e o ex-senador Jorge Viana (PT), este último ainda em um impasse se disputa o Governo ou o Senado. Não é todo partido que consegue um feito desses.

Acre

No Acre, o partido não chega a ter os mesmos 100 anos de atividades. Começou a se organizar por aqui em 1978. Nem por isso não é cheio de histórias pra contar. O PCdoB é um dos principais fiadores da antiga Frente Popular do Acre, grupo político que governou o Acre e Rio Branco por cerca de 20 anos.

Quadros locais

Os comunistas do Acre tem grande destaque e prestígio junto à direção nacional. A deputada federal Perpétua Almeida é um caso a parte, é quase uma popstar. Política com P maiúsculo e com um mandato nacional, já que sua atuação versa sobre temas de interesse de todo o país, já foi chamada de “fenômeno” por um diretor nacional do partido enquanto trocávamos algumas mensagens. Mas é bom lembrar, apesar de ser uma “política nacional”, a comunista não deixa nem um pouco a desejar quando o assunto é Acre. Conhece cada rincão desse estado como poucos e está sempre preocupada em melhorar a vida das pessoas que mais precisam, seja com emendas, seja com indicações ou com Projetos de Lei. Edvaldo Magalhães, seu esposo, é outro quadro importantíssimo para o partido no Acre. É talvez dele o maior crédito pelos cálculos eleitorais que tem dado mandatos importantes ao partido. Uma máquina de fazer política. Sem esquecer também do presidente estadual da legenda, o médico e ex-vereador de Rio Branco, Eduardo Farias. De uma paciência quase infinita, “Dudu”, como é conhecido, sabe contornar como ninguém as problemáticas da vida partidária.

Com a palavra, Perpétua Almeida

“É um motivo de orgulho o PCdoB ser o único partido ao qual me filiei, um partido que completa 100 anos sem nunca ter deixado de defender os interesses do povo. Eu me lembro que entrei no PCdoB quando estava saindo de um convento, após cindo anos de vida religiosa. Não imaginava que iria entrar em um partido comunista. Na época eu tinha até medo de falar esse nome, de tantos absurdos que falavam. Mas quando eu comecei a militar e vi que eram os dirigentes e a juventude do PCdoB que estavam dentro dos bairros lutando para a água chegasse à casa das pessoas, quando eu identifiquei que era o PCdoB que estava no bairro lutando para levar energia, que tava nas greves ajudando os trabalhadores e conseguirem um trabalho melhor e dignidade foi que eu entendi porque que falam mal deste partido. Eles não querem o bem da população, que é o que o PCdoB defende”, disse à coluna a deputada.

Renovação

Apesar de centenário, o PCdoB sempre teve como um dos seus braços mais fortes a juventude. Organizados principalmente na União da Juventude Socialista, a UJS, os jovens militantes do PCdoB são hegemônicos no movimento estudantil nacional. Dirigem a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG) há tantos anos que é até difícil de contar. E é desse movimento de juventude que saíram muitos quadros importantes do partido, como o ex-senador pelo RJ, Lindbergh Farias, que hoje está no PT, o ex-ministro Orlando Silva, e Manuela D’ávila, candidata a vice na chapa presidencial de Fernando Haddad em 2018, entre tantos outros que não conseguiria listar em uma única coluna. Aqui no Acre, uma jovem também tem ganhado destaque dentro partido, trata-se de Maísa Naluy, candidata a vereadora de Rio Branco no último pleito e que recebeu quase mil votos; é uma força em pura ascensão. Essa escola do PCdoB não brinca em serviço.

Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB/ Foto: Richard Silva

Recado da presidenta

Se a coluna é especial, pede também um encerramento especial. Este colunista conseguiu uma palavrinha da presidente nacional do partido e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, no qual reproduzo a seguir: “O PCdoB é um partido longevo, que se mantém contemporâneo, influente, antenado com as agendas e as necessidades de nosso tempo. Defendemos a bandeira de um socialismo renovado, do combate às desigualdades e às opressões. São a justeza dessas ideias e nossa história dedicada às causas populares que seguem atraindo jovens, mulheres e homens para nossas fileiras. Nos manteremos na linha de frente da defesa da democracia, da vida e dos direitos do povo. Atuando nas ruas, no parlamento, nas redes e em outros espaços, em conjunto com os movimentos de frente ampla, cuidando do nosso país e da nossa gente, com a militância indispensável do Acre, que é esse estado de gente querida e que carrega consigo uma bela história de lutas libertárias. Temos aí, inclusive, uma grande guerreira dessa luta, a deputada Perpétua Almeida, e contamos com os camaradas acreanos para derrotar o atraso e trazer de volta a esperança.”

 

Sair da versão mobile