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Brasil ganha novas alternativas de tratamento contra a Covid

Por METRÓPOLES

Daniel Ferreira/Metrópoles

O Brasil ganhou, na semana que passou, novas ferramentas para o enfrentamento da crise sanitária causada pelo vírus da Covid-19. Dois remédios para tratamento da doença foram aprovados por órgãos de saúde brasileiros: baricitinibe e paxlovid.

As autorizações ocorrem no mesmo período em que o país passa por nova fase da crise sanitária, com a flexibilização de medidas restritivas e a redução de casos e óbitos motivados pelo coronavírus.

Na sexta-feira (1º/4), o Ministério da Saúde incluiu o medicamento baricitinibe no rol do Sistema Único de Saúde (SUS). O remédio, fabricado pela empresa Eli Lilly do Brasil Ltda., já tinha registro no Brasil para o tratamento de outras doenças, como artrite e dermatite.

Além disso, na quarta-feira (30/3), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso temporário e emergencial do antiviral Paxlovid, produzido pela farmacêutica Pfizer.

Ao Metrópoles o médico infectologista Victor Bertollo avalia que a introdução dos remédios ao sistema brasileiro de saúde é bastante animadora, especialmente para tratar pessoas que fazem parte de grupos de risco.

“Existem pessoas que, mesmo vacinadas, por questões intrínsecas ao seu sistema imunológico, ainda podem ter risco alto de complicação pra Covid. Os maiores exemplos são os muito idosos, os acima de 80 anos, os imunocomprometidos. Para esse grupo de população, a gente precisa ter esse tipo de tratamento”, analisa.

Bertollo também ressalta a possibilidade de surgimento de novas variantes da Covid-19 que sejam resistentes às vacinas. Nesses cenários, a existência de tratamentos medicamentosos é muito importante. “É fundamental a disponibilidade deles como estratégia adicional para controle da Covid”, pontua o infectologista.

Tratamento hospitalar

O baricitinibe foi o primeiro medicamento incluído no SUS para o tratamento da Covid. O remédio deve ser utilizado por adultos hospitalizados que precisam de oxigênio por máscara ou cateter nasal.

Estudos analisados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) apontam que o uso da substância pode contribuir para “redução significativa de mortes” por adultos hospitalizados.

“O medicamento atua sobre o sistema imune, auxiliando no processo de recuperação de quadros inflamatórios. De forma mais específica, ele diminui a ação da interleucina-6 (IL-6), substância ligada à ocorrência de reações inflamatórias geradas por diversas doenças, e se apresenta com níveis elevados em casos mais graves da doença”, informou a comissão, em nota.

O medicamento é utilizado no SUS para tratar outras doenças e, portanto, já faz parte do estoque de secretarias de Saúde. Para que o uso contra a Covid seja iniciado, é preciso seguir orientações de nota técnica do Ministério da Saúde sobre o tema. De acordo com o ministro Marcelo Queiroga, o documento será publicado “em breve”.

No relatório sobre o uso do medicamento, a Conitec aponta que o custo-base para aquisição do baricitinibe é de R$ 27,22 por comprimido. Durante tratamento de 14 dias, o valor total seria de R$ 381,08 por paciente.

Segundo a Conitec, a administração do remédio ainda não traz economia aos cofres públicos. No entanto, sua utilização deve garantir “uso mais eficiente de recursos do que o contexto sem a intervenção”.

Tratamento domiciliar

Aprovado pela Anvisa na última quarta-feira, o antiviral paxlovid deve ser utilizado em domicílio, por adultos que não necessitam de oxigênio suplementar, sob exigência de receita e prescrição médica.

De acordo com a fabricante Pfizer, a pílula antiviral tem 89% de eficácia na prevenção de hospitalizações e mortes de pacientes contaminados pelo novo coronavírus.

O medicamento deve ser tomado por cinco dias, logo após os primeiros sintomas da doença e resultado positivo para o exame de Covid. O efeito da pílula bloqueia a replicação do vírus e impede a evolução da Covid-19 para quadros graves.

Conforme revelou o Metrópoles, a farmacêutica e o Ministério da Saúde iniciaram negociações para avaliar a compra do medicamento para a rede de saúde brasileira.

Como a autorização da Anvisa prevê uso emergencial, não há necessidade de análise da Conitec para a utilização do remédio. No entanto, ele só pode ser incluído ao rol do SUS quando o órgão regulador conceder registro definitivo ao produto.

Mesmo sem a inclusão no rol do SUS, o governo federal pode realizar compra e distribuir o remédio de forma emergencial aos estados e municípios.

Outras alternativas

Além do baricitinibe e do paxlovid, há mais opções de medicamentos utilizados no tratamento contra Covid ao redor do mundo.

A Anvisa já aprovou outros medicamentos que podem ser utilizados: Evusheld (profilático produzido pela AstraZeneca para população imunocomprometida), Sotrovimabe e Regkirona ou Regdanvimabe (anticorpos monoclonais com uso restrito a hospitais para evitar casos graves).

O uso dos fármacos, no entanto, ainda não foi autorizado pela Conitec. “A tendência é que, quanto mais ofertas tivermos, mais amplamente disponíveis esses medicamentos sejam. E isso nos dá uma segurança maior para cenários futuros da pandemia”, salienta Bertollo.

Outro lado

Ao Metrópoles a Eli Lilly do Brasil Ltda. informou que ainda não foi procurada pelo Ministério da Saúde para negociar a venda do baricitinibe especificamente para indicação de Covid.

A empresa destacou, contudo, que o medicamento já é adquirido pelo Ministério da Saúde desde setembro de 2021 para tratar pacientes com artrite reumatoide no SUS. O contrato com o governo federal prevê entrega de 530 mil comprimidos — 400 mil já chegaram a território brasileiro, em três parcelas.

“A Lilly está preparada para atender a qualquer necessidade de demanda do governo de forma imediata, e estamos orgulhosos em poder apoiar o enfrentamento da pandemia”, pontuou a organização.

Metrópoles também procurou a Pfizer Brasil para solicitar informações sobre as negociações com o governo federal para a entrega de paxlovid.

A farmacêutica informou, no entanto, que não divulga dados sobre acordos que ainda não foram firmados com o Ministério da Saúde. Também foi questionado o preço oferecido pela venda do medicamento aos países que já o utilizam. Por telefone, a Pfizer informou que o valor varia de acordo com cada mercado, mas não forneceu nenhuma quantia para o Brasil.

A reportagem ainda solicitou informações ao órgão federal sobre a possibilidade de compra dos medicamentos e a disponibilização dos fármacos à população, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

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