Paulo André é 2º no BBB, a vírgula que colocou na carreira de atleta

Paulo André não está acostumado a ser vice. Mesmo que no esporte olímpico o pódio seja comemorado, os três primeiros lugares sejam celebrados, a medalha de prata nunca agradou plenamente o atletas de 23 anos que acaba de deixar a casa do BBB22 na segunda colocação.

Em 2019, nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, PA ficou com a prata. Era a estreia dele em uma edição de Pan, já como uma das estrelas da delegação brasileira graças aos bons resultados nas pistas. Mas ser vice nos 100 metros, a prova mais nobre do atletismo, não o deixava totalmente feliz. Mesmo sendo o segundo melhor resultado de um brasileiro na história da prova nos Jogos. O único que faturou o ouro em um Pan foi Robson Caetano, em Havana 1991. Naquele 7 de agosto, Paulo André não saiu completamente satisfeito da pista em Lima e, com personalidade, deixava isso claro.

– Estou feliz, mas não satisfeito. Eu vim para sair com o título. Miro sempre o lugar mais alto – disse PA em 2019 na capital peruana.

Três anos depois, ao deixar a casa do Big Brother sem a medalha de ouro no jogo transmitido ao vivo e 24 horas por dia para o Brasil todo, o atleta olímpico tem mais motivos para comemorar a prata do que para lamentar a derrota para o ator Arthur Aguiar. O bronze ficou com o também ator Douglas Silva.

Para observar o sucesso de Paulo André nos últimos quatro meses, basta olhar os números. Se o parâmetro for a quantidade de seguidores nas redes sociais, uma espiadinha no Instagram é esclarecedor: @iampauloandre entrou no BBB com 78 mil seguidores e deixa o programa da TV Globo com 7,7 milhões. Como transformar isso em dinheiro, já que perdeu o R$ 1,5 milhão de prêmio pelo primeiro lugar? A resposta veio da brasileira número 1 do mundo na atualidade, Anitta.

– Se o mutirão não der certo, você faz esse R$ 1,5 milhão em publicidade em um mês – escreveu a envolvente estrela da música referindo-se a campanha nas redes sociais para tentar fazer PA campeão do reality show.

No final, o programa foi uma maratona de boa exposição para PA. Mas, como em toda prova de 100 metros que corre, na linha de chegada ele só queria abraçar e rolar no chão junto ao pai Carlos Camilo, ex-atleta de provas de velocidade e técnico de Paulo André. Sim, rolar abraçado para um lado e para o outro é uma brincadeira que pai e filho sustentam desde que ele era uma criança de 9, 10 anos. Foi assim que ambos comemoraram quando Paulo André correu os 100m em 9s90, em agosto de 2019, o que seria o novo recorde nacional da prova, mas que acabou invalidado por causa do vento, acima do permitido para a marca ser validada. Novamente, após o êxtase, PA voltava a ser o segundo melhor brasileiro da história dos 100m, atrás de Robson Caetano.

Nas próximas horas, nos próximos dias deste 2022, PA poderá repetir o gesto que guarda com carinho na mente desde a infância. E que não pode fazer nem no Pan de Lima, em 2019, nem nos Jogos Olímpicos de Tóquio, ano passado. Nas duas importantes ocasiões, Carlos Camilo não acompanhou o filho nas competições. O pai de PA não foi convocado pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) para ser um dos treinadores da equipe nacional nas duas missões internacionais. O que magoou Paulo André. Nas Olimpíadas de Tóquio, o velocista chegou até às semifinais. Mas novamente sentiu falta do pai, que agora quer levar para os Jogos de Paris em 2024.

– Antes de sair de casa, eu pedi para o meu pai confiar em mim. A gente trabalha junto. Eu larguei uma carreira lá fora e pedi pra ele confiar em mim, porque eu ia conseguir. E eu tô na final do BBB. Eu tô muito grato por ter passado por tudo isso, tudo o que eu quero é que meu pai e minha mãe estejam orgulhosos de mim e que eu consiga voltar e recuperar o que eu deixei lá fora, que é o que eu sonho e que eu tenho certeza que eu vou conseguir: dar essa Olimpíada para o meu pai, que é o sonho dele. Eu botei uma vírgula, porque eu queria aceitar esse desafio, essa experiência, mas espero que eles estejam orgulhosos de mim, porque eu estou aqui por eles e principalmente pelo PAzinho – afirmou Paulo André em seus últimos dias na casa do Big Brother.

E aqui cabe uma explicação: Carlos Camilo, apesar de ser um dos principais velocistas brasileiros dos anos 1980, não chegou a defender o país em uma edição dos Jogos Olímpicos. Companheiro de pistas do consagrado Robson Caetano, ainda hoje recordista nacional dos 100m com o tempo de 10 segundos cravados, Camilo não realizou o sonho que o filho tornou realidade em 2021, no Japão, ao correr as Olimpíadas. E o pupilo não pode levar o pai nem sequer para torcer, afinal, em meio à pandemia, as restrições para não credenciados nos Jogos era total. Uma dor que PA não conseguiu superar.

Logo após Tóquio, porém, Paulo André seria recompensado com o nascimento do primeiro filho, Paulo André Júnior, ou, simplesmente, PAzinho. E é para ele também que toda trajetória no BBB foi dedicada.

Dar uma vida melhor ao primogênito sempre foi um dos argumentos para ele permanecer no reality ou em pé por horas e horas para ganhar disputas de resistência. Sem clube, desde que rompeu com o Pinheiros, Paulo André ainda teve suspenso o pagamento das últimas quatro parcelas da bolsa de R$ 1.850 mensais que recebia do governo federal durante a participação no programa da TV Globo.

No entanto, quando sair do BBB, Paulo André estará apto R$ 3.100 mensais do mesmo governo, após passar a categoria internacional para a categoria olímpica do Bolsa-Atleta federal. Ele também é patrocinado pela Nike e recebe bolsa do governo do Espírito Santo, estado onde o atleta nascido em São Paulo cresceu e ainda hoje treina.

Para cortar a bolsa depois de oito parcelas pagas, o governo entendeu que Paulo André não estava treinando como deveria ao entrar no programa, por mais que diariamente fosse possível vê-lo na academia ou saltando degraus de escada, como é fácil encontrar em vídeos que se tornaram virais na Internet. A partir de agora, porém, os compromissos comerciais vão definir os próximos passos de PA. Se serão rápidos, na pista, ou elegantes, como modelo publicitário, algo que ele já fez na carreira. Segundo quem cuida da carreira do atleta, o primeiro semestre de 2022 já não seria de competições para o velocista. Não estava no planejamento, antes mesmo do convite feito pelo BBB, em 2021, participar do Mundial indoor de atletismo, que ocorreu em março passado, em Belgrado, na Sérvia.

A partir desta quarta-feira, dia 27 de abril de 2022, entretanto, se já quiser voltar a pensar em alto rendimento no atletismo, Paulo André deve mirar o Troféu Brasil de Atletismo, que será realizado no estádio Nilton Santos, no Rio, entre 23 e 26 de junho. A competição é a última do país para definir a equipe brasileira que vai ao Mundial de Atletismo, em Eugene, nos Estados Unidos, de 15 a 24 de julho. O estádio carioca não recebe provas de atletismo desde os Jogos Olímpicos do Rio. Mas a presença de PA seria suficiente para lotar as arquibancadas como ocorreu em 2016? Ser o nome do atletismo com mais seguidores em uma rede social, atrás apenas dos aposentados Usain Bolt (11,2 milhões) e Caitlyn Jenner (12,5 milhões), se refletirá em mutirões de fãs reais nas arquibancadas também? Só PA pode dar a resposta, como gosta de fazer nas pistas.

Foi o que ele fez em dezembro de 2020. Como já ficou claro, Paulo André não gosta de ser vice. Ao perder o GP Brasil de atletismo para Felipe Bardi, há dois anos, em meio à pandemia, criou-se um racha no atletismo nacional entre quem torcia pelo sucesso ou pela derrota de Paulo André. O então astro solitário dos 100m no Brasil se incomodou, foi às redes sociais. Cinco dias depois, PA venceu o Troféu Brasil, na mesma pista do Centro Olímpico de São Paulo. Na chegada, fez sinal de silêncio com o dedo indicador na boca. Gesto que ele já havia repetido em outras conquistas, como quando aponta para a pista e diz: “Quem manda aqui sou eu”. Marrento? Todo atletas dos 100m precisa ser, dizem os próprios atletas. Na saída da pista, mais uma auto afirmação do PA atleta: “Aqui se separa os homens dos meninos”.

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