96 filhos e masturbação escondida: o médico que engravidava as pacientes

Crescer como filha única fez com que Jacoba Ballard, 41, procurasse possíveis meios-irmãos usando um teste de DNA feito em casa. Ela sabia que sua mãe tinha usado o sêmen de um doador e, por isso, a americana de Indiana vislumbrava a possibilidade de ter mais familiares do que ela sabia até então. Em sua cabeça, ela poderia ter dois ou três irmãos, mas o que ela descobriu foi muito mais do que isso.

A pesquisa genética mostrou que ela tinha no mínimo sete meios-irmãos e que o médico de fertilidade de sua mãe, Donald Cline, 84, estava inseminando artificialmente suas pacientes com o próprio esperma. Ele fez isso sem o consentimento ou conhecimento delas e dos maridos, que acreditavam estarem recebendo esperma de doadores.

A história chocante é narrada no documentário “Pai Nosso?”, já disponível na Netflix. Na produção, Ballard conta a sua versão de como descobriu que sua família foi enganada pelo médico que ela mais confiava.

Cline abriu a sua clínica de fertilização em 1979 e era considerado um dos melhores médicos de Indianápolis, capital de Indiana, EUA. À época, ele era procurado por diversos casais desesperados por gerar um filho, mas que enfrentavam problemas biológicos. Então, Cline oferecia a possibilidade de inseminação usando o esperma de doadores, algo que até poderia criar dúvidas nas futuras mães, mas na maior parte das vezes, era bem aceito.

No entanto, o que foi descoberto depois mostra que não era bem assim que ele trabalhava. “Pai Nosso?” relata que o médico preparava a paciente para o procedimento e, ao invés de usar as doações de sêmen que a sua ajudante buscava com estudantes de medicina ou então as amostras que os próprios maridos cediam, ele utilizava o próprio esperma. Para isso, ele se fechava em sua sala — ao lado do local onde a paciente aguardava —, se masturbava e utilizava o sêmen ali colhido para fecundar a paciente.

O documentário reporta a surpresa de todas as mulheres envolvidas que confiaram naquele médico para trazer o que elas tanto queriam, um filho. Uma delas chega a dizer que, se soubesse que o esperma seria do próprio médico, teria recusado o tratamento.

Com essas informações, Ballard e seis de seus irmãos confrontam Cline e o encontram. Segundo é relatado, o momento beira o bizarro, com o médico se mostrando bastante frio e questionando a todos os seus filhos biológicos quais os nomes, idades e profissões. Por fim, ele tentou justificar seus atos para Jacoba Ballard usando passagens da Bíblia.

Os filhos tentam reportar às autoridades, no entanto, o Ministério Público de Indiana cria empecilhos para seguirem com a denúncia. Para isso, eles vão atrás de jornalistas e procuradores do Estado, mas apenas poucas pessoas dão atenção à história. Quando finalmente a âncora de um telejornal local resolve dar voz ao caso e procura Cline para esclarecer dúvidas, Ballard e seus irmãos começam a ser ameaçados e procurados para que deixem as denúncias de lado.

Para as famílias, Donald Cline deve ser tratado como um estuprador, mas não são todos que entendem desta maneira e, quando finalmente um julgamento acontece, ele não recebe sentença alguma, apenas deve pagar uma multa.

Membro de culto?

Com o uso de gravações do tribunal e de ligações que foram guardadas por Ballard, é mostrado que todas as vezes em que o médico tenta se justificar, a explicação é que ele queria fazer o bem àquelas mulheres. Ele diz que não tinha doadores e que fez as inseminações com o próprio sêmen na melhor das intenções, afinal elas queriam filhos e foi isso que ele proveu a elas.

Durante o documentário, surge a teoria de que Cline, uma pessoa bastante religiosa, fazia parte de um culto que pregava a ideia de “quanto mais filhos, melhor”, e incentivava que os homens procriassem. No entanto, pouco é explorado sobre o assunto no documentário.

“Pai Nosso?” relata também que muitos dos filhos que nasceram da inseminação com o sêmen do médico desenvolveram doenças autoimunes, algo que não teria acontecido caso Donald Cline tivesse passado por uma triagem. O documentário explica que há um processo de entrevistas e investigação da família do doador que tenta inibir condições como essas.

Ao final, a produção relata que, até a finalização de “Pai Nosso?”, 96 pessoas foram identificadas por meio de testes de DNA como filhas do médico. Com um número tão alto de meios-irmãos, os entrevistados relatam medos de, por exemplo, já terem, sem saber, se relacionado com uma pessoa que são sua família biológica.

A história de Donald Cline pode lembrar o público brasileiro de outro médico, Roger Abdelmassih, condenado por 48 estupros de pacientes e também conta com manipulação genética irregular entre seus crimes.

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