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Fabio Assunção explica mudança radical no corpo para viver bruxo de ‘Desalma’

Por PATRÍCIA KOGUT, O GLOBO

Fabio Assunção nos bastidores de 'Desalma' 2 (Foto: André Hawk)

Quem já assistiu à segunda temporada de “Desalma”, estreia recente do Globoplay, testemunhou um Fabio Assunção transformado. Ele aparece em cena com muitos músculos e cabelos grisalhos e compridos no papel do bruxo Traian. É um tipo inédito em seus 32 anos de carreira. O resultado na tela dá a dimensão do mergulho do ator em busca da essência do personagem:

– Eu já tinha visto a primeira temporada. Depois, quando o Manguinha (Carlos Manga Jr., diretor) me chamou, eu revi tudo. Aí chegaram os textos da Ana Paula Maia. Não fui buscar em outras fontes (inspiração para o personagem). Eu gosto de trabalhar com o que está sendo proposto. É uma construção coletiva. É importante chegar aberto para ver o que o diretor está dizendo, os movimentos de câmera, os tons dos colegas… Para, então, poder trocar e colaborar com a linguagem estabelecida. Sobre a caracterização, existia uma foto do personagem no século 19, na fase adulta (trabalho da produção de arte). Isso de cara já me deu uma liberdade. O fato de ele ainda estar vivo no século 21 me trouxe várias reflexões. Nos cabelos, quis colocar como se fossem as cores da erosão. Se você corta a montanha no meio, consegue ver marcas do tempo. Os cabelos do Traian têm tons mais claros, o ruivo e o branco, que é para colocá-lo visualmente nessa condição de estar flutuando no tempo. E a partir desse conceito, fiquei com a sensação de que, por ser imortal, ele não será submetido a um juízo final, vamos dizer assim. Todo o sistema de crenças dele e essas questões de bom e mau e novo e velho eu abstraí. Tentei encontrar no personagem sua forma mais primitiva. Ele não está na vida para conseguir perdão ou ter atitudes boas para conquistar algo. Está na forma mais animal, livre de qualquer pecado.

Fabio agora grava a série “Fim”, baseada no livro homônimo de Fernanda Torres e ainda sem previsão de estreia. Os trabalhos foram retomados no mês passado depois de interrupções em 2020 por conta da pandemia. Ele viverá um homem que morre de câncer. Por isso, o ator estava perdendo muito peso para o papel. Foi quando surgiu o convite para “Desalma”:

– No fim de 2019, comecei a me preparar para “Fim”. Em março, quando fui gravar, estava bem seco. Fiz dietas cetogênicas, em que se elimina carboidrato para dar uma secada. É uma alimentação muito controlada e um treino mais aeróbico. Cheguei a pesar 69kg, para a fase final, da morte do personagem. Então, veio a pandemia, e tudo foi adiado. Mais tarde, ao receber o convite para “Desalma”, eu já estava com mais massa magra. E aí, quando tive essa percepção de que o Traian era muito primitivo nos instintos, senti a necessidade de reforçar essa questão na parte física, para deixá-lo mais forte, bruto. Fiz treinos de musculação e joguei muito carboidrato. Cheguei aos 80kg. Tenho uma equipe que me acompanha desde o início – detalhe ele, que, antes de todo esse processo, atingiu 97kg.

Depois que terminar “Fim”, Fabio já começará a se dedicar a “Olho por olho”novela de João Emanuel Carneiro para o Globoplay. Com vasta experiência na profissão, ele explica o que o instiga atualmente:

– Acho que tem vários pontos. Eu busco personagens que tragam alguma reflexão para a minha vida. Não saberia fazer algo que não me diga nada. Com Traian, por exemplo, eu questiono o tempo, a vida, a morte, o julgamento moral. Questiono em quais princípios éticos a sociedade está sustentada hoje. Outro ponto é quem vai dirigir. É muito importante ver o nível de comprometimento que o diretor tem com a própria obra. Manguinha é um diretor de assinatura. Não está ali só posicionando câmera. Ele é muito autoral. E, por fim, gosto muito de produções como “Onde está meu coração”, que levam ao público reflexões acerca de coisas que são bastante estigmatizadas, sobre as quais as pessoas não conseguem discutir, como esse assunto de dependência química. Cada trabalho tem um viés, uma possibilidade específica de se relacionar com o público. Essas questões são algumas das que acho fundamentais.

Numa fase bastante prolífica, ele diz que atravessa um momento ímpar:

– Há um equilíbrio entre a vida pessoal, o trabalho, a paternidade e o casamento. Chego aos 50 anos com essas coisas muito bem posicionadas. Esses departamentos todos têm a devida atenção e a minha dedicação. Em outras fases, talvez o trabalho tenha falado mais alto, atrapalhando a vida pessoal. Ou a vida tenha demandado mais, atrapalhando o trabalho. Isso faz parte do processo de amadurecimento. Tenho tempo para ler e vou fazer meu trabalho tranquilo, sabendo qual é o propósito. Está tudo claro e bem posto. O período de pandemia, se eu colocar de lado o sofrimento coletivo, foi muito precioso para mim. Consegui tirar proveito. O que estou vivendo agora é resultado desse tempo de maturação. Não vou dizer que é o melhor período, mas está incrível. Não poderia estar melhor.

O ator comemorou, no último dia 27, o primeiro ano da filha Alana, fruto do relacionamento com a advogada Ana Verena Pinheiro. Ele também é pai de João, de 19, e de Ella Felipa, de 10:

– É sensacional poder ter uma conversa ao mesmo tempo com um moleque de 19 anos, uma garota de 10 e uma criatura de 1. João é um brother. Várias vezes falo: “E aí, brother?”. E penso: “Brother, não, filho” (risos). A gente mistura tudo. Ella é uma figura ilustrada, multicolorida, com milhões de talentos. Faz maquiagens incríveis nela mesma. É lúdica. Viro uma menina de 10 anos conversando com ela. É uma delícia. É diferente ter tido João e Ella com 30 e 40 anos e a Alana agora com 50. Como as coisas estão equilibradas, posso ver no dia a dia a Alana se desenvolvendo, mas com os olhos de 50 anos. É lindo, né?

Fabio se casou com Ana Verena em outubro de 2020, poucos meses depois de tornar público o namoro. Perguntado sobre a decisão de oficializar a união logo, ele diz:

– Temos um encontro muito potente. A gente é bem realizado nesse encontro. Não é uma questão de “vamos logo com isso” ou “vamos esperar mais”. É tipo: “Já é”. Se é, é. Então, não passa muito por fazer planilhas. Foi essa coisa de amor que as pessoas sentem. Esse papo aí de amor (risos).

Leia mais em O Globo.

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