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Psicanalista fala sobre a Síndrome de Burnout e os riscos do esgotamento profissional

Por KATIÚSCIA MIRANDA, DO CONTILNET

"Digo que é muito comum escutar esse tipo de mal-estar", afirma psicanalista. Foto cedida

Talita Montysuma, psicanalista e psicóloga clínica, membro do Fórum Lacaniano de Psicanálise de Belém, falou com a reportagem de ContilNet sobre a Síndrome de Burnout, um assunto novo e ainda pouco estudado no Brasil.

Confira a entrevista na íntegra:

ContilNet – Mesmo que algumas pessoas conheçam a Síndrome de Burnout, suas causas e sintomas, esse problema de saúde normalmente é tratado como sem relevância. Alguns tratam até como “preguiça”. Acontece isso mesmo?

Talita Montysuma – Sim, muitas vezes o sujeito adoecido pelas relações de trabalho pode ser julgado como uma pessoa que não “gosta de trabalhar” ou é “preguiçosa. Esse tipo de pensamento só faz com que esse sujeito se torne mais improdutivo. É como se ele não tivesse o direito de ócio ou que não fosse permitido desejar outra coisa que não seja produzir. E é uma produção que nem é pra ele. Penso que essa é uma visão contemporânea do sujeito e que sua relação com o trabalho é sintoma de um discurso neoliberal muito atual. “Trabalhe enquanto eles dormem”; “Você é sua empresa”; “O sucesso só depende de você”. Como diria Freud, somos feitos de carne, mas exigem que sejamos de ferro.

ContilNet – Como está a realidade dessa doença no Brasil e no Acre?

Talita Montysuma – Digo que é muito comum escutar esse tipo de mal-estar. Até porque essa questão nem sempre vem de forma direta, às vezes a pessoa não percebe que o trabalho também está sendo um fator de angustia. Já ouvi: “Por que estou me sentindo tão cansada do meu trabalho, se eu amo tanto o que faço?” Conheço um caso que acompanhei e para que o sujeito tivesse direito ao tratamento adequado precisou judicializar.

ContilNet – Quais os principais sintomas da síndrome?

Talita Montysuma – O Burnout tem como característica sintomas de ansiedade (crises de ansiedade generalizada), depressão, apatia, transtornos compulsivos e adições, transtornos histéricos sintomas somáticos, irritabilidade, isolamento social, baixa produtividade, afeta a concentração. Como disse ele pode ser confundido com outras situações.

ContilNet – O que as pessoas podem fazer para evitar esse problema de saúde?

Talita Montysuma – É uma pergunta interessante, mas ficar alerta sobre si e ter sempre um autocuidado. Importante é sempre que a pessoa sentir uma luzinha vermelha ascender, deve buscar ajuda de um profissional de saúde mental, seja psicólogo ou psicanalista.

ContilNet – É possível se curar? Qual é o tratamento?

Talita Montysuma – Sim. Tem cura, partindo do princípio que podemos sempre estar ressignificando nossas relações objetais (eu e o mundo). O tratamento é psicoterapia com um psicólogo/psicanalista e quando necessário acompanhamento psiquiátrico.

ContilNet – Quais são os riscos para quem tem a síndrome de Burnout e não trata?

Talita Montysuma – Os riscos de um sofrimento dessa ordem são o afastamento do trabalho, aposentadoria compulsória e o pior todos: o estigma de ser preguiçosa. Pois como é um fator de sofrimento do âmbito do trabalho, em outras partes da vida a pessoa fica bem e isso aumenta as especulações sobre o “não gostar de trabalhar “.

 

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