“Abraçando Filhos”: Projeto do TJAC permite que mães encontre filhos fora da prisão

Sorrisos largos, abraços apertados e corações acelerados. Assim estavam 25 mães, privadas de liberdade, que puderam reencontrar seus filhos e alguns familiares fora do sistema prisional. O reencontro faz parte do projeto Abraçando Filhos, desenvolvido para Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Acre (CIJ/TJAC), que teve nova edição realizada nesta quinta-feira, 23.

A emoção tomou de conta de todos que presenciaram o momento, que ocorreu no átrio do TJAC. Inclusive, foram colocados móveis no local para ficar um ambiente mais aconchegante, onde as mães e os filhos puderam conversar de forma mais humanizada, e teve música cantada por pastores evangélicos que já atuam em parceria com a CIJ/TJAC em outras atividades.

E nessa edição, a participação especial ficou por conta do garotinho de uma das mães beneficiadas em participar da ação. O garoto de onze anos, voluntariamente, pediu para cantar a música “não chores”, da cantora gospel Marilza Oliveira, para homenagear a mãe Tailane Silva, de 25 anos.

Cumprimento pena há três anos por tráfico de drogas, a mãe não conteve as lágrimas e agradeceu pelo momento. Segundo ela, durante o período na prisão, viu o filho apenas duas vezes. “É gratificante demais estar aqui. A saudade do filho e da família é diária. Amei a homenagem. Estou próximo da liberdade e quero uma vida nova para mim”, disse a cumpridora de pena.

Na ação, que durou duas horas, as crianças também tiveram atividades recreativas, puderam fazer refeição com as mães e ganharam brindes.

Estiveram presentes no evento a desembargadora Regina Ferrari, titular da CIJ/TJAC; presidente do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), Glauber Feitoza; o procurador de Justiça, Maia Guedes; a vice-presidente da OAB/AC, Socorro Rodrigues; a corregedora-geral da Defensoria Pública, Fenísia Mota; juíza-auxiliar da Presidência, Andrea Brito; juíza de Direito da Comarca de Plácido de Castro, Isabelle Sacramento entre outras autoridades.

 

Em seu pronunciamento, a desembargadora Regina Ferrari enfatizou que a importância desse projeto reside em aproximar as mães que estão privadas de liberdade, de seus filhos que estão distantes.

“Não há coisa mais triste para uma mãe que está privada do abraço de seus filhos, e não há coisa mais triste para as crianças e adolescentes, estarem privados do aconchego, do calor, do cheiro e dos beijinhos de suas mães. Nesse abraço de mães e filhos que nós entendemos que pode ser um símbolo de encorajamento para que essas mães ao receberem e se nutrirem desse amor mútuo, de mães e filhos, elas possam repensar e serem aprendizes de novo das suas liberdades”, enfatizou.

A diretora da Unidade de Regime Fechado Feminina de Rio Branco, Dalvani Azevedo, ressaltou que a maioria das cumpridoras de pena tem um contato mínimo com os filhos, e quando esse contato acontece é dentro da unidade prisional.

“É através de grades, com revistas, é um lugar insalubre para as crianças. Aqui elas têm a oportunidade de estar abraçando, como é o nome do projeto Abraçando Filhos, de uma forma livre, onde podem expressar sentimento. Aqui é um ambiente em que ela não é presa, ela é apenas mãe. E as crianças estão apenas com as mães, e não estão encarceradas com reeducandas. Esse encontro visa tirar essa imagem do cárcere tanto para a criança como para a mãe. É a importância do laço familiar entre mães e filhos”, ressaltou.

O presidente do IAPEN, o procurador de Justiça e a corregedora-geral da Defensoria Pública parabenizaram a CIJ pela ação e ressaltaram sobre a importância do projeto.

Mãe diz que filhos foram distribuídos entre a família

Mãe de oito filhos, a reeducanda Marceline disse ter dois anos que não conseguia ver os filhos. “É um sentimento de felicidade. É muito tempo sem ver eles. Estou vendo todos agora. Deixei uma de quatro meses lá fora e hoje ela tem quatro anos”, contou.

Ela lembrou que, ao ser presa, os filhos foram distribuídos entre a família. “Tem quatro anos que estou presa e lembro que precisei dividir as crianças entre os parentes para eles não ficarem na rua. Foi um momento bem doloroso, mas já me arrependi dos meus atos e quero ter uma vida diferente quando sair da cadeia”, lembrou.

Francisca é outra mãe que compartilhou a alegria de abraçar as três filhas. Uma de 11, de 14 e outra de 20 anos de idade. “Para mim é uma motivação de muita alegria. Só de saber que tivemos a oportunidade de revermos nossos filhos, familiares, é uma alegria muito grande, de saber da capacidade de confiarem em nós, de termos uma nova ressocialização, ser uma nova pessoa. Nada disso poderia acontecer se vocês não acreditassem na nossa capacidade de mudança”, finalizou.

Projeto

Abraçando Filhos foi criado em dezembro de 2016, pela então presidente, a desembargadora Cezarinete Angelim (em memória), com intuito de contribuir na reaproximação de mães reeducandas com seus filhos, permitindo fortalecer o processo de reestruturação familiar. O que, segundo a desembargadora Regina Ferrari, é uma ação que reforça também a responsabilidade social do Poder Judiciário Acreano.

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