A influencer alemã Josy Peukert, de 37 anos, viralizou nas redes sociais nos últimos dias por ter dado à luz o filho mais novo, Bodhi Amor Ocean, em uma praia na Nicarágua. O bebê nasceu em 27 de fevereiro.
As fotos do parto de Josy (veja imagem no topo da reportagem) causaram comoção nas redes, com usuários demonstrando preocupação com as condições de higiene de uma praia para o nascimento.
Médicas ouvidas pelo g1 apontaram, entretanto, que o principal risco no procedimento é a falta de assistência durante o parto, e não necessariamente a água do mar – mas ela pode, também, estar contaminada.
A questão toda não é o fato de ter sido no mar – é, talvez, desse parto ter sido desassistido”, opina a médica obstetra Betina Abs, da Caza da Vila, em São Paulo.
Ao jornal britânico “Daily Mail”, a influencer afirmou não ter feito acompanhamento médico ou exames durante a gravidez.
A ginecologista Larissa Cassiano, especializada em gestação de alto risco, reforça o risco da desassistência.
“A ideia principal não é que [ela] não possa, que seja proibido, mas que ela tenha uma equipe preparada para isso e também um dia favorável para isso – que o mar não esteja agitado e, também, que a temperatura da água esteja mais alta, porque a gente sabe que a temperatura do mar geralmente é um pouco mais baixa“, lembra.
Um outro detalhe importante é que o mar, além de imprevisível, por causa das ondas, também tende a ser frio. Isso é importante porque, ao nascer, o bebê perde muito calor. Por isso, as especialistas reforçam que o neném precisa ficar seco e aquecido o mais rápido possível depois do nascimento.
“Dentro do útero materno, ele está a uma temperatura materna, que é entre 36°C e 37°C. Quando ele nasce num ambiente mais molhado, ele acaba perdendo muito calor para o ambiente – e isso também prejudica a transição da vida fetal para a neonatal desses bebês”, explica a médica Romy Schmidt Brock Zacharias, coordenadora médica materno-infantil do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Falta de estudos e água contaminada
A possível contaminação da água também precisa ser levada em consideração, mas Zacharias aponta a falta de dados e estudos sobre o assunto.
“Até hoje, as sociedades médicas falam mais a respeito de parto nas águas doces, de banheira, então a até hoje não tem nenhum estudo ou uma intenção de estudo falando da questão de água do mar. O que a gente consegue é fazer um pouquinho de um paralelo”, explica a médica do Einstein.
Ela aponta, por exemplo, que as entidades veem benefícios em ter o primeiro e o segundo estágios do parto na água (doce) – mas que, na fase expulsiva, em que o bebê sai, há o risco de infecção.
Larissa Cassiano aponta, por outro lado, que existem muitas praias contaminadas e inapropriadas para banho.
“Expor uma gestante, um recém-nascido, a esse local, a gente aumenta muito o risco de infecção – para ela, pelo canal de parto, pro recém-nascido. Aqui no Brasil, por exemplo, se a gente for pensar, a gente não tem equipes habilitadas para esse tipo de assistência ao parto – está aumentando riscos [ao fazer isso]”, lembra.
Já Betina Abs vê o cenário de outra forma.
“Se vai fazer mal pro bebê, vai fazer mal pra mãe também, então ela nem devia ter entrado na água. Se a água está contaminada, está para todos. Eu imagino que ela não tenha entrado numa água contaminada. Ela não foi pra Santos, não foi pra Guarujá [cidades no litoral de São Paulo]”, argumenta.
“A vagina só abre quando a cabeça do bebê vai passar – e aí a cabeça do bebê tá funcionando como uma rolha. Nada vai entrar dentro dela. Se ela tiver uma laceração, bom, vai ser algo mais superficial, mais na pele, aí a água do mar realmente não é muito boa, teria que lavar depois e dar o ponto”, conclui Abs.