Por ser um órgão que não desempenha nenhuma função para o corpo humano, a vesícula tende a ser deixada de lado. É apenas quando surgem complicações, como a formação de pedras, é que a existência dela é lembrada.
Localizada abaixo da porção esquerda do fígado, a vesícula tem um formato que lembra o de uma pera. Ela tem a função de armazenar bile, um líquido produzido pelo fígado que ajuda na digestão das gorduras e que é formado por várias substâncias, entre elas o colesterol, um dos grandes responsáveis pela formação dos cálculos biliares, como são chamadas as pedras na vesícula.
Em alguns casos, essas estruturas não provocam sintomas, sendo descobertas apenas por meio de exames de rotina. Em outras pessoas, elas causam dor intensa do lado direito do abdômen que se irradia para a parte de cima do tórax e fica mais forte cerca de meia hora após a refeição.
Segundo o cirurgião do aparelho digestivo Gustavo Patury, do hospital Albert Einstein, em São Paulo, o incômodo pode ser acompanhado ainda por febre, náuseas, vômitos, diarreia e perda de apetite. “Às vezes pode aparecer refluxo e empachamento depois de uma refeição rica em gorduras e, nos casos mais graves, febre e icterícia (pele amarelada, urina escura e fezes esbranquiçadas)”, completa.
Fatores de risco e complicações
A presença de sintomas é um sinal de complicações. Um exemplo é a chamada colecistite aguda, que ocorre quando a pedra obstrui o duto por onde sai a bile, levando a inflamações na região e no peritônio, o tecido que reveste a parede interna do abdômen. Podem ocorrer ainda perfurações no intestino delgado ou no cólon, causando sangramentos e infecções.
Outras complicações são a coledocolitíase, que acontece quando os cálculos ficam no duto que transporta a bile, e inflamações nas vias biliares. Contudo, o quadro mais grave é a pancreatite, uma inflamação no pâncreas que pode levar à morte.
Não existe uma causa específica para problemas na vesícula. Mas, o especialista aponta que algumas condições, chamadas de “5 F’s”, em inglês, podem favorecer o desenvolvimento dos cálculos biliares. São elas: female (mulheres), family (histórico familiar/predisposição genética), fat (sobrepeso e obesidade), fertility (idade fértil) e forty (40 anos ou mais).
“Uma alimentação rica em gorduras e pobre em fibras, colesterol alto, diabetes, hipertensão arterial, sedentarismo, além do uso prolongado de anticoncepcionais também podem influenciar no aparecimento das pedras”, acrescenta Patury.
Tratamentos e prevenção
Diante da possibilidade dos cálculos evoluírem para problemas mais graves, o recomendado é que a vesícula seja retirada. Os indivíduos que têm as pedras e não são operados têm um risco de 30 a 50% de apresentarem uma complicação, o que os obriga a fazer uma operação de emergência.
“Em razão dos riscos que podem ser gerados com a presença dos cálculos biliares, retiramos a vesícula toda cirurgicamente, mesmo quando não há sintomas”, diz Patury.
Além da remoção cirúrgica, o uso de medicações para deixar a bile menos espessa pode ajudar em alguns casos, porém, o médico ressalta que elas não resolvem o problema de forma definitiva.
Para prevenir complicações na vesícula, ele recomenda um estilo de vida saudável. “Como sabemos que o sobrepeso e a obesidade são fatores de risco, o ideal é ter uma dieta rica em fibras, pobre em gorduras e alimentos industrializados, bem como a prática regular de atividade física”, indica.