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Choro e arquivo pessoal: os bastidores da série da morte de Daniella Perez

Por UOL

Daniella Perez foi morta em 1992 por Guilherme de Pádua e Paula ThomazImagem: Reprodução/ TV Globo

Há 30 anos, o assassinato de Daniella Perez chocou o Brasil. A atriz, filha da escritora Glória Perez, foi morta a tesouradas no dia 28 de dezembro de 1992 pelo então ator Guilherme de Pádua e a cúmplice Paula Thomaz. Nesta quinta-feira, a rumorosa história ganhará uma série documental na HBO Max que promete esmiuçar os detalhes do caso.

Dirigida por Tatiana Issa e Guto Barra, “Pacto Brutal” conta com cinco episódios e traz depoimentos de diferentes pessoas relacionadas ao caso, como o ex-marido de Daniella, Raul Gazolla, e a própria mãe da atriz, Glória Perez.

Conversar sobre a morte de uma filha com uma mãe enlutada não é algo simples, mas a diretora da produção contou a Splash que a dramaturga foi “muito aberta” para falar do assunto. “Ela foi muito franca, e fala pela primeira vez de maneira calma, com maturidade e com o distanciamento que é permitido hoje”.

“Mesmo assim, 30 anos depois, conversar com o irmão, o tio e a prima da Dani, com o Raul, e obviamente com a Glória, foi muito doloroso e difícil.”

“A gente chorava muito na entrevista com ela”

Tatiana Issa conta que pausas foram necessárias para conseguir seguir em frente com as entrevistas. “Parávamos para um café, porque a gente estava tocando em um assunto muito duro para ela falar. Para um documentarista, é preciso ouvir e deixar que esse diálogo aconteça com muito respeito, amor e calma. É necessário construir uma relação de confiança.”

Glória Perez deu depoimento de três dias para o documentário 'Pacto Brutal' - Reprodução/ Instagram - Reprodução/ Instagram

Glória Perez deu depoimento de três dias para o documentário ‘Pacto Brutal’ Imagem: Reprodução/ Instagram

“Pacto Brutal” conta com a presença de diversos atores, como Cláudia Raia, Fábio Assunção, Maurício Mattar, Cristiana Oliveira e Eri Johnson. De todos eles, a conversa com Glória Perez aconteceu por último.

Foi uma longa entrevista. Ela durou três dias e tem mais de 18 horas de depoimento.

A confiança entre Perez e a equipe foi tão grande que a escritora abriu o seu acervo pessoal sobre o caso aos documentaristas, com conteúdos coletados ao longo dos 30 anos que se passaram do crime.

Mesmo com a presença da mãe de Daniella Perez, a dramaturga não tem nenhuma conexão com o título. Ela não é produtora ou roteirista, apenas entrevistada e quem forneceu uma boa parte do arquivo.

Veja quem são os envolvidos no caso Daniella Perez

Daniella Perez vivia o auge da carreira quando foi assassinada, em 1992, por Guilherme de Pádua e Paula Thomaz. Ela era protagonista da novela “De Corpo e Alma”, escrita pela mãe, Glória Perez. Reprodução/ TV Globo

Daniella era casada com o ator Raul Gazolla. Ao documentário “Pacto Brutal”, contou que teve um ataque de fúria ao descobrir a morte da esposa. Reprodução

A dramaturga Glória Perez era mãe de Daniella e escrevia a novela “De Corpo e Alma”, na qual a filha trabalhava ao lado de Guilherme de Pádua, o assassino. Reprodução

O ator Stênio Garcia era muito próximo de Daniella Perez e por duas vezes interpretou o pai da atriz em novelas. No Instagram, o artista publicou fotos com ela, lamentando sua morte. Reprodução/Instagram StenioGarciaOficial

Guilherme de Pádua foi condenado a 19 anos de prisão pela morte de Daniella Perez. No entanto, passou apenas sete preso, pois recebeu liberdade condicional. Hoje, ele é pastor e casado com Juliana Lacerda. Reprodução/Facebook/Juliana Lacerda

Paula Thomaz, ex-esposa de Guilherme de Pádua, estava grávida à época do crime que foi cumplice. Ela foi condenada 18 anos e seis meses, mas ficou presa apenas sete. Reprodução

A decisão

O assassinato da Daniella Perez se tornou rumoroso não apenas por se tratar da morte de uma atriz em ascensão e que estava no ar com a novela “De Corpo e Alma”, na qual contracenava com Guilherme de Pádua – seu assassino -, mas também porque levou a uma mudança na lei. Por iniciativa de Perez, homicídio qualificado, praticado por motivo torpe ou fútil, ou cometido com crueldade, foi incluído na Lei dos Crimes Hediondos, com mais de 1 milhão de assinaturas. Assim, não é mais possível pagar fiança e é necessário mais tempo para a progressão de regime.

Foi o impacto e a repercussão do crime que convenceram os diretores a desenvolver a série. “A gente é de uma geração que foi muito impactada por essa história. Quando aconteceu, nos marcou bastante. Até hoje as pessoas falam: eu lembro exatamente onde eu estava quando eu recebi essa notícia.”

Raul Gazolla e Daniella Perez eram casados Imagem: Reprodução

Com “Pacto Brutal”, Barra pretende esclarecer alguns boatos e questões que foram surgindo com o desenrolar da história, como o rumor de que Daniella Perez e Guilherme de Pádua tinham um caso. “Essa afirmação é a que a gente mais ouviu. Ela se perpetua porque a narrativa tem sido contada de maneira errônea e sensacionalista, por parte da imprensa e da sociedade.”

Segundo o diretor e roteirista da série, essa confusão existe porque, à época, fotos de divulgação da novela mostravam os dois juntos, se olhando ou se beijando. “Eles tiveram um casinho rápido na trama de ‘De Corpo e Alma’ e a imagem foi divulgada pela imprensa à exaustão.”

“A imprensa e a sociedade começaram a tratar esse crime como um folhetim, como uma grande novela”, comenta Issa. “Era muito fácil misturar aquilo e achar que o crime era o que se passava dentro de uma novela, com as pessoas esperando o próximo capítulo.”

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O outro lado?

O julgamento aconteceu cinco anos depois do crime e Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram condenados por homicídio qualificado por motivo torpe, com impossibilidade da defesa da vítima. Ele, a 19 anos, e ela, a 18 anos e 6 meses. No entanto, com apenas sete anos de prisão, eles foram colocados em liberdade condicional.

Guilherme de Pádua e atual esposa foram em manifestações pró-Bolsonaro Imagem: Reprodução/Instagram

Mesmo fora da cadeia, nenhum dos dois aparece em “Pacto Brutal”. “A gente tomou essa decisão: esse documentário não é um lugar para dar espaço para a gente ouvir os dois que foram condenados pelo crime”, disse Barra.

“Ao longo dos anos, eles tiveram muito espaço na imprensa. Eles ofereceram diferentes versões que foram mudando. Houve até situações em que prometeram ‘contar o que nunca foi contado’, mas nada acontecia. Somos um documentário, é diferente de jornalismo.”

Por fim, Tatiana Issa diz que se trata de uma “família que não consegue ter paz” e dar espaço para os dois condenados pelo crime seria deixar que “versões mentirosas fossem perpetuadas”.

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