Jair Bolsonaro retorna no próximo domingo (24) ao seu berço político, o Rio, para se lançar oficialmente candidato à reeleição na Convenção Nacional do PL. O ato, no Maracanãzinho, está sendo concebido à imagem e semelhança do presidente: nacionalista e ufanista, com tons religiosos e militares, sob trilha sonora sertaneja.
A ideia dos organizadores é lotar o ginásio com 10 mil pessoas e colori-lo com bandeiras, faixas e luzes verde e amarelas. A dupla Mateus e Cristiano ficou incumbida de entoar o jingle de campanha, “Capitão do Povo”. Ao vice na chapa, o general Braga Netto, caberá representar o militarismo na convenção oficial. Mas não há previsão de que ele discurse.
A única pessoa a empunhar o microfone além da estrela principal do evento deverá ser a primeira-dama Michelle. Evangélica, ela deve fazer uma breve fala e puxar uma oração.
Segundo interlocutores, o presidente prepara o discurso em próprio punho, com a ajuda do filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ele recebeu sugestões também do núcleo duro da campanha, formado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, além de Braga Netto. A expectativa dos aliados é que o discurso seja ameno e de tom conciliador, destoando do tom incendiário que o presidente tem adotado nos últimos dias em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Aliados têm aconselhado Bolsonaro a exaltar o “legado” e as realizações de seu governo. Os feitos mais recentes a serem ressaltados são o aumento no valor do Auxílio Brasil, de R$ 400 para R$ 600, e do Vale-Gás, além do voucher de R$ 1.000 para caminhoneiros, e da redução de impostos que propiciou uma queda de cerca de 20% no preço dos combustíveis.
Se o script for cumprido, os únicos ataques serão direcionados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal rival na eleição, associando-o a termos como “ameaça do comunismo” e “ideologia de gênero”, que o presidente diz combater.
Entretanto, até mesmo as pessoas mais próximas do presidente não descartam ser surpreendidos pela sua tempestuosidade. Ministros, auxiliares na campanha, aliados políticos são incapazes de garantir se Bolsonaro seguirá o roteiro traçado e manterá a postura amena.
O lançamento oficial da campanha ocorre apenas seis dias depois de um encontro incendiário no Palácio da Alvorada. Na residência oficial, Bolsonaro colocou em xeque a integridade do sistema eleitoral diante de uma plateia de 70 embaixadores estrangeiros.
O presidente também vem atacando ministros do STF e do TSE como Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Internamente e na comunidade internacional, há dúvidas sobre se a postura de Bolsonaro representa um discurso antecipado de derrota ou a possibilidade de não reconhecimento do resultado da eleição, caso ele não vença.
Nos bastidores, aliados do presidente rechaçam que um golpe esteja sendo gestado. Mas insinuam a possibilidade de “tumultos”, caso não haja “confiança da população” nas urnas eletrônicas, tão atacadas por ele.
Bolsonaro dá a largada oficial na campanha em um momento que mescla otimismo e preocupação entre seus apoiadores. Ele vem tendo dificuldades para se aproximar de Lula e ultrapassá-lo nas pesquisas de intenção de voto, algo que auxiliares como Ciro Nogueira previam que já teria acontecido no início de julho.
Agora, o entorno de Bolsonaro aposta que a “PEC das Bondades”, que abriu R$ 41 bilhões no Orçamento para ampliar os benefícios sociais, dará novo fôlego ao presidente. Antes da medida, os mais pessimistas dentro da campanha admitiam até mesmo a possibilidade de uma derrota para o petista em primeiro turno.
Espera-se que os benefícios ajudem o presidente a pelo menos reduzir a distância para Lula no Nordeste. Ali, Bolsonaro enfrenta altos índices de rejeição (62%) e tem uma desvantagem de 30 pontos percentuais para o petista, segundo a última pesquisa Datafolha.
Michelle, por sua vez, será fundamental para ajudar Bolsonaro a vencer a resistência das mulheres, que chega a 61% no mais recente levantamento do instituto. Para isso, a campanha à reeleição terá que convencê-la a aumentar a participação em eventos ao lado do presidente, algo que não vem ocorrendo até o momento.
O evento no Maracanãzinho ocorrerá com portões abertos. A plateia será acomodada no ginásio por ordem de chegada até o limite de 10 mil pessoas.
O PL chegou a oferecer ingressos gratuitos via internet, mas o site do partido foi alvo de ataques de opositores que tentaram se inscrever para esvaziar o evento. Ao todo, 50 mil pessoas chegaram reservar um lugar, mas descobriu-se que boa parte dos pedidos era fraudada.