Filha do petista Wilson Pinheiro será candidata a deputada federal pelo União Brasil

Ela tinha 15 anos de idade, trabalhando como empregada doméstica em Rio Branco, quando recebeu a pior notícia que um filho ou filha pode receber: seu pai havia acabado de ser assassinado com pelo menos dois tiros, que lhe vararam o corpo e abriram caminho para por a pequena Brasiléia cidadezinha com pouco mais de duas mil almas naquele longínquo 21 de julho de 1980, na rota histórica de abate de homens e mulheres que lutam por uma causa coletiva.

No caso, o homem morto era Wilson Pinheiro de Souza, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, morto no ápice do enfrentamento entre seringueiros e fazendeiros que caracterizaram o Acre dos anos 1970 até a década de 90, com o registro de outros assassinados, como de Ivair Higino e Chico Mendes, em 1988, em Xapuri, e Jesus Matias de Souza, em 1984, também lá em Brasiléia. Pinheiro foi assassinado quando fundava o PT, ao lado de Chico Mendes, na região do Alto Acre.

Hiamar é filha do petista Wilson Pinheiro, sindicalista assassinado em 1980 em Brasiléia

A empregada doméstica que sofreu aquele duro golpe naquela noite que para ela e sua família ainda não terminou – exatamente porque, mais de 42 anos depois, não se sabe quem foram os executores ou mandantes do assassinato de Wilson – é, hoje, a professora Hiamar Pinheiro.

Aposentada aos 57 anos, além da história particular que carrega em função do assassinato de seu pai, ela é o que se pode chamar de uma legítima acreana. Egressa de seringais, estudou em escola pública e se formou em Educação Física pela Universidade Federal do Acre (Ufac).

Tornou-se professora, casou-se e teve quatro filhos. Foi vereadora, secretária municipal de Esporte e presidente da Câmara Municipal, cargo no qual teve todas as suas contas aprovadas pelos órgãos de controle.

Hiamar Pinheiro é pré-candidata a deputada federal pelo União Brasil

Aposentada há cinco anos, agora é produtora rural, lidando num meio em que adquiriu também o respeito e admiração da população de seu município, Epitaciolândia, bem como de toda região do Alto Acre. Convidada para ser candidata a deputada federal pelo União Brasil, aceitou o desafio porque diz ter causas, propostas, compromissos com a sua gente, coerência em sua trajetória e reconhecidamente um discurso articulado.

“Não sou nem quero ser melhor do que ninguém. Porém, a nossa gente terá uma legítima representante”, compromete-se Hiamar, para quem o desenvolvimento e a melhoria na qualidade devida dos acreanos são as suas principais propostas. A seguir, os principais trechos da entrevista ao ContilNet:

Por que a senhora quer ser deputada federal? Não é um passo grande para as suas pernas?

Hiamar Pinheiro – Primeiramente, ninguém é candidato de si próprio. Esse é um passo do tamanho da nossa necessidade. A população se ressente de uma representação consequente e proativa. O pré-requisito principal não é ser integrante de um grupo político. Ao contrário, não aguentamos mais políticos profissionais e carreiristas, amparados por esquemas familiares e de poder, que se elegem e abandonam a população. Eu não sou totalmente a integridade em pessoa. Isso é só Jesus Cristo. Todavia, quem me conhece sabe que sou comprometida com os reais interesses do nosso estado e da nossa gente.

O que a senhora vai propor? Quais são as suas causas ou bandeiras?

Hiamar Pinheiro – Eu vou contar a minha história e a do meu pai. Essa candidatura é o reconhecimento da meritocracia.

O meu sonho é que um dia possamos ter algum tipo de vida comunitária, onde nós nos empurramos a nós mesmos [para frente e para o alto] e também aos outros para vencer. Quero ser a voz dos acreanos e da minha região.

A minha principal causa é ajudar a tirar o Acre do subdesenvolvimento. Possuímos uma localização estratégica e podemos produzir tudo aquilo que é vocacional. A região onde eu moro, que se estende até a fronteira com o Estado do Amazonas, englobando os municípios de Epitaciolândia, Capixaba, Senador Guiomard, Plácido e Acrelândia, e toda propícia à produção de grãos em alta escala. Acontece que só podemos utilizar 20% dessas terras. Os outros 80% estão destinados à preservação. Isso é um absurdo. Vou lutar para inverter essa lógica e produzirmos em 80% desse território.

Então a senhora é uma defensora do agronegócio?

Hiamar Pinheiro – Os grandes agropecuaristas já estão consolidados. Cerca de 90% da população do campo é formada por pequenos e médios. Eu integro esse percentual. Precisamos produzir e industrializar as nossas matérias-primas. Para isso acontecer, é preciso existir uma imediata regularização fundiária, acompanhada por uma política agrícola de Estado, com assistência técnica continuada, melhoramento de ramais, acesso à energia convencional e à solar, internet via satélite, serviços de saúde e educação, além da abertura de linhas de crédito para o financiamento da produção e aquisição de equipamentos agrícolas.

Campo rico, cidades ricas, campo pobre, cidades miseráveis. Vou fazer a interlocução do poder estatal com as indústrias e as agroindústrias, principais vetores da geração de emprego e renda. Sejamos sinceros: em nenhum governo do Acre a agricultura foi prioridade.

O seu pai e a senhora têm uma história ligada às bandeiras da esquerda. Por que mudou de lado?

Hiamar Pinheiro – A esquerda já deu a sua contribuição para o Brasil e para o Acre. Veja esta metáfora: “Não podemos jogar a água suja da banheira com a criança e a banheira juntas”. Essa nomenclatura esquerda X direita já está superada há décadas. Basta lembrarmo-nos do governo do ex-presidente FHC, que fez alianças com setores conservadores e privatizou muitas estatais tidas como estratégicas. E o governo do PT? Este foi o mais fiel aliado dos banqueiros e, pasmem, nem pensou em fazer uma reforma agrária neste país. Tem muita balela e pouco empreendedorismo e geração de riquezas. Eu sempre tive uma boa relação com todos os setores da sociedade. E será com eles que pretendo fazer um mandato coletivo.

Mandato coletivo? O que é isso?

Hiamar Pinheiro – Mandato coletivo ou mandato compartilhado, também conhecido como candidatura coletiva ou candidatura compartilhada, é uma forma de exercício de cargo eletivo legislativo em que o representante se compromete a dividir o poder com um grupo de cidadãos. Enquanto em um mandato tradicional o legislador tem a liberdade de votar de acordo com seus interesses e consciência, no mandato coletivo o legislador consulta as pessoas antes de definir seu posicionamento frente a matérias legislativas. Assim, a vontade das pessoas determina o posicionamento e voto do legislador.

Como está a sua pré-campanha?

Hiamar Pinheiro – A nossa pré-candidatura está sendo construído a muitas mãos. Tenho consciência do dever que me espera. Como cidadã e mulher pública já cumpri o meu dever. Na Câmara dos Deputados, podemos fazer muito mais. O meu nome é bem recepcionado e as adesões, a maioria espontâneas, acontecem na minha região. Estou ouvindo as pessoas, principalmente os líderes do movimento social, trazendo-os da condição de figurante para ser protagonista. Alguns jornalistas chamavam o meu pai de sujeito coletivo. Inspirada nisso, definimos que a minha campanha e o meu futuro mandato serão coletivos.

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