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Guilherme de Pádua foi ator de filme erótico, stripper e hoje apoia Bolsonaro

Por O TEMPO

Guilherme de Pádua — Foto: Reprodução

No início da pandemia, em 2020, quando Jair Bolsonaro minimizou o impacto da Covid e conclamou seus apoiadores a irem às ruas contra o isolamento social, ele ganhou um apoio ruidoso. Foi do ex-ator Guilherme de Pádua, hoje pastor batista, condenado pelo assassinato de sua colega de elenco Daniella Perez.

“Esses políticos corruptos, esses esquemas de tetas públicas que o pessoal fica só explorando o povo brasileiro, e o dinheiro e as melhorias não chegam na mão do povo, não chegam na vida do povo”, disse o apoiador do presidente nas redes sociais em ato em Brasília. “Se Deus quiser, o Brasil vai mudar”.

Naquele mesmo, vale dizer, De Pádua voltaria a endossar o presidente quando das eleições municipais. “Quem está decidindo as eleições não são os radicais, nem de direita nem de esquerda. São os moderados, aqueles que querem um Brasil melhor, que querem um Brasil pacificado. Então, seja quem ganhar parece que a chance é maior do Bolsonaro.”

O presidente, até onde se sabe, não se manifestou a respeito do apoio que recebeu.

Nesta semana, o nome de Guilherme de Pádua voltou aos holofotes com a estreia da minissérie documental “Pacto Brutal”, obra em cinco episódios que estreou nesta quinta-feira jogando luz sobre o assassinato da atriz Daniella Perez, morta aos 22 anos, em 28 de dezembro de 1992.

O corpo dela foi encontrado pela polícia, ao lado de seu carro, no matagal de uma até então pouco adensada Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, com 18 perfurações, a maioria concentradas na região do coração. O relato de uma testemunha levou a polícia a De Pádua, que era colega de elenco da vítima, e à então mulher dele, Paula Thomaz.

Mineiro de Belo Horizonte, ele nasceu em 1969 e chegou ao Rio de Janeiro no final dos anos 1980, disposto a tentar uma carreira no meio artístico. Quando do crime, Guilherme de Pádua estava no ar na novela “De Corpo e Alma”, interpretando Bira, um motorista de ônibus que fazia par amoroso com Yasmin, que por sua vez era interpretada por Daniella Perez –que por sua vez era filha da autora do enredo, Gloria Perez.

Com a novela, que estreou em agosto de 1992, a roteirista assumia a sua primeira trama das oito em voo solo. O enredo principal girava em torno de Paloma, papel de Cristiana Oliveira, que recebia o coração transplantado de outra mulher, Betina, grande amor de Diogo, papel de Tarcísio Meira. Yasmin, por sua vez, era irmã de Paloma, a protagonista da história.

Em “Pacto Brutal”, Gloria Perez conta que Guilherme de Pádua chegou ao elenco de “De Corpo e Alma” meio que por acaso, já que Alexandre Frota, que estava designado para o papel, tinha outros compromissos. Foi então, diz ela, que Roberto Talma, diretor da trama, pinçou a ficha do ator mineiro num banco de dados de intérpretes iniciantes. Na TV ele só havia feito uma participação em “Mico Preto”, novela das sete que foi ao ar em 1990.

Se na televisão ele dava os seus primeiros passos, no teatro já tinha somado mais papéis. Na peça “Pasolini”, por exemplo, ele interpretou o garoto de programa responsável pela morte do célebre diretor italiano. Voltaria a interpretar um michê no musical “Blue Jeans”, que causou um estouro na virada dos anos 1980 para os 1990.

Wolf Maya, diretor do espetáculo, fala em “Pacto Brutal” de como conheceu o jovem vindo de Belo Horizonte numa moto. Fábio Assunção, que estava no elenco, assim como Alexandre Frota e Maurício Mattar, se recorda de um soco cênico que Guilherme de Pádua acabou desferindo de verdade.

Por fim, o ator também voltou a interpretar um garoto de programa em “Via Appia”, filme erótico alemão rodado no universo das saunas de prostituição masculina de Copacabana.

Na época ele também participou do show de strip-tease que a travesti Eloína dos Leopardos mantinha na Galeria Alaska, conhecido point gay no bairro da zona sul carioca, e que terminava com todos os rapazes ficando completamente nus.

Foi por volta dessa época que começou o envolvimento dele com Paula Thomaz, que na série é pintada como uma encrenqueira que já havia brigado por ciúmes do marido e que idolatrava entidades místicas que estariam por trás de um suposto sacrifício ritual do qual Daniella Perez foi vítima. Não à toa, diz a produção, amparada por uma ocultista, ela morreu em noite de lua nova.

É fato que Guilherme de Pádua havia declarado ter um guia espiritual e que um exame constatou que as perfurações no corpo da atriz indicavam o uso de um punhal, nunca encontrado, e não de tesoura, como argumentado pelos réus
Bernardo Braga Pasqualette, o autor do livro-reportagem “Daniella Perez: Biografia, Crime e Justiça”, lançamento da editora Record em processo de finalização, diz que “é injusto fazer associações entre a vida dos acusados e o assassinato”. “As pessoas têm de responder pelo que fizeram e não por outras coisas”, diz, acrescentando que homofobia, dirigida a Pádua, sexismo, a Thomaz, e preconceito contra religiões de matriz africana, dirigido a ambos, sempre pairaram em torno do caso. “Houve uma espetacularização do passado deles.”

Na noite de 28 de dezembro de 1992, o corpo de Daniella foi encontrado num matagal na Barra da Tijuca, perfurado por cerca de 18 punhaladas realizadas com uma tesoura que feriram seus pulmões e o coração.

Cada um dos dois foi condenado por homicídio qualificado a uma pena de quase 20 anos de prisão, após o júri popular acatar a tese da acusação de que o casal premeditou o crime –ela, por ciúmes do marido; ele, por vingança contra a autora da novela, já que seu papel na trama vinha sendo reduzido. O ator não queria deixar o romance da trama acabar, é o que defende a tese do seriado.

Os dois têm versões diferentes. Paula Thomaz nega que tenha participado. Guilherme de Pádua, que, em depoimentos à polícia, assumira a culpa, depois passou a sustentar a tese de que a sua então mulher, tomada de ciúmes pela relação dos dois parceiros de cena, é quem teria se atracado com Daniella Perez no matagal.

Há cinco anos, o ex-ator se tornou pastor da Igreja Batista da Lagoinha, em sua cidade natal, Belo Horizonte. Guilherme de Pádua concedeu poucas entrevistas sobre o caso, mas seu nome sempre reaparece por aí, como quando criou um canal no YouTube para falar de sua conversão religiosa. Numa de suas últimas aparições públicas, em 2020, foi às ruas num protesto pró-Bolsonaro.

Guilherme de Pádua e Paula Thomaz se separaram logo depois do crime. Hoje um pastor batista em Belo Horizonte, ele se casou com a maquiadora Juliana Lacerda em 2017.

“Casei com o Guilherme porque o amo de verdade e ele é a realização de um sonho em minha vida”, disse Lacerda ao jornal Extra na época da cerimônia. “Ele é um homem maravilhoso, só quem o conhece sabe o quanto. Ele não é rico, tem um passado triste, mas, mesmo assim, costumo dizer que ele é o meu marido cem vezes mais.”

“Procurem saber do caso aí direitinho que vocês vão saber o que aconteceu”, disse ela depois, nas redes sociais, emendando que “coisas absurdas aconteceram” após crime. “Se eu for falar aqui, vai ser muito polêmico, muito chocante para vocês”, disse. “O Guilherme não é assassino de ninguém.”

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