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“Lutar sempre foi meu sonho, hoje eu torno ele realidade”, diz acreano lutador de MMA nos EUA

Por CAMILA GOMES, DO CONTILNET

Desde os cinco anos de idade, Matheus Camilo já gostava de praticar esportes, seu primeiro contato foi com a capoeira. Assistir as lutas que passavam na televisão com seu pai e irmão já era tradição e não parava por aí, Camilo se identificava tanto com as artes marciais que sua brincadeira favorita com os amigos era colocar a primeira luva que viam pela frente e brincar todos os dias na Rua Quinze, no bairro Sobral.

Lutar não era algo negativo aos olhos do Matheus, pra ele sempre foi algo além, como ele mesmo diz, um grande e eterno sonho. Competições de UFC, por exemplo, o deixavam emocionado, foi então que Gentil, seu pai, percebeu qual era o propósito do filho.

Foto: arquivo cedida

Assim que completou 12 anos, Matheus escutou do pai que precisava encontrar a melhor academia de luta da cidade e então o garoto começou suas buscas, foi aí que encontrou sua primeira “casa”. 

“Achamos a academia de artes marciais do mestre Rivelino. Meu pai me matriculou, iniciei treinando Jiu-jitsu e Kickboxing ao mesmo tempo e aquela paixão só crescia. Eu não faltava nenhum treino e queria aprender sempre mais, minha mãe dizia que eu era um cara fominha, até hoje ela me fala isso”, comenta Matheus.

Matheus com seu primeiro mestre, Rivelino. Foto: arquivo pessoal

Nessa época, Camilo não tinha técnica, mas treinava sempre. Após um tempo de preparação, o atleta evoluiu no Jiu-jitsu e competiu a primeira vez no Brasileiro de Jiu-jitsu, no estado de São Paulo, em seguida, prosseguiu para o mundial e o sonho de Matheus só intensificou, tanto pra ele quanto para sua família, que sonhava junto.

A preparação estava só começando

Quando Matheus completou 15 anos, Francimar Barroso, conhecido internacionalmente  como ‘Bodão’, abriu seu Centro de Treinamento na capital acreana, o CT Bodão. Um certo dia, seu Gentil andando próximo ao Terminal Urbano, avistou essa academia, mas o que lhe chamou atenção foi a placa bem grande escrito “em busca de campeões”, foi então que ele pensou que o filho deveria estar ali.

“Quando meu pai me disse isso, eu só conseguia imaginar que o Bodão foi o primeiro acreano a entrar no Ultimate Fighting Championship (UFC) e eu seria o segundo. Conversei com meu mestre atual da época, que me deu a benção, e fui para minha nova academia. Assim que eu cheguei, parece que meu sonho despertou três vezes mais. Após um ano treinando, o Bodão escolheu três alunos, eu e mais dois colegas, para conhecer a academia que ele fez toda a sua carreira, só que era no Rio de Janeiro”, relembra Camilo.

Foto: arquivo pessoal

Para que Matheus conhecesse a conceituada academia Nova União, treinada pelo ex-lutador e mestre Dedé Pederneiras, ele precisou ir até o Rio de Janeiro. Então aos 17 anos, Camilo desembarca no chão carioca, mas assim que chegou já não quis mais retornar, pediu ao pai para que ficasse por lá mesmo, mas mesmo apoiando o sonho do filho e dando todo a ajuda necessária, seu Gentil sempre foi muito firme com Matheus, principalmente com seus estudos, então disse ao filho para que retornasse e assim que ele terminasse o Ensino Médio, ele poderia fazer e ir para onde quisesse.

Do Acre para o mundo

Matheus voltou para o Acre, aos 17 anos terminou os estudos como seu pai havia pedido e logo em seguida Bodão já queria o levar para Las Vegas, assim foi feito. Camilo estava em sua primeira viagem internacional.

“Foi um caminho árduo chegar até aqui, colocar os pés em Las Vegas foi uma grande vitória, eu acredito com certeza que Deus me guiou em cada etapa. Lembro como se fosse hoje, minha mãe fazendo uma feijoada beneficente pra gente levantar um dinheirinho e a cada dia, semana e mês que passava, tudo o que eu sonhei um dia parecia estar mais próximo de se realizar. Assim que botei os pés em Las Vegas eu já sabia o que queria pra minha vida”, conta o atleta.

Matheus Camilo e seu amigo de caminhada, Pedro Falcão na Xtreme Couture. Foto: arquivo pessoal

Já em terras acreanas novamente, quando Matheus completou 18 anos, teve a sua primeira luta profissional de artes marciais mistas, ou do inglês MMA. Fez sua estreia em Rio Branco e depois de um curto espaço de tempo, seu pai já havia comprado suas passagens para o Rio de Janeiro, logo comunicou seu mestre Bodão e partiu para mais uma fase do seu propósito de vida.

Com uma mochila nas costas e 300 reais no bolso, que seu Gentil havia lhe entregado, Camilo estava nas ruas do Rio de Janeiro. Avistou o mestre Dedé, mesmo envergonhado, foi até ele e pediu para treinar na sua academia, mais uma etapa conquistada, o mestre o recebe e assim Matheus acreditou que ali era seu lugar.

Matheus Camilo na sua última luta. Foto: arquivo pessoal

“Quando eu comecei a lutar na Nova União, foi quando eu aprendi a ser um profissional de verdade, aprendi muito com o mestre Dedé. Fiz minha segunda luta, perdi e então voltei para o Acre. Permaneci por um tempo, porém logo retornei ao Rio e essa segunda vez foi o período em que eu mais cresci na minha vida, ter perdido aquela luta me levou a dedicação e aperfeiçoamento”, frisa o atleta.

Algumas pedras no caminho são gigantescas 

Matheus Camilo estava na sua melhor fase. Evoluindo e crescendo a cada dia, porém chegou a pandemia. O vírus que assolou o mundo inteiro, infelizmente também chegou na casa dos pais de Matheus. Enquanto estava no RJ, seu pai acabou sendo infectado pelo coronavírus.

O maior apoiador dos sonhos de Matheus era seu pai, seu Gentil. Foto: arquivo pessoal

“Meu pai foi entubado. Voltei para o Acre às pressas, mas não consegui ver ele a tempo e ele acabou falecendo. Ele me ligava todos os dias pra saber como eu estava, era meu maior incentivador, eu não sabia viver sem ele, na verdade, ainda não sei, estou me adaptando, até hoje é muito difícil pra mim. Eu ainda estava no Acre e não conseguia mais sair de perto da minha família, mas minha mãe me disse pra continuar em busca dos meus sonhos e não parar no tempo. Mesmo sem forças consegui voltar e minha motivação continuava sendo minha família”, relembra Camilo.

Seu Gentil assistindo um dos treinos do seu filho. Foto: arquivo pessoal

Realização de um sonho

Entre lutas e oportunidades, mais uma vez, Matheus estava em Las Vegas, dessa vez para ficar e fazer história, a sua história. As dificuldades não o deixaram, mas ele persistiu.

“Meu primeiro contrato internacional foi com o XFC MMA, mas hoje estou no meu segundo contrato que é com o Fury Fighting Championship. Conheci alguns empresários e fechei contrato com os agentes Jason House e Lance Spaude, da Iridium Sports, agência que têm muitos atletas do UFC. Minha vida tem melhorado cada vez mais e isso é só o começo perto de onde vou chegar”, finaliza Camilo.

Matheus e seus empresários/agentes, Jason House e Lance Spaude, da agência Iridium Sports. Foto: cedida

Lucas Camilo, irmão do lutador, conta que desde criança, Matheus tinha muita aptidão para qualquer esporte, logo cedo ele começou na capoeira no bairro Sobral e depois foi só conquistando mais e mais espaço. 

“Quando ele começou na luta, estávamos passando por muita dificuldade financeira, tanto é que no primeiro campeonato dele, ainda muito menino, nós não tínhamos dinheiro para o lanche, então nosso pai levou comida de casa. Quem vê o Matheus nos Estados Unidos hoje, não sabe o que ele passou pra chegar lá. Meu irmão sempre pensou grande, mas mais do que isso, sempre se esforçou muito e passou por muitas dificuldades como atleta. Admiro e amo demais meu irmão”, diz.

Matheus Camilo com sua mãe, dona Meire e seu irmão, Lucas. Foto: arquivo pessoal

Lucas ainda continua, afirmando que o irmão carrega o espírito brasileiro, que não desiste nunca. Além disso, Lucas faz questão de enfatizar a alegria de toda a família com a trajetória do Matheus e que hoje em dia, o atleta ajuda a família financeiramente através do seu talento no esporte.

Atualmente, Matheus Camilo tem 21 anos e reside em Las Vegas, Nevada. Sua nova casa é Xtreme Couture, mas carrega a academia Nova União sempre no coração. Camilo luta na categoria peso pena – 66kg. 

Matheus e seu treinador, André Perdeneiras.
Foto: arquivo pessoal
Foto: cedida
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Matheus carrega sempre seu pai e seu estado no coração. Foto: arquivo pessoal
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Matheus e também seu Treinador James Gifford. Foto: cedida
Treinador Geovanni Diniz. Foto: arquivo pessoal
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