O MDB do Acre não deverá acompanhar o movimento de diretórios do partido em 11 estados em apoio à candidatura petista do ex-presidente Luís Inácio Lua da Silva já no primeiro turno, numa espécie de traição anunciada à candidatura presidencial emedebista da senadora Simone Tebet.
A traição devera ser formalmente anunciada na convenção do partido marcada para o próximo dia 27, em Brasília, segundo ficou definido nesta segunda-feira (18), numa reunião do MDB dissidente e pró-Lula em São Paulo.
A articulação em favor de Lula dentro do MDB na Amazônia é feita por ninguém menos que o senador Eduardo Braga, do MDB do Amazonas e que tem profundas ligações com o MDB do Acre. Apesar disso, o MDB acreano, que vai apresentar a deputada federal Mara Rocha como candidata ao Governo, não vai marchar com Lula, informou uma fonte do partido ao ContilNet, esta tarde.
A dúvida do partido em relação à chapa local diz respeito à deputada federal Jessica Sales, que vinha se movimentado para ser candidata ao Senado, mas seus médicos vêm recomendando que ela não dispute a eleição majoritária porque ainda convalesce de um tratamento quimioterápico de combate a um câncer de mama. Embora já curada, a doença deixou sequelas na parlamentar, a qual não teria, ainda, imunidade suficiente para enfrentar uma campanha que exige maior esforço que a disputa pela Câmara Federal, cargo pelo qual ela deverá acabar se inclinando se os médicos mantiverem a observação relacionada à falta de condições físicas.
“Neste caso, ou vamos apresentar um nome novo ou apoiar um dos candidatos ao Senado já postos e que tenha afinidade conosco”, disse a fonte, sem revelar quem teria, entre os candidatos já postos, alguma afinidade do MDB.
Em tese, pelas alianças anteriores em nível federal, quando o MDB foi inclusive peça chave de apoio ao petismo, com o emedebista Michel Temer chegando à vice-presidência da República e depois se tornando presidente com a queda da presidente Dilma Rousseff, em 2016, seria o candidato Jorge Viana, do PT, caso este seja candidato ao Senado. O problema é que as sequelas deixadas pelo golpe em Dilma Rousseff, pelo menos na ala do petismo acreano, não teria espaço para uma junção com o MDB.
Ainda em nível local, o MDB, por sua vez, se manteria fiel à candidatura de Simone Tebet, mas não exatamente por fidelidade à senadora matogrossense. Uma aliança local neste sentido é inviável por causa de divergências – para não dizer animosidade – histórica entre as lideranças do MDB e do PT. São coisas que remontam mais de 30 anos, desse a época do governo Flaviano Melo, atual deputado federal e presidente regional do MDB. Se isso era verdade ou não, as denúncias petistas contra o MDB acabaram por resultar em crescente votações para os candidatos do PT em diversas disputas para o Governo do Estado e a Prefeitura de Rio Branco que resultaram em vitória do petismo a partir de 1998 e só derrotado e tirado do poder, em 2018, quase 30 anos depois, com a candidatura de Gladson Cameli numa coligação da qual o MDB fazia parte.
Agora, em carreira solo em relação ao governo que ajudou a eleger, os emedebistas locais renegam qualquer aproximação com o petista ou com Lula, apesar dos movimentos de suas lideranças em nível nacional. Na decisão tomada hoje em São Paulo, as lideranças do MDB anunciaram que, apesar da candidatura de Tebet, vão apoiar Lula já no primeiro turno.
O encontro entre líderes petistas e emedebistas em São Paulo foi realizado na sede da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, localizada no centro da capital paulista.. Mesmo com a pré-candidatura da senadora Simon Tebet pelo partido, o apoio dessa ala já estava claro em viagens do ex-presidente. O grupo que encontrou Lula e a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT, incluiu governador, senadores, ex-governadores, presidentes de diretórios estaduais e líderes do partido na Câmara e no Senado.
São parlamentares de nove diretórios que representam, ao todo, 11 estados: Alagoas: governador Paulo Dantas, senador Renan Calheiros, ex-governador Renan Filho e deputado Isnaldo Bulhões, líder do partido na Câmara; Amazonas: senador Eduardo Braga, líder do partido no Senado; Bahia: ex-deputado Lúcio Vieira Lima Ceará: ex-senador Eunício de Oliveira; Espírito Santo: senadora Rose de Freitas; Maranhão: ex-senador Edson Lobão, representando também a família Sarney; Paraiba: senador Veneziano Vital do Rêgo; Piauí: senador Marcelo Castro; Rio de Janeiro: deputado Leonardo Picciani; Pará, com o governador Helder Barbalho e o senador Jader Baralho, e Rio Grande do Norte, com o ex-senador Garibaldi Filho.
Dentro do PT, as articulações são feitas pelo deputado José Guimarães (PT-CE), um dos coordenadores da campanha de Lula no Nordeste. O encontro de hoje teve um perfil mais simbólico. Em parte desses estados, os acordos já estão consolidados. Em Alagoas, Lula já subiu no palanque junto a Renan e com Renan Filho, pré-candidato ao Senado, em torno da reeleição de Dantas.
O mesmo movimento ocorreu no Piauí, com o deputado estadual Themístocles Filho (MDB), presidente da Assembleia Legislativa piauiense, como vice na chapa de Rafael Fonteles (PT); e no Rio Grande do Norte, com o deputado Walter Alves (MDB-RN) como vice pela reeleição de Fátima Bezerra (PT). Em outros estados, os apoios foram consolidados mais recentemente. No Amazonas, Lula deverá subir no palanque de Braga, com acordo costurado pelo senador Omar Aziz (PSD), que busca reeleição.
Já havia a expectativa de que os três se unissem no estado, embora Aziz e Braga não sejam exatamente próximos, mas o martelo foi batido na viagem a Brasília, na última semana. O diretório do Pará também se uniu ao grupo. Embora Helder e Jader Barbalho tenham sido representados na reunião, eles visitaram Lula em São Paulo na semana passada e os três devem subir juntos no palanque na eventual viagem do ex-presidente ao Pará.