O cônsul alemão Uwe Herbert Hahn, denunciado pelo assassinato do próprio marido, o belga Walter Henri Maximilien Biot, retornou para seu país de origem nesta segunda-feira (29).
Ele saiu do Rio na noite deste domingo e chegou à Frankfurt, na Alemanha, na manhã desta segunda.
Ao apresentar à Justiça os motivos para pedir que o cônsul alemão volte para a cadeia, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que o estrangeiro não entregou o passaporte e estava prestes a se mudar para o Haiti.
Uwe foi denunciado por homicídio triplamente qualificado: motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. O crime aconteceu no dia 5 de agosto.
Na denúncia, além de alertar para o fato do alemão ainda estar com o passaporte e de mudança marcada para o Haiti, a promotora de Justiça Bianca Chagas de Macêdo lembrou que o cônsul tem condições financeiras de fugir – destacando que ele pode fazer isso “a qualquer tempo”.
A promotora menciona, também, que a prisão de Uwe pode evitar que testemunhas sejam intimidadas. De acordo com a denúncia, o alemão “acredita gozar de amplos poderes”.
Cônsul foi solto
Na quinta-feira (25), a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu liberdade para Uwe. Ele deixou a Casa do Albergado Crispim Ventino, em Benfica, na Zona Norte do Rio, um dia depois.
Na decisão, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita alegou que houve “flagrante excesso de prazo para a propositura da ação penal” por parte do Ministério Público, e deferiu o relaxamento da prisão.
O MP, por meio da 1ª Promotoria de Justiça junto ao IV Tribunal do Júri da Capital, rebateu, afirmando que até aquela data não tinha sido intimado para oferecimento de denúncia. O 4º Tribunal do Júri afirma que a promotoria foi, sim, intimada.
Outro pedido foi negado
No início do mês, a defesa do cônsul já tinha pedido que ele fosse solto. Na época, ele pedia a revogação da prisão alegando “ausência de flagrante” e afirmando que houve inviolabilidade pessoal e invocando a Convenção de Viena para o seu posto de cônsul.
A prisão
Uwe foi preso no dia 7 de agosto pelo crime no apartamento do casal em Ipanema, na Zona Sul do Rio. O alemão disse que o marido sofreu um mal súbito, na noite anterior, bateu a cabeça e morreu.
Entretanto, o laudo Instituto Médico Legal constatou ferimentos na cabeça e no corpo da vítima.
Surto e queda
Uwe contou que estava na cozinha preparando uma massa, depois voltou para sala para fumar ao lado do marido, no sofá. Segundo ele, de forma repentina, o marido teve um surto, se levantou, começou a gritar e correu apressadamente em direção ao terraço, quando caiu e bateu a cabeça.
O cônsul disse ficou desesperado e chegou a dar um tapa nas nádegas de seu marido para tentar reanimá-lo, e que depois foi até a portaria para pedir ajuda ao porteiro, que acionou o Samu.
Lesão na parte posterior
De acordo com o laudo, a lesão que provocou a morte de Biot foi traumatismo craniano na parte posterior do corpo. Contudo, o marido relatou que a vítima caiu de frente para o chão.
“Trauma craniano, em que pese, não ter provocado fratura, ainda assim é passível de lesão intracraniana pelo impacto (golpe), contragolpe e aceleração-desaceleração do cérebro móvel”, indica o perito, que não descarta nenhuma possibilidade no momento da queda.
Em função disso, ele ressaltou que aguarda a perícia do local e exame toxicológico para definir outras possibilidades.
Morte violenta
A análise do corpo no IML e a perícia no apartamento do casal, em Ipanema, mostraram que o belga foi alvo de uma morte violenta, de acordo com a polícia.
“A conclusão foi baseada na perícia técnica e a versão apresentada pelo cônsul de que a vítima se exasperou e caiu, ela está na contramão das conclusões do laudo pericial”, disse a delegada Camila Lourenço, da 14ª DP, ao justificar o pedido de prisão do cônsul.
Inicialmente, o Samu foi chamado para socorrer Walter, mas o médico encontrou o belga já em parada cardiorrespiratória e com lesões no corpo — em especial, uma na cabeça e outra nas nádegas —, a equipe não quis atestar a morte e o corpo foi encaminhado para o IML.
Marcas no corpo e limpeza no apartamento
O caso foi registrado na 14ª DP (Leblon). A perícia da Polícia Civil foi chamada e encontrou situações suspeitas no lugar. A primeira delas é que o apartamento havia sido limpo por uma secretária do cônsul.
Ela disse que providenciou a limpeza porque um cachorro estaria lambendo poças de sangue.
Os peritos também detectaram manchas de sangue em uma poltrona, que parecia ter sido recém-lavada. O casal estava junto havia 23 anos, e morava havia quatro anos no Rio.
Na delegacia, o cônsul disse à polícia que o marido estava triste porque o casal estava de mudança para o Haiti. Walter faria 53 anos no próximo sábado.