O universo não é um lugar silencioso. A Nasa acaba de publicar, nas redes sociais, um clipe audível das ondas emitidas por um buraco negro, localizado a cerca de 250 milhões de anos-luz da Terra (cada ano-luz corresponde a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros).
Com massa de 6,6 vezes a do nosso Sol, este buraco negro fica no centro do aglomerado de galáxias conhecido como Perseu. O som captado foi alterado em até 57 oitavas, para que se tornassem acessíveis ao ouvido humano.
O resultado é um tanto quanto assustador. Ouça aqui:
The misconception that there is no sound in space originates because most space is a ~vacuum, providing no way for sound waves to travel. A galaxy cluster has so much gas that we’ve picked up actual sound. Here it’s amplified, and mixed with other data, to hear a black hole! pic.twitter.com/RobcZs7F9e
— NASA Exoplanets (@NASAExoplanets) August 21, 2022
O áudio foi registrado pelo observatório de raios-X Chandra, um telescópio espacial da Nasa. Ele já havia sido divulgado em maio, mas ganhou projeção neste fim de semana, quando a Nasa postou no Twitter.
Entre brincadeiras e comentários espantados, algumas pessoas dizem que este é exatamente o som que imaginavam que um buraco negro teria; outras, que mais parece uma canção bizarra de uma cantora excêntrica, como a islandesa Björk, ou trilha de filme de terror.
Existe som no espaço?
Em geral, se diz que não há barulho no espaço — mas não é bem assim. Os sons do buraco negro de Perseu têm sido estudados desde 2003, quando astrônomos detectaram ondas acústicas que conseguiam se propagar através das enormes quantidades de gás que o cercam.
Mas não seríamos capazes de ouvi-las em seu tom “natural”. Esta gravação, aliás, inclui a nota mais baixa já detectada por humanos, 57 oitavas abaixo da nota “dó” — totalmente impossível de escutarmos.
Então, foi realizado um trabalho de aumento da frequência, em quatrilhões de vezes, até que ela se tornasse audível para nós. O som que podemos agora escutar, segundo a Nasa, é o resultado das ondas de pressão emitidas pelo buraco negro.
E não se trata de mera curiosidade científica, estas ondas têm uma função no universo. O gás e o plasma que flutuam entre as galáxias de um aglomerado são mais densos e muito mais quentes do que o meio intergaláctico ao seu redor. As ondas sonoras que se propagam são, também, um mecanismo para aquecer a região, transportando energia.
Como as temperaturas auxiliam a regular a formação de estrelas, é possível que ondas acústicas sejam essenciais para a evolução das galáxias ao longo do tempo.
É por meio do calor, também, que foi possível detectar as ondas sonoras. Como o buraco negro é muito quente, ele ocasionalmente libera explosões drásticas de raios-X — que o Chandra enxerga muito bem.
Outros sons do espaço
Não é a primeira vez que se “ouve” um buraco negro — ao menos não em teoria. Em maio, o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA) tentou representar o que seria o som de um buraco negro devorando uma estrela em sua órbita.
Mas há uma grande diferença. O áudio recentemente divulgado pela Nasa foi gerado por uma captação direta das ondas, já o do MIT era uma simulação dos ecos que seriam gerados pelo movimento do disco de acreção do buraco negro, que gira ao seu redor.