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No AC, Santo Daime alerta sobre cuidados ao tomar ayahuaska após morte de jovem: “Há regras”

Por MAURÍCIO GALVÃO, DO CONTILNET

Foto: Evelin Ruman

O chamado Santo Daime, ou doutrina do Santo Daime, que consagra uma bebida de origem indígena que tem mais de 5.000 anos de uso, a ayahuaska, oferece riscos de fato, caso alguns procedimentos não sejam levados em conta. A morte recente de um jovem que participou de um ritual no sul do país, sem ter antes realizado uma anamnésia para verificação de seu estado de saúde física e mental, comprovou que o uso de ayahuasca não é nenhuma brincadeira.

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Mestre Irineu com a esposa, D. Peregrina no Acre/Foto: Reprodução

O Daime é o resultado de um sincretismo religioso elaborado por seu fundador, o maranhense e migrante Raimundo Irineu Serra, na década de 40, no Acre. Envolve a tradição indígena, a ritualística católica e preceitos do espiritismo, dentro de um ritual harmonioso realizado exclusivamente através de cânticos, ou ícaros, que são os chamados hinários, com hinos religiosos de conexão, ou arrebatamento. A bebida é de fato fortíssima e tem o poder de aumentar a sensibilidade e o grau de percepção do usuário. Os hinos são usados para manter e conduzir o bom estado emocional do participante. Ele também precisa se submeter a três dias de dieta sexual, para ter energia para o trabalho, que dura até oito horas consecutivas.

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Dentro do modelo antigo proposto, onde as pessoas jamais são convidadas e, mesmo quem se interessa, precisa ficar por pelo menos três seções assistindo a tudo, mas sem ingerir nada. Assim, os novos integrantes podem ver para avaliar, e também serão vistos e avaliados.

Irineu Serra em sessão do Santo Daime no Acre/Foto: Reprodução

A grande referência entre as comunidades da ayahuasca é o centro religioso mais antigo, do Alto Santo, fundado pelo Mestre Irineu Serra há quase um século e hoje dirigido por sua esposa, D. Peregrina Gomes Serra. Ela não costuma dar entrevistas, prefere designar o orador do Centro, Antonio Alves para eventuais contatos com a imprensa. “Toinho”, como é conhecido, informou que conversou com D. Peregrina sobre o noticiário recente e ela repetiu as regras e orientações que mantém há vários anos para evitar problemas com o uso inadequado da ayahuasca, que no Alto Santo recebe o nome de Daime.

Primeiro, o centro fundado pelo Mestre Irineu não tem filiais, ou seja, não se responsabiliza pela distribuição da ayahuasca em outros lugares e outras organizações. Segundo, faz a sua própria ayahuasca, que distribui gratuitamente aos seus associados, sem qualquer forma de comercialização. Terceiro, eventuais visitantes só podem tomar Daime no Alto Santo depois de uma preparação e uma avaliação para saber se estão nas condições adequadas. Menores de idade, só se estiverem acompanhados ou expressamente autorizados por seus pais ou responsáveis. Pessoas que estão em tratamento médico, tomando remédios controlados, ou que tenham histórico de dependência química, só após concluírem o tratamento. D. Peregrina afirma que os centros religiosos que seguem esses preceitos não registram problemas.

Essas instruções sobre o uso da ayahuasca constam de uma carta assinada há mais de 30 anos por diversas organizações religiosas, conhecida como Carta de Princípios. Os centros e igrejas conhecidas como “tradicionais”, que tem origem no Acre, seguem as regras na distribuição da ayahuasca firmadas na Carta.

Entre esses, o centro do Alto Santo é considerado um dos mais “fechados”, ou seja, que tem mais restrições aos visitantes. D. Peregrina esclarece que apenas mantém o preceito deixado pelo Mestre Irineu: não convidar. A lição é antiga, registrada num hinário que se canta desde os anos 30 do século passado: “ensinar quem lhe procura, que não vai se oferecer”.

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