Os últimos dias do patriarcado

A sociedade humana, em origem, atendia por uma composição na qual a mulher desempenhava as funções de líder. Tratava-se de uma sociedade matriarcal. O matriarcado era a configuração das grandes culturas antigas pelo simples fato de que eram as mulheres quem concebiam. A concepção  era para os homens um mistério tão grande que as mulheres eram alçadas à condição de deusas, algo ainda maior e mais impactante que brazino777 jogo do bicho representaria milênios mais tarde.

Ademais, foram elas as responsáveis pelo desenvolvimento de técnicas à agricultura, o cultivo de plantas e a domesticação de animais, já que aos homens competia a caça e a conquista de territórios. Com tais observações, pretende-se com este artigo demonstrar que a ascensão e a decadência da masculinidade têm muito haver com o poder baseado no sexo, enquanto mecanismo de controle. Enquanto as mulheres, através do sistema matriarcal, cumpriam o papel de liderança na sociedade humana, esta mesma liderança é usurpada pelo homem quando se descobre mais forte.

Por volta do ano 2000 a.C., o matriarcado entra em declínio, principalmente em razão de que o homem se descobre mais apto na arte da hierarquização social. A partir de então, estabeleceu-se uma sociedade francamente machista, instaurando-se aquilo que poderíamos chamar de ditadura cultural masculina. Com o tempo a estrutura patriarcal foi se sofisticando e não se deteve no aspecto gênero, estratificou-se por classe social e religião.

Quando por volta do ano 2000 a.C., o homem se descobre mais apto (ao menos em sua própria visão) a hierarquizar as funções familiares, sociais e, principalmente aquelas funções políticas advindas da conquista de territórios, as estruturas em torno dos gêneros humanos foram adquirindo feições que pouco se modificaram pelos próximos milênios. Os homens passaram a dominar todas as áreas do conhecimento, fossem relacionadas às artes, relacionados à política, ao clero, à vida militar, enfim, os homens pareciam autossuficientes.

Antigas peças publicitárias, observadas ainda recentemente nos anos 1950, 1960 demonstram muito claramente o quanto o patriarcado submeteu a mulher. Alardeava-se na propaganda, a ideia de que a verdadeira mulher era dona de mãe e necessariamente mãe. Ainda hoje, muitos temas concernentes única e exclusivamente às mulheres, são decididos por homens, vide o percentual de homens comparado ao de mulheres na vida política, como também os números cada vez mais dramáticos de feminicídio.

As relações se baseavam (e, a depender da região, ainda se baseiam) pela força física. Mantidas em seus lares, longe dos centros nervosos do poder, longe das decisões, as mulheres eram meros receptáculos dos filhos dos homens. Em outras palavras, era através do sexo que o domínio se construía. Lentamente, mas de modo constante, as mulheres foram ocupando alguns espaços importantes, e junto com estes espaços a chance de se libertarem de um jugo histórico.

Avançando sobre terrenos que até meados do século XX eram exclusivamente masculinos, as mulheres iniciam uma profunda transformação na sociedade humana. Elas saem para trabalhar, muitas vezes, cumprindo jornadas exaustivas já que continuavam cuidando de seus lares, lutaram pelo direito ao voto e o conquistaram, passaram a candidatar-se a cargos eletivos, até que finalmente, em pleno século XXI se veem como maioria nas universidades.

Em paralelo ao avanço feminino, o patriarcado vai se deteriorando e mais do que representativo de uma decadência, tal deterioração apresenta um homem frágil, frustrado e sem perspectivas. O homem que até então tinha no sexo sua principal fonte de poder, vê-se na condição de subjugado exatamente como há dez mil anos, quando a sua ignorância acerca da maternidade o submetia aos desígnios traçados pela mulher.

O curioso na decadência dos princípios que pautavam a masculinidade (do ponto de vista de uma sexualidade tirânica e, portanto, agressora do gênero feminino), é que ela se configura a partir da aquisição de um entendimento da própria sexualidade. Michel Foucault, um dos mais proeminentes filósofos do século XX, ressalta que o próprio termo “sexualidade” é um termo surgido no século XIX, portanto, pertencente às sociedades modernas e pós-modernas, o que pode significar que tal decadência seja indicativa de uma transformação paradigmática.

Quando a mulher passa a ocupar espaço na sociedade humana, é automaticamente deflagrada uma verdadeira sessão de autocrítica no homem. A ocupação dos espaços públicos e privados pela mulher, se lhe atribui poder, não na forma como o poder foi e é exercido pelo homem, mas o poder como forma de libertar-se e ser, de fato, cidadão. Não bastassem suas profissões, seus cargos, suas posições políticas, o homem se vê desprovido da sua própria sexualidade enquanto mecanismo de controle e poder. Àqueles que se redescobrem como pares humanos do gênero feminino, tanto melhor, pois se permitem dividir os espaços sociais e assumir uma sexualidade voltada ao prazer mútuo.

 

PUBLICIDADE