Praga ameaça produção de Maracujá no Acre

Quem já plantou uma pequena horta que seja na Amazônia sabe o quanto é difícil manter as culturas produtivas. Plantios realizados dentro de um ambiente predominantemente florestal atraem uma miríade de insetos predadores ou oportunistas que podem destruir o trabalho de meses em alguns poucos dias. Quando se trata de monocultura numa escala produtiva, o risco de pragas é ainda maior: para a lógica da natureza, é muito alimento concentrado num lugar só.

Besouro Conotelus Luteicornis, responsável pelos danos/Foto: reprodução

E a natureza não costuma perder oportunidades. Desta vez, o Acre está com sua produção de Maracujá-azedo seriamente ameaçada pelo “besouro-da-flor-do-maracujazeiro”, alastrando-se sem dó em plantios comerciais.

Esta mesma lógica natural impediu, por exemplo, que o Acre se mantivesse como maior produtor mundial de borracha, uma vez que tornou inviável o cultivo adensado, linear e em larga escala. Já o inverso ocorreu com as castanheiras. Estas, sempre precisaram da polinização de insetos da floresta para darem frutos.

Em resumo, a experiência mostra que plantar na Amazônia exige técnicas específicas adequadas ao meio ambiente, diferenciadas daquelas já utilizadas em outras partes do país.

O que chama a atenção é o fato de que já em agosto de 2019 foi realizada uma visita técnica a um plantio comercial de maracujazeiro cultivar BRS Gigante Amarelo no município de Senador Guiomard, com o objetivo de solucionar os altos índices de abortamento de flores. Mesmo fazendo uso de aplicações periódicas com produtos fitossanitários, o besouro da flor saiu vitorioso, por enquanto, em relação aos produtos utilizados para eliminá-lo. Quando se utiliza o termo BRS associado a um cultivo, indica que este foi submetido a melhoramento genético da Embrapa, visando maior produtividade e adaptação.

De acordo com o IBGE, o Acre possuía em 2020 cerca de 139 hectares de maracujazeiro-azedo, com rendimento médio de 7,8 toneladas por hectare. Os municípios de Senador Guiomard, Rio Branco e Plácido de Castro, responderam por 67% da área plantada. A produção encontra-se realmente ameaçada, se levarmos em conta prejuízos semelhantes ocorridos em Rondônia. Segundo relatos de produtores deste estado, o ataque dos insetos (o besouro Conotelus luteicornis Erichson) em plantios comerciais de maracujazeiro ocasionou perda econômica de até 80% na produção.

O plantio do maracujazeiro é relevante no Brasil, visto que é uma fruteira cultivada predominantemente por produtores familiares em pequenas áreas, promovendo geração de renda, mais segurança alimentar, além da manutenção de empregos no meio rural. O enfrentamento com problemas de ordem fitossanitária, que tem se agravado por agressões e pressão sobre os ecossistemas tem, contudo, gerado prejuízo aos produtores.

Soluções à vista

Uma das soluções possíveis, além das modificações genéticas, vem da própria Embrapa: o cultivo do Maracujá em estufa. Estudos científicos e unidades de observação avaliadas no Distrito Federal pela Embrapa em parceria Emater-DF evidenciaram a viabilidade técnica e econômica do plantio do maracujá nesta modalidade. A produção do maracujá em estufa ocorre de maneira mais uniforme durante o ciclo da cultura e permite produção inclusive durante os meses de entressafra do maracujazeiro.

Outra vantagem observada no plantio do maracujá em estufa, é a maior longevidade do pomar, com menor ocorrência de problemas fitossanitários. Esta menor quantidade de doenças e pragas dentro da estufa leva à uma menor aplicação de defensivos agrícolas, reduzindo os custos de produção do controle fitossanitário e diminuindo o acúmulo de resíduos que podem trazer problemas para o produtor, para os consumidores e para o meio ambiente.

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