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Wania Pinheiro: “Político com mandato dado pelo povo não é patrão, é empregado”

Por TIÃO MAIA, PARA CONTILNET

Wania Pinheiro/Foto: aqruivo pessoal

Aos 57 anos de idade, a jornalista Wania Maria Pinheiro da Silva, nascida e criada até a adolescência no município de Sena Madureira, interior do Acre, e mãe de um casal de filhos e avó de quatro netos, é um desses seres humanos que até pode ter saído da política, mas a política não saiu de dentro dela. Tanto é que, em 2022, há 18 anos fora da militância política partidária e sem candidatar-se a cargos eletivos, a ex-vereadora e ex-vice-prefeita de Sena Madureira, está de novo entre centenas de candidatas e candidatos disputando a preferência do eleitor acreano na disputa de uma das 24 vagas de deputado estadual na Assembleia Legislativa.

Filiada ao PL (Partido Liberal, o mesmo do presidente Jair Bolsonaro e da candidata ao Senado Márcia Bittar), com o número sugestivo 22222, ela vai à disputa certa de que tem méritos para isso por sua história de dedicação à política e às causas sociais, com ou sem mandato, ao longo de quase quatro décadas de trabalho.

Wania vem de uma família tradicional e muito conhecida em Sena Madureira/Foto: arquivo pessoal

A menina nascida numa família de seringalistas e seringueiros da região do alto rio Macauã, em Sena Madureira, filha de Antônio Carlos Pinheiro, também conhecido por “Nego Pinheiro”, e dona Alaíde Pinheiro, ambos já falecidos, começou muito cedo a lutar por seus sonhos. Aos 17 anos, já estava em Rio Branco, a capital, para estudar. Formou-se em Gestão Pública com especialização em Gestão Comercial e Marketing Digital. Mas foi no jornalismo, tanto na área política como cultural, que aquela menina de Sena Madureira acabaria se encontrando como profissional.

Durante anos dedicou-se à profissão no antigo jornal “O Rio Branco”, onde assinava colunas. Com a derrocada do jornalismo impresso, que fez acabar o formato dos antigos jornais, ela viu no jornalismo digital a necessária substituição. Com amigos e familiares fundou o ContilNet, site de notícias que há quase duas décadas, informa o leitor acreano e regional e é um dos grandes noticiosos da Amazônia, com pelo menos 30 milhões de visualizações mensais ao redor do mundo, segundo o Google List.

AInda muito jovem, Wania comecou a atuar no jornalismo em Rio Branco/Foto: arquivo pessoal

Mas é, além do jornalismo, na política, que reside sua outra grande paixão. Para falar sobre isso e suas propostas para um mandato de deputada estadual que ela conversou com o portal na entrevista a seguir:

Você está entrando numa seara de disputa de muitos candidatos e, no caso de eleição, ainda assim, seria mais uma numa Assembleia de 24 deputados. O que você diria às pessoas que querem ou que vão votar em você qual seria a diferença da deputada Wania Pinheiro em relação aos demais parlamentares a serem eleitos?

Wania Pinheiro – Não me acho melhor que ninguém. Nesta disputa, há muitos candidatos muitos bons buscando também um mandato, como eu. Tenho inclusive na disputa alguns amigos, pessoas que conheço e, entre eles, há muitos e muitas que eu posso dizer que vi na barriga da mãe. São pessoas que eu sei que, se ganharem a eleição, vão fazer um bom trabalho também. Eu não sou diferente de ninguém. Mas posso dizer que, quando fui vereadora em Sena Madureira, mostrei à população do município e de todo o Acre (porque na época meu nome era muito divulgado aqui na Capital, na imprensa), o que é ser de fato um vereador, o que faz um vereador ou uma vereadora. Mostrei qual é a obrigação de um vereador. Penso que um político, principalmente àqueles com mandatos dados pelo povo, ele não é patrão. Ele é empregado do povo, e tem que trabalhar. Eu, particularmente, estou com muita vontade de trabalhar, de fazer muito pela população o meu Estado.

 

A família sempre foi uma das grandes prioridades da candidata/Foto: arquivo pessoal

Concretamente, o que, como deputada, você iria fazer?

Wania Pinheiro – Eu quero dizer que não cheguei agora na política. Não sei tudo, mas tenho experiência e posso dizer que eu já fiz e já mostrei isso, quando fui vereadora. Eu não posso dizer que vou fazer. Eu sou uma pessoa que já fiz, que já fez. Quando sai de Sena Madureira, quando acabou meu mandato de vereadora e depois de vice-prefeita, deixei lá, naquela época, resultado de inciativa nossa, duas creches e a sede local do INSS. As pessoas eram atendidas no meio da rua. Ia lá um caminhão de seis em seis meses e atendia as pessoas lá, na rua, no sol, na chuva. Eu lutei muito para que houvesse uma sede do INSSS em Sena Madureira. Esse é um trabalho que deputado, vereador, prefeito, enfim, político com mandato, tem que fazer: lutar pelas necessidades mais urgentes de seu povo.

Você tem falado muito em creches. Por quê? Construção de creches será o carro-chefe de seu mandato?

Wania Pinheiro – A construção de creches em todo o Estado é uma das minhas bandeiras e vai continuar sendo, porque eu penso que uma mãe pobre, uma pessoa que ganha por mês sum salário mínimo e às vezes até menos que isso ou que, vá lá que seja, ganhe até dois salários mínimos, ela não pode pagar uma outra pessoa para tomar conta de seus filhos. Quando a mãe ou o pai sai para trabalhar, não tem com quem deixar seus filhos. Muitas dessas crianças, que são deixadas em casa, acabam indo p ara o meio da rua. A mãe ou o pai deixa dentro de casa, mas menino não fica em casa; ele vai para o meio da rua. E o que aprende na rua, na maioria das vezes? Tudo o que não presta, o uso de drogas, a traficar a sem prostituir… tendo a creche e as escolas em tempo integral, outra de minhas bandeiras, para deixar essas crianças ocupadas e  protegidas enquanto seus pais trabalham, evita que a criança, o jovem e adolescente esteja na rua e em contato com o que não presta. Na creche ou na escola de tempo integral, ela vai ter alimentação, estudos artísticos, de esporte, e vai se integrar coma outras pessoas. Eu defendo que as escolas de tempo integral no Acre não tenham apenas disciplinas básicas, como matemática, português, geografia, etc. Eu vou lutar e defender na Assembleia Legislativa que essas escolas ofereçam também aulas de dança, de balé, de esportes, com handebol, futebol, natação, corridas pedestres… Às vezes fico me perguntando quantas crianças nascem com dons artísticos e para o esporte, para jogar futebol ou para tocar uma sanfona, um violão e não chegam a fazer isso porque, na infância, elas não têm acesso ou oportunidades a terem contato com um instrumento ou com qualquer área ou atividade do esporte. Penso que a escola tem que oferecer isso. Quantas pessoas não nascem com talento? Nascem, crescem e morrem e a gente nem fica sabendo porque essas pessoas não têm oportunidade. Eu quero contribuir para mudar esse quadro.

Mas, você que é originária dos seringais, da zona rural, fala muito em projetos urbanos. O que você poderia fazer para aquelas pessoas que inda vivem nas matas, nas colônias, nos seringais e cabeceiras de rios?

Wania Pinheiro – A zona rural também me preocupa porque hoje, como jornalista, eu vejo centenas, milhares de jovens que estão na zona rural loucos para fazerem uma faculdade e não têm como. O que estou vendo hoje – o que está me deixando muito feliz – é a Internet chegando à zona rural, nos criando a perspectiva de que, para estudar, esses jovens não vão precisar sair de suas casas, deixar suas famílias em busca do estudo nas cidades, para fazer uma faculdade. A Internet traz também a possibilidade dos cursos à distância, e isso é muito importante. Por isso, uma das minhas lutas como deputada estadual será levar Internet para toda a zona rural do Acre para que as pessoas possam ter a oportunidade de estudar e de trabalhar também. Essa será minha grande luta.

Esta questão dos ramais, que quase todo mundo fala, para mim é o dever de casa de todo político, uma coisa natural em que todo político tem que ajudar. Fique certo de que serei uma deputada que vai cobrar dos membros da nossa bancada federal os recursos necessários para a abertura, conservação  e melhoria de ramais, em todo o Estado. Eu defendo que, na zona rural, onde houver gente, os ramais têm que ser asfaltados, as pontes de madeira, que estragam todos os anos, têm que ser de alvenaria, feitas de forma perene.

É claro que, para isso, é necessário dinheiro. É por isso que serei uma parlamentar com aliados na bancada federal de deputados e senadores que vai lutar por esses recursos para essas melhorias. Já passa da hora de se acabar com o isolamento da população. Ainda hoje, apesar da luta de tantos, há pessoas que só podem sair de suas localidades em época de verão por causa da trafegabilidade de seus ramais no inverno, quando muitos, os que conseguem sair, têm que ser pendurados em tratores. Quero ajudar a combater isso, algo que, neste Governo do Gladson Cameli, graças a Deus, vem diminuindo muito.

No ano passado, mesmo com o auge da pandemia do coronavírus, em Sena Madureira foi, por exemplo, fantástica a abertura de ramais e agora, neste ano, no início do verão, vimos também as máquinas entrando para as localidades para trabalhar isso. Muito tem sido feito, mas a necessidade ainda é muito grande e a gente tem que continuar lutando e  fazer disso uma bandeira para que esses ramais não sejam só abertos  todos os anos para depois serem recuperados. Têm que ser todos pavimentados e por isso é necessária luta junto à bancada federal para que consigamos os recursos necessários a uma grande frente de trabalho anual e permanente, como política de Estado e não só de governos, para que esse trabalho avance e continue sempre avançando. Vejo também esta questão da energia elétrica, que é uma coisa importante. Hoje não é mais a energia tradicional, com o cabeamento de fios. Temos as energias renováveis, através de placas solares e que são úteis na zona rural, nos lugares de difícil acesso. Também vou me empenhar nesta luta. Vou ser uma deputada que vou atuar muito nesta área porque tenho consciência de que tudo o que a gente consome na zona urbana, vem da zona rural. Se a zona rural parar, acabam as sociedades urbanas. Temos que incentivar a cada dia mais o produtor rural porque nós todos precisamos dele.

 

Wania e a irmã Silvânia Pinheiro/Foto: arquivo pessoal

 

Você tem falado muito também em ser uma deputada voltada para as famílias que têm filhos com o chamado transtorno do autismo. Como é isso?

Wania Pinheiro – Sim, tenho preocupações com esta área, mas quero falar de como seria minha atuação como um todo na área de saúde, como fiz quando era vereadora em Sena Madureira. Acho que um deputado tem que fazer como eu já fiz, atando dentro dos hospitais, fiscalizando, cobrando. Não é para estar lá dentro brigando com as pessoas, mas, isso sim, fiscalizando também sobre o que falta para que haja bom atendimento à população que precisa. Vou agir assim: está quebrado um equipamento, um mês quebrado sem poder fazer, por exemplo, um tipo de exame, eu irei à direção saber as razões e se não haver o conserto e, não sendo responsabilidade só da direção, irei até o secretario ou secretária de saúde, seja quem for, exigir o reparo. Esta é a função de um deputado comprometido com o bem estar das pessoas, principalmente àquelas mais pobres, que precisam e dependem de um sistema de saúde pública eficaz. Se perceber que há má vontade do gestor, vamos com o governador e se, ainda assim não der, vamos ao Ministério Público e à imprensa, exatamente como eu fazia quando era vereadora. Acho que um parlamentar tem que ter essas bandeiras. Eu tenho muito essa questão social. Gosto de trabalhar para e com as pessoas.

E a questão do autismo, como será tratada no seu mandato?

Wania Pinheiro – Eu tenho um projeto pronto, que fiz junto com minha cunhada, para ser entregue ao Governo do Estado, para a construção de um centro para atender autistas. Eu tenho quatro netos e um deles é autista. Essa é uma das bandeiras pela qual vou mais lutar porque eu sei as dificuldades de uma família que tem um filho com essa síndrome, Se eu que tenho condições, que tenho carro para levar e trazer meu neto para a escola, para o médico, mesmo ele tendo plano de saúde, ainda enfrento dificuldades, imagine quem não tem condições, as mães que têm um filho especial e que têm que pegar ônibus, no sol, na chuva… Gente que não sabe para onde vai, não sabe em que dia o filho vai ser atendido. Por isso, defendo que haja um centro onde lá haja um psicólogo, um neuropediatra, um fono, enfim, os profissionais capacitados para atender a esse público. É por isso que vou me juntar às mães e outros parentes de autistas para iniciarmos uma grande luta em prol dessas pessoas. O que você fala sobre isso, sobre a assistência social aos mais pobres, também conhecida por assistencialismo, que já foi muito praticada por deputados que, no entanto, perderam as eleições. Há exemplos de deputados assistencialistas como Manuel Machado, Roberto Filho e outros que não se deram bem. Você não teme ser confundida, se eleita, como uma deputada assistencialista?

 

Wania ao lado dos netos, Pietro, no canto à direita, é autista/Foto: arquivo pessoal

 

Wania Pinheiro – Não temo e até admiro muito quem fez ou faz isso. Manuel Machado, Roberto Filho e outros que fizeram isso no passado e têm minha admiração pelo bom coração que eles demonstravam ter. Além dos que citei, havia outros, que até já morreram, e ajudaram muita gente. A pessoa que está com fome, a pessoa que precisa fazer uma cirurgia, um exame médico, essa pessoa tem pressa e tem que ser atendida.

Você acha então que um mandato parlamentar passa, sobretudo também por essa questão da assistência social?

Wania Pinheiro –  O deputado, antes de mais nada, é um ser humano e tem que ter piedade, compaixão em relação às pessoas. A pessoa que não tem compaixão nem piedade de ninguém, que não se sensibiliza quando vê um pobre sofrendo, ela não merece ser um ou uma deputada, ser um prefeito, governador ou qualquer outro cargo público.

O que se observa é que você passou 18 anos fora da política, aparentemente fora e agora está de volta. Eu pergunto por quê? Por que essa vontade voltou a aflorar agora de novo?

Wania Pinheiro – Depois do meu mandato de vereadora e de vice-prefeita de Sena, eu fui candidata a deputada estadual e não fui eleita. Como perdi a eleição, entendi que o povo queria que eu não disputasse mais eleições. Foi como me dissessem: – não, Wania, tu tá fora. Então, eu vim para Rio Branco, lamber minas feridas. Mesmo gostando de política, passei esses 18 anos ajudando as pessoas, mesmo sem mandatos. Eu achava que nunca mais iria ser candidata, a nada. Mas, pessoas de Sena Madureira, de Feijó, aqui mesmo de Rio Branco, sempre me procuraram, para que eu ajudasse em várias lutas, buscando uma consulta médica pública que estava encruada, mesmo para uma cirurgia, eu nunca me neguei a fazer, mesmo achando que nunca mais iria ser candidata. Eu achava que nunca mais ia ser candidata porque eu foquei ate com um pouco de trauma. Fiquei muito triste com aquela derrota que sofri porque fui uma vereadora que subia ria e descia rio e que lutou muito por muitas causas em Sena Madureira, sempre atendendo as pessoas, sempre na rua, sempre lutando e eu senti que perdi aquela eleição para pessoas que tinham dinheiro. Na época da eleição, muitos candidatos pegam um santinho, põe uma nota de cem reais e fala: vote em mim. Muitos eleitores votam cegamente, nem quer saber quem é o candidato. Isso é muito errado porque esse eleitor vai botar lá na Assembleia uma pessoa que muitas vezes é um bandido, que não quer nem saber do povo. Depois, o eleitor reclama e diz que o político não presta. Mas, quem foi que o colocou lá? Fomos nós. Eu já votei em candidato errado, mas depois não votei mais. Estou voltando agora, na maior alegria do mundo e a minha campanha está muito bonita. Estou com os amigos, minha família e muita gente me ajudando. Estou muito feliz e acredito que, desta vez, vai dar certo.

Ouvir e buscar ajudar a solucionar problemas fazem parte do cotidiano/Foto: arquivo pessoal

E para governador, quem você está apoiando?

Wania Pinheiro – Olha isso não é segredo para ninguém no Acre. Todo mundo sabe o que aconteceu.  Muitas brigas, muitos problemas entre os líderes e prejudicou muita gente, inclusive à minha pessoa. Me senti muito prejudicada porque todo mundo sabe o carinho que tenho pelo Márcio Bittar (senador e candidato a governador pelo União Brasil), que é meu compadre, e pela Márcia (candidata a senadora pelo PL) e pelo governador. Aí eles tiveram todos esses problemas com o Gladson (governador e candidato à reeleição) e o problema para o Senado. Há muitas pessoas queridas aí disputando essa vaga ao Senado. Por mim, só deveria ter, no nosso campo, um candidato ao Senado e estaríamos todos unidos em torno de uma única candidatura só ao Governo. Mas aí tudo se dividiu. É claro que isso deixa a gente triste. Eu só espero que isso termine logo. Eu só espero que o Márcio Bittar e Gladson Cameli se entendam  e que essa campanha termine logo.

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