Já dizia Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo’” Não há como discordar disso ao ler a história da professora acreana Tatiane Loureiro, compartilhada em seu Instagram.
Tatiane é biológa, mestre em biotecnologia, doutora em fisiologia e bioquímica de plantas. Concursada, se tornou docente do Instituto Federal do Acre (Ifac), mas, antes disso, ela percorreu um longo caminho que se abriu a partir das portas da escola pública.
“Morei a minha adolescência em bairro de periferia que não tinha rua asfaltada, quando chovia tinha que colocar sacola nos pés para não sujar de lama. Casa de madeira, caindo aos pedaços, como se diz aqui no Acre, sem banheiro, filha de mãe solo, por sinal a melhor mãe do mundo. Estudei o ensino fundamental no que já foi considerada a pior escola do Acre, de acordo com avaliações estaduais”, conta.
Depois de estudar toda a vida na escola pública, Tatiane passou na universidade federal. “Eu sei que falando assim, de forma direta, parece fácil, mas não foi. Mal tinha dinheiro para pegar o ônibus”, lembra a professora.
Ao mesmo tempo que lembra das dificuldades, Tatiane lembra também que quando entrou na Ufac, em 2004, a educação brasileira vivia um período de grandes investimentos por parte do governo federal com aumento no número de vagas, ofertas de cursos, oportunidades para acreanos que vinham da periferia, como ela, onde o ensino superior é um sonho distante.
“O ano que mais houve investimento nas universidades e na ciência e tecnologia, e para a minha sorte consegui uma bolsa de iniciação científica, e foi dessa forma que eu e tantos outros amigos da minha época de faculdade, conseguiam se manter, pagar o ônibus, almoçar, pagar um curso de inglês, tirar uma xerox…”, relata.
2022 ficou marcado como o ano de maiores arrochos nos investimentos para a educação pública, especialmente no ensino superior.
Segundo um estudo divulgado pela organização não governamental Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), os investimentos na educação em 2021 atingiu o menor patamar dos últimos 10 anos.
No caso das bolsas para pesquisa, como a que Tatiane recebia, os investimentos também diminuíram. Vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o CNPq, desde 2020, vem atingindo suas piores marcas de recursos para investimentos dos últimos 17 anos.
Foram essas oportunidades, adquiridas por meio de uma boa base na educação pública, que permitiram Tatiane fazer mestrado na Universidade de São Paulo, considerada hoje a segunda melhor universidade da América Latina, além de doutorado na Califórnia, EUA, e pós-doutorado na Flórida, também nos EUA.
“Consegui a partir dessas políticas públicas que se abriram para mim, porque estávamos vivendo o momento de maior investimento em ciência e tecnologia que esse país já viu…Fui fazer mestrado, doutorado na USP. Meu Deus, a pessoa saiu de uma das periferias mais pobres do Acre e foi fazer mestrado na USP. Eu ficava boba, sem acreditar, tudo isso porque existiam bolsas de pós-graduação. Aliás, no momento, quase todos os programas de pós estão fechando. Daí, fui fazer doutorado pelo programa Ciências sem Fronteiras, na Universidade da Califórnia. Cara, eu estava em uma das mais importantes universidades do mundo, graças às políticas públicas, e que me abriram muitas outras oportunidades, inclusive um pós-doc na Flórida, mas eu queria mesmo era voltar para o meu Acre, e contribuir com o meu estado”, acrescentou.
Ao retornar para o Acre, realizou outro sonho que lhe possibilitou outros tantos: passou no concurso público federal, comprou sua própria casa, carro e construiu a uma casa para sua mãe, aquela que a criou sozinha. Neste Dia dos Professores, ela relembra com orgulho a trajetória para se tornar a profissional que ama ser.
“Fui aprovada para ser docente no Instituto Federal do Acre, daí a minha vida virou um sonho, construí uma casa para minha mãe, que é a primeira coisa que o pobre faz quando melhora vida, comprei um carro. Às vezes nem acredito. Ah, se você olhar eu postando fotos dos meus vestidos… É que passei boa parte da vida usando roupas que os outros me davam, então, eu sinto uma satisfação em poder comprar uma roupa com meu dinheiro…. É você se sentir digna, sair e poder comprar um lanche, comprar um presente para sua mãe nos dias das mães”, destacou.
“Virei professora e me realizei como profissional. Amo ser professora e não me enxergo fazendo outra coisa na vida”, finaliza.