É hora de baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas, diz Lula em primeiro discurso

Em seu primeiro pronunciamento após ser eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um tom conciliador. Mesmo sem citar nominalmente o adversário Jair Bolsonaro (PL), o petista criticou o atual governo e prometeu que vai governar “para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram” nele.

É hora de baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam e nós escolhemos a vida.”

Com 99,94% das urnas apuradas, Lula foi eleito hoje com 50,90% dos votos, ante 49,10% de Bolsonaro. O petista é o primeiro a ser eleito presidente da República pelo voto direto três vezes —antes, venceu em 2002 e 2006. Rodrigues Alves (1902 e 1918), Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998) e Dilma Rousseff (2010 e 2014) venceram duas vezes —Getúlio Vargas foi eleito indiretamente em 1934 e pelo voto direto em 1950.

Lula e sua esposa Janja da Silva subiram ao palco visivelmente emocionados. Nas primeiras palavras, o petista agradeceu a Deus e às senadoras Simone Tebet (MDB-MS), que participou da disputa pela Presidência no primeiro turno, e Eliziane Gama (Cidadania-MA). As duas embarcaram na campanha no segundo turno e foram peças-chave entre conservadores e evangélicos.

Subiu o tom. Um dos debates da campanha era se, eleito, Lula já iria, de cara, repetir as duras críticas a Bolsonaro feitas durante a campanha. Parte da cúpula defendia que ele focasse mais no futuro, com flertes com o seu governo passado (2003-2010), enquanto outros diziam que era preciso pontuar as diferenças em relação ao atual presidente.

Pelo tom adotado no discurso nesta noite, o segundo grupo venceu.

Nós não enfrentamos um adversário. Nós enfrentamos a máquina do Estado brasileiro colocada a serviço do candidato da situação para tentar evitar que nós ganhássemos as eleições.”Lula

No discurso, Lula não só pontuou as falhas da gestão Bolsonaro nas questões econômica, social e ambiental como tocou sutilmente em outros pontos críticos do presidente, como os sigilos de 100 anos adotados sobre diversos assuntos, que o petista criticou durante toda a campanha.

“As grandes decisões políticas que impactam a vida de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite”, afirmou o petista.

Operações. A votação deste domingo (30) foi marcada pelas operações da PRF (Polícia Rodoviária Federal) que, segundo relatos, teriam atrapalhado viagens a locais de votação ao redor do país.

Assim que a votação acabou, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, classificou as operações como “criminosas” e que a situação apontava a “utilização da PRF para fins eleitorais”.

Paz e foco no combate à fome. O presidente eleito repetiu discursos de paz, adotados ao longo da campanha, que o Brasil precisa de união e que “esse povo não quer mais brigar”.

Lula afirmou que a pauta mais urgente de seu governo é acabar com a fome —o problema, atualmente, atinge 33 milhões de pessoas no Brasil. O petista também elencou pautas ligadas as minorias, como combate da violência contra mulher e o enfrentamento do racismo.

Nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.Lula

Paulista com apoiadores. Lula chegou ao hotel, na região da Paulista, por volta das 20h30. Ele acompanhou a apuração em sua casa, na zona oeste da capital, com a esposa Janja da Silva. Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente eleito, e outros coordenadores da campanha acompanharam no hotel, em uma sala no subsolo.

O clima era de festa desde as 18h45, quando o petista virou a apuração sobre Bolsonaro. Com o placar apertado, outros membros da campanha, como o marqueteiro Sidônio Palmeira, foram chegando aos poucos, à medida que o resultado se solidificava.

Lula se encontrará com apoiadores e militantes na avenida Paulista para comemorar a vitória.

Reação de Bolsonaro. Até o momento, o atual presidente não discursou sobre o resultado das urnas. Não há informações se ele fará qualquer pronunciamento.

 

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