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Eduardo Leite consegue virada e é o 1º governador reeleito do RS, projeta Datafolha

Por FOLHA DE SÃO PAULO

Maurício Tonetto

Trilhando um caminho que incluiu uma renúncia, um tropeço no primeiro turno e mudanças de rota, Eduardo Leite (PSDB) se tornou o primeiro governador do Rio Grande do Sul a conquistar a reeleição, projeta o Datafolha.

Embora tenha chegado à reeleição, Leite o fez fora do cargo —renunciou ao governo em março para uma tentativa de concorrer à Presidência— e derrotou Onyx Lorenzoni (PL), que era apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e que tinha ficado à frente no primeiro turno.

O tucano repetiu assim o feito de Olívio Dutra (PT) há 24 anos, quando o petista ultrapassou Antônio Britto (MDB) no segundo turno.

Leite, no entanto, tinha uma desvantagem maior. No primeiro turno, Onyx havia obtido uma vantagem de 10,7 pontos percentuais, ou mais de 679 mil votos à frente de Leite.
A possibilidade de uma virada no Rio Grande do Sul foi sinalizada pelo Índice de Popularidade Digital (IPD), que mede o desempenho dos candidatos nas redes sociais.

A união dos eleitores gaúchos em torno de Leite se deu, em grande parte, para impedir que o bolsonarismo chegasse ao Palácio Piratini na figura de Onyx, ex-ministro de cinco pastas e um dos mais fiéis escudeiros de Bolsonaro.

O tucano por muito pouco não ficou fora do segundo turno mesmo com uma aliança robusta de partidos como MDB, PSD e União. Atrelando-se à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atacando Leite, Edegar Pretto (PT) conseguiu empolgar a esquerda e terminou a disputa a apenas 2.441 votos do candidato do PSDB.
Leite foi imediatamente pressionado pela militância de esquerda a aceitar uma troca de apoios entre PSDB e PT: ele apoiaria Lula à presidência e, em troca, receberia apoio de Pretto ao Piratini.

O tucano, no entanto, rejeitou a hipótese para preservar o eleitorado conservador, que repudiaria uma aliança formal com petistas. Leite descumpriu a promessa de anunciar apoio a um presidenciável e se manteve neutro na disputa, deixando que o voto petista viesse sozinho em sua direção.
Deu certo. Primeiramente, o PT anunciou posição contrária a Onyx e, na semana da eleição, fez uma indicação de “voto crítico” em Leite justificando como “compromisso primeiro” com a “defesa da democracia e o combate às candidaturas que representam o atraso bolsonarista”.

O mau resultado do primeiro turno também fez com que Leite mudasse a identidade visual e a estratégica da campanha. Trocou o amarelo e o azul do PSDB pelas cores do Rio Grande do Sul –verde, vermelho e amarelo–, adotou trilhas sonoras regionalistas, passou a vestir trajes típicos e a se apresentar como um defensor dos interesses do estado em oposição a Onyx, que buscou se atrelar a Bolsonaro.

Leite também abandonou a postura defensiva dos debates e trocou farpas com Onyx nos oito encontros entre os dois candidatos. Uso o termo “pipoqueiro” para definir o rival, por saltar de ministério em ministério ao longo do governo Bolsonaro, o que enfureceu Onyx, que pediu “respeito aos pipoqueiros”.

Ele também tentou enquadrar o rival por ter feito um acordo com a Procuradoria-Geral da República em 2020 que incluiu multa e admissão do uso de caixa 2.

Já o ex-ministro atacou Leite pela alta evasão e baixo desempenho dos estudantes de escolas estaduais, pelas dívidas do plano de saúde dos servidores, por ter “trancado os gaúchos em casa” durante a pandemia e pela adesão do estado ao regime de recuperação fiscal –o que significa começar a pagar anualmente uma parcela que começa em R$ 2 bilhões e limitar empréstimos e investimentos.

Um dos encontros, realizados na Rádio Gaúcha em 14 de outubro, foi tenso a ponto de Onyx recusar um aperto de mão ao tucano ao final do evento. O motivo da discórdia foi uma inserção de rádio em que Onyx dizia que, com ele, o Rio Grande do Sul teria “um governador e uma primeira-dama de verdade”.

A fala foi interpretada como uma insinuação homofóbica a Leite, gay assumido. Confrontado logo na primeira pergunta, Onyx acusou o rival de se vitimizar.

Outros dois debates tiveram cenas de repercussão nacional. No dia 25, ao criticar o regime de recuperação fiscal no debate da Rádio Guaíba, mas se recusar a apresentar uma alternativa por oito vezes consecutivas, Onyx se viu transformado em memes na internet.

No debate final da última quinta-feira (27), na RBS TV/Globo, o ex-ministro justificou que não tomou vacina contra a Covid-19 porque “a melhor vacina que existe é pegar a doença”, o que está cientificamente equivocado e gerou forte repercussão negativa em redes sociais.

Leite encerrou seu último programa eleitoral de TV exibindo a declaração do rival seguida de uma tela preta com os dizeres: “Nossa solidariedade às famílias que perderam seus entes queridos na pandemia, no Rio Grande e no Brasil”.

A eleição do tucano é um respiro de alívio ao PSDB, que encolheu no Congresso e estava no segundo turno também em Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Paraíba. Leite se dizia um opositor do mecanismo da reeleição e prometia não concorrer em 2022.

No ano passado, ele disputou as prévias presidenciais contra João Doria, então governador de São Paulo, um processo traumático que terminou com ambos renunciando aos seus cargos eletivos, mas nenhum se candidatando a presidente –o partido, por fim, decidiu apoiar Simone Tebet (MDB).

Leite, então, concorreu novamente ao Piratini e foi bem-sucedido, mesmo tachado pelos rivais como um político que não cumpre a palavra empenhada. Ele reassumirá o posto de governador aos 37 anos. Antes, foi vereador e prefeito de Pelotas entre 2013 e 2016.

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