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Empresário ligado a clube de tiros é suspeito de desviar armas de CACs para facções criminosas

Por G1

Fuzis, pistolas 9mm, toucas e outros objetos apreendidos pela PF. — Foto: Polícia Federal

Um empresário ligado a um clube de tiros com sede em Campo Grande é suspeito de desviar armas de possíveis Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) para facções criminosas, de acordo com a Polícia Federal (PF). A operação chegou ao empreendimento, chamado Golden Boar, após Narciso Chamorro ser preso com um arsenal no porta-malas de um veículo, em 4 de outubro. O clube e o empresário, Rodrigo Donovan, negam envolvimentos no caso.

Segundo o inquérito da PF ao qual o g1 teve acesso, a suspeita é de que as armas de CACs seriam desviadas para as organizações criminosas “dedicadas à prática de crimes violentos, como roubos a comércios, bancos e até tomada de cidades”.

Ao ser ouvido pela Polícia Federal, Narciso diz que a pessoa que o contratou para “guardar” o arsenal tem nome e sobrenome com as iniciais “RD”. Após citar as letras, o nome de Rodrigo Donovan foi citado por Narciso no interrogatório. Para a PF, o Donovan é suspeito de integrar o esquema de desvio de armas CACs para as facções. Em contato com a defesa de Rodrigo Donovan, o advogado Augusto Fontoura disse que houve um “equívoco de interpretação do depoimento de Narciso”, por parte da PF.

Conforme apurado pela PF, Narciso conseguiu obter a certidão de CAC com ajuda de Rodrigo Donovan. Além do apoio para emitir o documento, as investigações apontaram Narciso como “laranja” no esquema de desvio de armas para as organizações criminosas.

Em nota, a o clube de tiro comenta que o empreendimento tem como presidente Ellen Lima de Souza Andrade, esposa de Donovan.

“O Clube de Caça Golden Boar, por meio de sua Presidente, Ellen Lima de Souza de Andrade, diante das notícias veiculadas na mídia, vem a público esclarecer que não tem como associado, cliente ou parceiro a pessoa do Sr. Narciso Chamorro, investigado por suposta prática dos delitos de posse e porte de armas de fogo e munições de uso permitido e restrito pela Polícia Federal”. Leia o conteúdo na íntegra abaixo.

Investigação e interrogatório

Armamento apreendido pela Polícia Federal. — Foto: Reprodução

Armamento apreendido pela Polícia Federal. — Foto: Reprodução

À PF, no fim do interrogatório, Narciso justifica e afirma que “RD” e Rodrigo Donovan não são as mesmas pessoas.

No entanto, conforme investigação da PF, além das iniciais dos suspeitos serem as mesmas, Rodrigo Donovan possui “longa ficha criminal”. Para a apuração do caso, Rodrigo teria envolvimento com a organização criminosa “que atua em roubo/furto a banco, dentre outras atividades criminosas”.

Além da suspeita de participação atuante no esquema, a Polícia Federal aponta que Rodrigo Donovan utiliza parentes como “laranjas” para compra de armas de grosso calibre. “Pelo que se desenha até o momento, a pessoa quem de fato administra [Rodrigo Donovan] e é responsável pelo comércio de armas/munições que transitam, apesar de estar usando nomes de familiares e terceiros prováveis testa de ferro”, detalha o processo.

O advogado de Donovan, Augusto Fontoura, confirmou que Narciso prestou serviço para o cliente e por isso “teria citado ele como patrão”. “É um equivoco de interpretação do depoimento de Narciso. Rodrigo não tem antecedente e foi absolvido em um inquérito passado. Ele não tem nenhuma condenação. Respondeu o processo, mas foi absolvido”, finalizou o advogado.

Sobre a participação de familiares de Rodrigo Donovan como “laranjas”, o advogado fala que a acusação não procede. “Todas as armas adquiriras por parentes de Rodrigo a estes pertencem, não possuem qualquer relação com o acusado. Por sua vez, Rodrigo trabalha na loja da família que vende armas e munições totalmente legalizadas, para pessoas físicas que possuem idoneidade e aptidão física e técnica atestada pelo Exército e Polícia Federal, órgãos estatais que fiscalizam e autorizam a compra de armamento de fogo”, detalha Augusto Fontoura.

Estopim

As investigações da operação Oplá, iniciada no mês de outubro, acarretaram na prisão de Narciso Chamorro, portador de autorização de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador), no dia 4 de outubro, em Campo Grande.

Narciso foi preso com quatro fuzis calibre 7.62, três pistolas 9 mm de fabricação americana com “kit rajada”, coletes balísticos com identificações falsas da Polícia Civil, balaclavas e várias munições.

As armas eram roubadas e estavam no porta-malas do carro que o suspeito dirigia quando foi parado pelos policiais. Para a polícia, o homem confessou que receberia R$ 2 mil para guardar e transportar os armamentos e que já era a segunda vez que fazia isso.

Nota do clube de tiro

“Nota de esclarecimento do Clube de Caça Golden Boar. O Clube de Caça Golden Boar, por meio de sua Presidente, Ellen Lima de Souza de Andrade, diante das notícias veiculadas na mídia, vem a público esclarecer que não tem como associado, cliente ou parceiro a pessoa do Sr. Narciso Chamorro, investigado por suposta prática dos delitos de posse e porte de armas de fogo e munições de uso permitido e restrito pela Polícia Federal. Informa, ainda, que jamais negociou ou vendeu armas de fogo ou munições para aludida pessoa. Por seu turno, o único vínculo havido entre o clube e o Sr. Narciso foi de prestação de serviços de construção civil, de modo que o uso indevido ou a associação do nome Clube em suas práticas supostamente criminosas serão oportunamente esclarecidas pela Justiça, em quem o Clube deposita sua absoluta confiança. Na oportunidade, reiteramos que o Clube de Caça Golden Boar, juntamente com seus mais de 1.200 associados, sempre trilhou o caminho da mais absoluta legalidade e idoneidade em suas práticas, estando à disposição da Justiça para que todos os fatos sejam descortinados e a verdade venha à tona, responsabilizando-se àqueles que adotam práticas espúrias e ilegais sob o aparente manto da legalidade”, diz a nota.

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