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Pimenta no Reino: o que os números revelam sobre as eleições no Acre

Por THIAGO CABRAL, PARA O CONTILNET

Foto: Reprodução

Números

Passados dois dias do 1° turno das eleições gerais, decidi me debruçar sobre alguns números que julgo interessantes para o leitor. Entre somas, subtrações e análises, cheguei a algumas hipóteses que aponto a seguir.

Bolsonaro

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) continua sendo quase que uma unanimidade no Acre. Teve uma votação estrondosa, assim como em 2018, e viu seus aliados levarem praticamente tudo aqui no estado: Governo, Senado, 100% das vagas na Câmara Federal e a maioria das cadeiras da Aleac.

Voto ideológico

Um movimento que os números da eleição majoritária no Acre mostraram é o voto ideológico. Diferente do voto casado, em que o eleitor vota em candidatos da mesma chapa, no voto ideológico o eleitor vota em candidatos do mesmo campo. E os dados mostram isso.

Direita

O voto do eleitor acreano na direita e na extrema-direita foi concentrado sobretudo em Bolsonaro, que levou 275.582 votos. Também na direita, Soraya Thronicke recebeu 2.444 votos, e pela centro-direita, Simone Tebet teve 20.122 votos. Na soma, 298.148 votos. Os outros candidatos desse mesmo espectro ideológico receberam pouquíssimos votos, por isso não entraram na contabilidade.

Esquerda

Pela esquerda e centro-esquerda, os candidatos mais relevantes foram Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT), que receberam 129.022 e 12.314 votos, respectivamente. Na soma, 141.336 votos dos acreanos.

Governo com Bolsonaro

Quando fazemos o comparativo entre os votos para Governo e Presidência, vemos claramente a tendência do voto ideológico. Candidatos mais alinhados ao bolsonarismo, Gladson Cameli (PP), Mara Rocha (MDB) e Marcio Bittar (UB) tiveram 242.100, 47.173 e 4.773 votos, respectivamente. Na soma, 294.046 votos. Um quantitativo muito próximo do que o presidente recebeu, cerca de 275 mil votos, e quase igual a soma dos votos dos candidatos mais competitivos da direita – Bolsonaro, Tebet e Soraya-, que juntos receberam mais de 298 mil ‘confirma’. 

Governo com Lula

Já pelo outro lado do espectro político, na esquerda Lula (PT) ganhou 129.022 votos dos acreanos, e na centro-esquerda Ciro Gomes (PDT) ganhou 12.314 votos. Os candidatos ao Governo do Acre alinhados ideologicamente a Lula, Jorge Viana (PT) e Nilson Euclides (Psol), receberam 103.265 e 1.125 votos respectivamente, o que na soma representa 104.390 votos. Aqui, percebemos um furo de 24.632 votos só com relação aos votos de Lula. Se somarmos com os de Ciro, esse número salta para 36.946 votos. Onde foram parar esses votos?

Petecão

Na ponta do lápis, é possível entender também de onde vieram os votos de Petecão (PSD). O senador licenciado, que neste ano disputou o Governo, recebeu 27.393 votos e amargou um 4° lugar na disputa pelo Palácio Rio Branco. Com um posicionamento mais ao centro, sem puxar sardinha nem para Lula e nem para Bolsonaro, os votos de Petecão são exatamente a sobra dos votos de Lula, cerca de 24 mil e a sobra dos votos da direita, cerca de 4 mil. Um ou outro voto de Ciro Gomes, também deve ter caído na conta de Petecão, assim como na conta de Gladson, Mara e Jorge Viana. Ou seja, a hipótese aqui é que o eleitor acreano enxerga Petecão mais para a esquerda, do que para a direita.

Senado

Na disputa pelo Senado, a situação do voto ideológico também se repetiu. Aliados a Bolsonaro e/ou candidatos por grupos de direita, Alan Rick (UB), Ney Amorim (Podemos), Márcia Bittar (PL) e Vanda Milani (Pros) tiverem 154.312, 73.567, 41.159 e 34.658 votos respectivamente. Se somados, os números chegam a 303.696 votos. Número muito próximo dos 298.148 votos que os candidatos à Presidência dessa campo ganharam e dos 294.046 votos dos candidatos ao Governo.

Senado 2

Pela esquerda, Jenilson Leite (PSB), Nazaré Araújo (PT) e Sanderson Moura (Psol) receberam 65.522, 39.555 e 2.763 votos respectivamente. Na soma, 107.840 votos. Quantidade de votos muito próxima da de Jorge Viana, que recebeu 103 mil votos, e 22 mil votos a menos do que Lula, que teve 129 mil. A hipótese aqui é que o eleitor não conseguiu identificar apenas um candidato ao Senado com Jorge Viana e dividiu o voto entre a candidata oficial, Nazaré Araújo, e entre Jenilson Leite, candidato pelo mesmo campo, mas sem aliança com JV. Jenilson, inclusive, teve 26 mil votos a mais que Nazaré, o que pode ser lido como uma possível preferência do eleitor de esquerda pela aliança que vinha sendo construída ao longo da campanha mas que no fim não se concretizou, entre PT e PSB.

Nulos e Brancos

Os votos nulos e brancos também ajudam a explicar os “furos” que dificultam algumas contas de fecharem. Enquanto para a presidência, o acreano votou 10.322 vezes nulos e 4.664 brancos, para o Governo os números aumentaram e muito: foram 21.077 nulos e 7.761 brancos. Para o Senado, a situação foi ainda mais grave, 26.622 nulos e 16.867 brancos. Isso pode indicar uma tendência de que cerca de 20 mil eleitores de Lula não votaram para senador e a maioria dos eleitores de Ciro Gomes fizeram o mesmo.

Leitura

Lembrando, essa análise é uma leitura baseada nos números, na conjuntura e em hipóteses, não representa a verdade absoluta dos fatos.

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