Pressionada pelo governo, Petrobras segura reajuste no preço dos combustíveis antes do 2º turno

Por pressão do governo Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras tem segurado os reajustes nos preços dos combustíveis às vésperas da eleição, mesmo com os valores nacionais abaixo do mercado internacional. Por conta dessa defasagem, há uma pressão interna dentro da empresa para aumentar os preços, o que só deve ocorrer após as eleições.

A estatal já vende gasolina nas refinarias abaixo do Preço de Paridade de Importação (PPI) há seis semanas e o diesel há quatro, de acordo com dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). O PPI é a política de preços da Petrobras, que aplica no mercado interno o preço do barril de petróleo e do dólar.

De acordo com relatório do CBIE desta quarta-feira, a gasolina da estatal está 17,35% ou R$ 0,691 por litro mais barata que os preços internacionais. O diesel segue 14,86% ou R$ 0,854 por litro abaixo do PPI. Na média da semana passada, a defasagem da gasolina ficou em 8,03% e, a do diesel, 13,55%.

Diante desses números, técnicos da estatal e parte da diretoria afirmam que já seria necessário reajustar os preços. O governo, porém, tem pressionado para evitar um aumento de preços antes do segundo turno das eleições, marcado para domingo.

O Conselho de Administração da empresa se reúne nesta quarta-feira, mas não deve haver nenhuma deliberação sobre o assunto nesta semana. Os conselheiros vão receber uma espécie de prestação de contas sobre a situação no mercado de derivados de petróleo, que segue marcado pela defasagem nos preços do diesel e da gasolina em relação às cotações no exterior.

Procurada, a empresa disse em nota que não recebe pressão de seus acionistas, nem do controlador, nem minoritários. “Por questões concorrenciais, não antecipamos decisões sobre manutenção ou reajuste de preços. O monitoramento das cotações é feito diariamente e a decisão de atualizar os preços é integralmente técnica”, diz o texto.

Petróleo acima de US$ 90 o barril

A pressão dentro da Petrobras para um reajuste aumentou desde que o petróleo voltou a subir no mercado externo. O governo tem atuado para barrar essa alta. Este mês os preços do barril no mercado externo ultrapassaram US$ 95 em 7 de outubro, depois de terem atingido US$ 82 em setembro. Nesta terça, o barril encerrou o dia cotado a US$ 92,61.

Sob a presidência de Caio Paes de Andrade, foram quatro reduções seguidas na gasolina e três no diesel até o início de setembro, quando os preços internacionais dos derivados mudaram. Andrade assumiu a Petrobras em junho, após a queda de três presidentes por conta do preço dos combustíveis — o executivo foi nomeado justamente com a “missão” de segurar os reajustes e reduzir os preços.

Entre julho e setembro, houve uma queda no preço do barril do petróleo, o que permitiu à estatal acelerar às reduções nos preços dos combustíveis, às vésperas do período eleitoral. Essa velocidade não é vista agora, quando o barril está custando mais.

O último corte da companhia no diesel ocorreu em 19 de setembro, quando o combustível passou a ser vendido a R$ 4,89 o litro, em média, nas refinarias. A gasolina está desde 1º de setembro sem alterações nos preços e, desde então, vem sendo vendida a R$ 3,28 o litro na refinaria.

Neste mês, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, afirmou que a atuação da estatal está dentro dos limites da sua política de preços, e reconheceu que a companhia reduziu preços em velocidade maior do que considera para elevar preço.

Como o GLOBO mostrou neste mês, a diretoria da Petrobras costumava citar o prazo de 15 dias como uma referência para incorporar, nos preços praticados no país, a volatilidade das cotações no exterior.

O argumento era de que variações diárias nem sempre seriam repassadas para os preços do Brasil, mas só depois que a cotação do petróleo se sustentasse num patamar superior — e o prazo para essa análise seria de duas semanas.

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