A Seleção Brasileira comandada por Tite e que entra em campo nesta quinta-feira (24) na estreia da Copa do Mundo do Catar contra a Sérvia, não terá ao menos a torcida de um brasileiro, o acreano Sérgio Ferreira Alves. Natural de Xapuri, interior do Acre, o autônomo Sérgio Ferreira Alves, conhecido entre os amigos como “Sérgio Cascão”, é um torcedor fanático do time da Argentina e no fundo espera a derrota do time de Tite para não correr o risco de lá na frente, na segunda fase do chamado mata-mata, de se encontrar com a Argentina de Leonel Messi e companhia portenha.
Aos 62 anos, “Sérgio Cascão” não sabe exatamente quando começou sua paixão pela Argentina, mas desconfia que foi logo quando percebeu que a Seleção Brasileira, além de um poço de vaidades de atletas venais, “não é séria”. Segundo ele, a diferença entre as seleções do Brasil e da Argentina é que, quando os portenhos perdem, como ocorreu agora nesta Copa em relação à Arábia Saudita, “a Argentina de fato perdeu”.
Esse tipo de derrota, para Sérgio, é bem diferente do que ocorre com a Seleção Brasileira, “que perde para a Guatemala, para a Bolívia e outros times menores”. Perde, segundo ele, porque não é uma coisa séria.
“A Seleção Brasileira é um bando de vendidos para a Nike, que só joga onde quer a Nike, que a patrocina, determina, influindo até nos resultados e no rendimento dos jogadores. Por isso, deixei de torcer pelo Brasil”, disse. “Se um dia o selecionado do Brasil voltar a ser sério, eu posso mudar de opinião”, disse. Em caso de derrota dos “Hermanos portenhos”, como ocorreu agora em 2022, Sérgio Cascão não é perdoado pelos amigos. “A gozação vem, como está vindo por causa desta derrota. Mas só quero lembrar que, em 1990, a Argentina estreou a Copa perdendo”, lembrou.
De fato, naquele mundial, na Itália, ainda sob o comando do lendário Maradona, a Argentina chegou à Copa disputada como atual campeã e grande favorita ao título no já sonhado bicampeonato, mas foi surpreendida pela seleção de Camarões, que chocou o mundo ao fazer 1 a 0, com gol de Omam-Biyik. Algo parecido com os 2 a 1 para a Arábia Saudita agora.
Mas, naquela mesma Copa, a Argentina reabilitou-se, inclusive atropelando o Brasil com gol de Caniggia Foi num dia 24 de junho, quando, com aquele gol, a Argentina eliminou o Brasil. Aconteceu há 28 anos, no estádio Delle Alpi, em Turim, na Itália. Claudio Caniggia tornou-se o carrasco brasileiro em uma das derrotas mais doloridas da história da Seleção Brasileira, já nas oitavas de final.
O técnico Sebastião Lazaroni caiu em desgraça após a Copa. O curioso é que a melhor atuação da equipe foi justamente na partida de eliminação, naquele dia. Nem Brasil e nem Argentina tinham encantado até o encontro na fase eliminatória. Do lado argentino, o time de Carlos Bilardo avançou como um dos terceiros de seu grupo, após uma histórica estreia com derrota para Camarões. A Seleção Brasileira avançou vencendo Costa Rica, Suécia e Escócia, mas com atuações criticadas.
Nas oitavas de final, com a Argentina, o Brasil parecia ter despertado, com Muller e Careca dando muito trabalho aos marcadores argentinos. Dunga acertou a trave. Quase todas as chances do primeiro tempo foram da Seleção Brasileira, que voltou do intervalo outra vez em cima dos argentinos e acertando mais bolas na trave. Mas a história mudou a dez minutos do fim da partida.
Em campo, Maradona chamou o jogo para si. Driblou boa parte da defesa brasileira e tocou para Caniggia mandar a bola para a rede de Taffarel. O Brasil foi com tudo em busca da reação, mas o máximo que conseguiu foi criar uma ótima chance desperdiçada por Muller aos 45 minutos. Era o fim da linha daquela geração. Na Argentina a idolatria sobre Maradona só aumentou. A história só mudaria para muitos daqueles jogadores brasileiros na conquista do Tetra, na Copa do Mundo de 1994.
O Brasil foi a campo contra a Argentina na Copa da Itália com Taffarel, Ricardo Gomes, Ricardo Rocha e Mauro Galvão (Renato Gaúcho); Jorginho, Dunga, Alemão (Silas), Valdo e Branco; Careca e Muller. O time argentino seguiu até a final do Mundial e ficou com o vice após perder para a Alemanha.
Agora, em 2022, após derrota para a Arábia Saudita, a esperança para o torcedor argentino Sérgio Cascão é que os portenhos, com Messi fazendo às vezes de Maradona em campo, se reabilitem e empurrem o time à final. Mesmo que seja contra o Brasil. Mesmo que a final seja assim, Sérgio Cascão ainda ficaria com os argentinos e está na torcida para que a seleção portenha repita 1990. O brasileiro torcedor dos argentinos deveria saber que Kal Marx, o velho comunista que decerto nada entendia de futebol, disse que a “história só se repete como tragédia”.