Lideranças petistas, porém, afirmam que seria mais provável que Marina fosse indicada para comandar a Autoridade Climática, instituição que irá coordenar a ação de vários ministérios na questão ambiental. A criação da autoridade foi uma das propostas apresentadas pela líder da Rede a Lula como condicionante para que ela declarasse apoio ao petista.
A decisão de Lula foi bem recebida por ambientalistas, que apontam para o bom cartão de visitas dos seus governos anteriores como um sinal de que as sinalizações do presidente eleito para a pauta ambiental não são palavras ao vento: entre 2004 e 2012, anos em que Lula e Dilma Rousseff estiveram no Palácio do Planalto, o desmate na Floresta Amazônica caiu 80%. Nos três primeiros anos de Bolsonaro, subiu 73%.
— O fato do Lula ir para a COP é uma demonstração da importância do tema climático para o governo petista e para retirar o Brasil da posição de pária — disse ao GLOBO Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade. — Além disso, ele certamente deve pautar o tema de transição justa, de assegurar que os temas de clima e desenvolvimento caminhem colados uns aos outros (…). A ida dele para a COP também dá esse tom: o Brasil está de volta, o desmate vai acabar, mas trazendo junto o combate à pobreza.
Governo de transição x governo de saída
Se o governo de Jair Bolsonaro chegou às últimas duas COPs sem ter o que apresentar, a decisão de Lula deve ofuscar a participação do governo que termina. A atual equipe do Planalto planejava driblar seu passivo de desmate e de emissões recordes de gases-estufa para, também tirando proveito da crise energética provocada pela guerra na Ucrânia, promover o país como um expoente da energia limpa.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) planeja um megaestande em parceria com as Confederações Nacionais da Indústria e da Agricultura, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e o Sebrae. A instalação ficará bem em frente ao espaço dos governadores na Zona Azul — a área onde ocorrem as negociações entre os países — e perto do lugar onde ficarão as organizações da sociedade civil.
— Ninguém vai prestar atenção nos representantes oficiais do governo do Brasil — disse o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas globais em Amazônia. — Talvez só alguns queiram ir lá para perguntar como a bancada do novo Congresso, com muitos defensores do governo atual, vai se manifestar em relação aos compromissos do Brasil com a mudança climática.
Para Nobre, os primeiros sinais dados por Lula em sua fala minutos após o Tribunal Supremo Eleitoral confirmar sua vitória foram positivos: o Brasil está “pronto para retomar seu protagonismo na luta contra a crise climática”, disse o presidente eleito, repetindo promessas de criação de um ministério para os povos originários e de desmate zero:
— É a primeira vez que um presidente diz que irá levar o desmatamento a zero. Não diminui-lo, mas zerá-lo. Isso vai criar uma nova economia na Amazônia de floresta em pé, vai proteger as comunidades locais e os povos indígenas, dar um protagonismo do combate à emergência climática — afirma o climatologista.